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Por Fernando Schiavini

Finalmente, após mais de uma semana, consegui chorar a morte de Bruno e Dom. Um choro solitário, inesperado, compulsivo, que veio do mais profundo do meu peito.

Chorei não somente por eles que, infelizmente, não os conheci pessoalmente. Chorei por todos nós, habitantes deste planeta maravilhoso, que não sabemos preservar. Chorei pelos povos indígenas, esses incompreendidos, exatamente porque sabem preservá-lo. Chorei pelas milhões de árvores e animais que serão perseguidos e mortos, por não contarem mais com Bruno e Dom para defendê-los. Chorei por viver em um país abençoado pela natureza, mas povoado por uma elite podre, aliada a políticos e governantes insanos, bandidos e gananciosos, que sugam, desde sempre, tudo o que podem desses povos e desta terra. Chorei pela impotência que sinto, por não conseguir convencer as pessoas que sem a natureza não se vive, que somos todos uno e que precisamos uns dos outros para seguir vivendo.

Bruno, mais do que uma promessa, era uma realidade no indigenismo. Um indigenista como ele não aparece todos os dias nem se faz com pouco tempo de experiência. Mesmo sem conhece-lo, percebe-se que sua alma era aliada dos povos indígenas e comungava com os espíritos da floresta.

Neste momento, pela sua morte trágica, ele é o mais conhecido representante de uma “Escola de Heróis”, como definiu a antropóloga Denise Saldanha no título de sua tese de mestrado, na década de 1990, sobre os indigenistas forjados pela escola Rondoniana. Respeito pelos povos indígenas, coragem, dedicação, persistência, resistência, abdicação dos confortos urbanos, são suas marcas. Não nos atreveremos aqui a citar alguns, porque são milhares, a maioria desconhecidos, desde que Rondon iniciou a trajetória do indigenismo republicano, em 1910.

Bruno e Dom não foram os primeiros nem serão os últimos indigenistas/ambientalistas a serem eliminados por defenderem a natureza e os povos originários. Mas, outros, e outros, e outros virão, e seguirão suas pegadas, até que a terra esteja livre da “shawara”, essa febre demente por ouro e riquezas materiais que assola grande parte da humanidade, como revela o líder Davi Kopenawa, dos Yanomami.

Descansem em paz Bruno e Dom. Faremos o possível por merecer a luta de vocês, enquanto estivermos por aqui.

Fernando Schiavini – Indigenista por 40 anos. Autor de diversos livros como o livro autobiográfico “De longe toda serra é azul – Memórias de Indigenista”