
Por Roberval Marco Rodrigues
Os políticos seguem batendo cabeça nas redes e nas ruas tentando entender o que se passa na mente do eleitor, mas em plena era da inteligência artificial, do neuromarketing e dos metadados, a verdade é que o eleitor se tornou indecifrável, não por ser mais complexo, mas porque os políticos continuam insistindo em medi-lo com régua velha.
O eleitor de 2026 não é mais aquele que escolhia candidatos por ideologia, carisma ou discurso. Hoje ele é moldado por algoritmos e reage emocionalmente a estímulos invisíveis, enquanto campanhas continuam apostando em jingles, santinhos e falas decoradas. E é justamente nessa desconexão que mora o fracasso das velhas estratégias políticas.
O cérebro do eleitor é emocional, não racional
Quem ainda acredita que o voto é uma decisão lógica está perdendo a disputa antes mesmo da campanha começar. Estudos recentes de neurociência política mostram que até 95% das decisões de voto são tomadas de forma inconsciente. O eleitor sente primeiro, pensa depois.
Ao ouvir um discurso, ver uma foto de campanha ou assistir a um vídeo, o cérebro reage a gatilhos emocionais instantâneos, como medo, pertencimento, esperança e indignação, muito antes de processar qualquer argumento racional. Ou seja, não é o plano de governo que convence, mas a emoção que ele desperta.
Enquanto candidatos tradicionais falam para o raciocínio, os vencedores de 2026 falarão direto com o sistema nervoso do eleitor. Bem-vindo à era do neuromarketing político.
Dados são o novo “corpo a corpo”
O voto já não nasce no comício, mas no comportamento digital. Cada curtida, comentário e até o tempo que alguém passa olhando uma publicação são metadados valiosos, pistas sobre o que mobiliza o eleitor e o que o afasta.
Campanhas modernas cruzam esses rastros com inteligência artificial e criam mensagens sob medida, segmentadas por bairro, idade, emoção predominante e até humor do dia. É o chamado microtargeting político, uma abordagem que transforma o eleitor em um perfil emocional, não apenas demográfico.
Enquanto muitos candidatos ainda compram outdoor, outros já compram modelos preditivos capazes de prever o que você vai sentir quando o vir aparecer na tela.
A era do “político de estimação”
Os tempos em que o eleitor se declarava petista, tucano ou bolsonarista estão minguando. O novo comportamento é personalista e afetivo. As pessoas não se mobilizam mais por partidos, mas por identificações emocionais. O candidato vira uma referência simbólica, o “político de estimação”, com quem o eleitor se sente representado emocionalmente, mesmo sem saber explicar por quê.
Esse fenômeno é fruto do casamento entre psicologia, narrativa digital e algoritmos. No fim, vence quem cria sensação de conexão, e não apenas convencimento.
A política do inconsciente digital
As eleições de 2026 prometem ser o maior laboratório de manipulação emocional da história brasileira. Ferramentas de IA já permitem detectar mudanças de ânimo da população em tempo real e ajustar campanhas automaticamente.
No feed das redes, o eleitor verá versões diferentes de um mesmo candidato, moldadas por suas emoções detectadas online. A caixa de comentários, os memes e os vídeos curtos se transformarão em gatilhos precisos de engajamento biopsicológico.
E o mais provocador: não será o marqueteiro quem vai decidir essas táticas, será o algoritmo.
O desafio dos políticos: ouvir o que o eleitor não diz
A nova disputa eleitoral não é por quem fala melhor, mas por quem escuta melhor os sinais silenciosos do eleitor. Analisar metadados, interpretar microexpressões e entender como emoções moldam o voto deixará de ser luxo e se tornará sobrevivência política.
Enquanto muitos políticos ainda tentam “falar com o povo”, os estrategistas mais espertos já descobriram algo mais eficiente, falar com o cérebro do povo*
O futuro das campanhas políticas não será dos discursos vazios, nem dos dados frios ou das pesquisas fabricadas, mas daquelas que dominarem a “arte cruel” de influenciar emoções, o verdadeiro código oculto que os políticos presunçosos ainda se recusam a decifrar.
Soobre Roberval Marco Rodrigues:
Roberval Marco Rodrigues atua como estrategista político com sólida experiência em gestão pública estadual e municipal, especializado em planejamento, articulação política e implementação de políticas públicas. Sua trajetória profissional abrange atuações estratégicas em diferentes esferas do poder executivo e legislativo, consolidando-o como referência em governança e desenvolvimento regional.