Por Jornalista Rubens Gonçalves
Descobrimos, decepcionados, que não somos o povo amável e pacífico que imaginávamos ser. Fatos recentes da história brasileira (eleições presidenciais de 2014, impeachment, operação lava-jato, prisão de Lula, migração de venezuelanos, atentado contra Bolsonaro) revelam o que de certa forma todos já sabíamos: somos violentos, intolerantes, autoritários, misóginos, racistas e homofóbicos.
Sim. Somos violentos. Basta ver o número de mortes no trânsito, decorrentes da intolerância, da certeza da impunidade e da “terceirização” da culpa. Mas a violência mais preocupante é simbólica: comentários preconceituosos, fofocas e fake news nas redes sociais.
Especialistas no assunto dizem que essa forma de ódio decorre do fato de as novas formas de comunicação tenderem à eliminação da separação entre o público e o privado, fundindo o subjetivo e o público, o pessoal e o coletivo, e valorizando mensagens nas quais prevalece o mal-estar, a denúncia infundada e a mentira.
Nesse sentido, a intolerância parece ter atingido seu ápice com a corrida eleitoral pela Presidência da República, como observa o jornalista e professor Eugênio Bucci. “De um lado, estão aqueles que se recusam a ver qualquer resquício de conduta criminosa nos governos do PT, os que dizem que todas as acusações e condenações não passam de calúnias urdidas por um complô reacionário. De outro, gritam os que consideram todos os petistas corruptos desde criancinhas e que entendem que vale tudo para afastá-los de qualquer cargo público.”
O resultado é a virulência diária nas redes sociais, sobretudo por meio da propagação das inaceitáveis fake news, que têm adeptos dos dois lados. “Para uns e para outros, a mentira é uma ferramenta válida em nome do “bem maior” que é varrer o inimigo do mapa eleitoral”, conclui Bucci.
Não bastasse isso, é crescente o número de mensagens produzidas e reproduzidas por robôs e agentes provocadores profissionais, que não se apresentam como tais, especializados em produzir “informações” distorcidas, que são apresentadas como tendo sido escritas por um “cidadão comum”.
“Estas mensagens são altamente eficazes, pois são elaboradas levando em consideração os preconceitos, afinidades e sensibilidades dos leitores”, observou o professor Bernardo Sorj.
Felizmente, há boas iniciativas de verificação de fatos – em nome do debate público –, como o Projeto Comprova, integrado por dezenas de redações independentes; Agência Lupa; Aos Fatos; Truco; UOL Confere, entre outras.
Espera-se, que desta forma, sejam enfrentadas as epidêmicas e nefastas notícias falsas, que, se não combatidas, podem interferir diretamente nas eleições deste ano no Brasil, como aconteceu com Donald Trump nos Estados Unidos em 2016, alçado à Casa Branca, em parte, por influência das notícias falsas.
*Rubens Gonçalves é jornalista atuante há mais de 10 anos no Tocantins
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