A TIM Brasil quer importar da matriz italiana e de países como a Coreia do Sul o monitoramento dos celulares de doentes de covid-19 e suspeitos de terem coronavírus. A ideia é que eles não circulem pelas ruas quebrando a recomendação médica da quarentena, e assim espalharem a doença. Como envolve o acesso aos números de celular das pessoas, a proposta infringe leis, como a de proteção de dados pessoais (LGPD), mas a operadora quer contornar esses empecilhos ao trabalhar “a quatro mãos” com o governo federal e as outras operadoras.

A iniciativa surgiu após a empresa passar a fornecer um acompanhamento da concentração e do deslocamento das pessoas para a prefeitura do Rio de Janeiro. O objetivo é permitir se as medidas de isolamento social da cidade estão funcionando.

Como funcionaria?

No Rio, o monitoramento seria uma reedição melhorada do que já ocorreu na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. A operadora analisa quantos clientes estão pendurados em antenas de celular. Com isso, mede a concentração em uma determinada região. Ao ver se uma linha de celular foi atendida por várias antenas, consegue verificar o nível de deslocamento das pessoas.

“O resultado é um tipo de “mapa de calor” das concentrações populares. O tempo todo a gente sabe onde aqueles aparelhos estão conectados. Aí eu posso ver que uma massa de aparelhos conectada a uma antena A foi para a B, depois para a C e por fim para a D”.

Diferentemente do que ocorreu nos eventos esportivos, o sistema fornecido desde a semana passada agora atualiza em tempo real. Isso pode ser comparado com outros períodos. “Tem sido útil para saber se as medidas de restrição estão surtindo efeito ou não. A gente consegue ver claramente uma mudança de perfil. De 6h até 20h, a gente via uma alta massa de mobilidade. Começava o dia com as pessoas nas áreas residenciais e, ao longo do dia, se deslocando para os bairros mais centrais. Depois das medidas de restrição, a gente vê que essa massa não se desloca e a concentração permanece naquelas áreas iniciais”, afirma Capdeville.

E a privacidade? Para quem ficou preocupado com privacidade, a TIM afirma que os dados usados para mostrar as concentrações são anonimizados. Ou seja, não identificam quem são as pessoas que permanecem em sua casa em Madureira, por exemplo, ou se dirigem do Leme para a Candelária. As informações são apenas dos clientes da TIM do Rio, que atende 20% dos consumidores móveis no DDD 21, da capital fluminense. Subsidiária da Telecom Itália, a TIM quer usar as experiências criadas para conter o coronavírus por lá no combate à doença aqui no Brasil. Como a Itália ultrapassou a China e virou o país mais afetado do mundo, medidas extremas de isolamento estão em prática. Uma delas é a aplicação de multas a quem sair de casa sem autorização. A outra é o monitoramento do celular de pessoas doentes.

Segundo Capdeville, outras empresas de telefonia já foram informadas do assunto. Agora, a ideia é fazer a proposta ao governo federal na próxima reunião do grupo de gestão de crise criado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) ainda esta semana. O recurso teria de contar com o apoio das outras teles, para que os clientes delas também fossem incluídos na ferramenta de monitoramento. Capdeville diz que “esse mecanismo não existe hoje”, mas “a tecnologia possibilita isso”.

“O que poderíamos disponibilizar para eles é o deslocamento, sem saber se aquela pessoa é ou não suspeita ou um caso confirmado [de covid-19]. Por meio de cruzamento de dados, que o Ministério da Saúde (MS) provavelmente já tem, fazer a interseção. Você consegue associar o indivíduo ao número de telefone. A partir daí, dá para ter uma comunicação de controle com aquele aparelho. Se houver acordo entre MS, MCTIC e usuário do serviço, a gente estaria com a tecnologia pronta para suportar esse tipo de solução”, explica.

Uma possibilidade, diz o executivo, seria enviar o resultado dos exames de possíveis infectados por SMS ou WhatsApp. Dessa forma, a autoridade de saúde coletaria o número de celular do paciente e as devidas autorizações para que a comunicação e o monitoramento fossem feitos. “O que estamos ponderando é, se isso for atrelado ao número de uma linha, você consegue saber não somente que essa pessoa está na cidade de São Paulo, mas que ela está de fato no bairro tal, na rua tal, no endereço tal. Ali tem de ser acompanhado, porque pode ser um foco de contaminação.”

LGPD pode impedir ideia

O executivo entende que a ferramenta esbarraria em leis que asseguram a privacidade dos consumidores. “Por lei, nós somos proibidos de identificar qualquer tipo de perfil e associá-lo a uma pessoa. Hoje nós não fazemos e não podemos. Essa é uma informação do usuário. A própria LGPD e a questão do sigilo impede que a gente identifique o usuário de forma individual.”

Ele defende que países que controlaram a disseminação de coronavírus empregaram técnicas parecidas. “Você olha o caso da Coreia do Sul. Eles foram extremamente eficazes, mas também agressivos naquilo que pode ser referenciado como a privacidade individual.” O executivo espera que o obstáculo seja contornado com diálogo com o governo e as demais operadoras. “Temos que pensar junto com o MS e outros órgãos do governo sobre como é que fica essa fronteira, aonde você vai e onde você não vai. Não é uma conversa simples, é uma conversa que tem de ser feita com racionalidade para não se ferir nenhum tipo de direito.”

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Fonte: UOL

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