Profissionais da linha de frente em Araguaína relataram histórias e desabafos dos desafios de quem atua no combate à Covid.
Os relatos foram divulgados pelo Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT/Ebserh).
Conhecendo de perto
Formada pela Universidade de Gurupi (UNIRG), a enfermeira Tallyta Barros Ribeiro, contratada em 2017 pelo HDT-UFT/Ebserh, atualmente trabalha na linha de frente dos atendimentos de Covid-19, cuidando de pacientes internados com quadro moderado da doença. Tallyta é especialista em urgência e emergência pela PUC-GO e mestranda do curso de Ensino em Ciências e Saúde pela UFT. Em seu currículo, a enfermeira traz experiências profissionais relevantes: foi servidora concursada da Prefeitura Municipal de Araguaína, atuando no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por seis anos e trabalhou nas cidades de Gurupi, Palmas e Araguaína, no cargo efetivo de enfermeira, pela Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO), durante 10 anos, a maior parte do tempo em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No HDT-UFT, já exerceu cargo de gestão, à frente da Unidade de Gestão do Cuidado da Enfermagem.
Como a maior parte de sua carreira profissional trabalhou em atendimentos de urgência e emergência, a enfermeira conta que já vivenciou situações impactantes. “Das minhas experiências profissionais, a que mais me marcou foi uma situação que vivenciei em um atendimento de parada cardíaca. Na época, a viatura de suporte avançado foi acionada para dar assistência à equipe que já estava em atendimento. Fizemos as manobras por bastante tempo, mas infelizmente a vítima veio a óbito. Quando terminamos tudo, ao recolher os materiais, uma criança de aproximadamente sete anos me puxou pelo macacão e perguntou o que tinha acontecido com o pai dela.
Nesse momento, eu não sabia o que falar. Ela insistiu muito que eu dissesse o que tinha ocorrido, então eu me ajoelhei e expliquei que o pai dela foi morar com papai do céu. Em seguida ela me abraçou e me agradeceu por ter tentado salvar a vida do pai. Foi muito emocionante, eu não imaginava que a criança tivesse assistido toda cena. A reação dela e o reconhecimento singelo, em um momento tão difícil, me comoveu muito”.
Rotina de trabalho no HDT-UFT, após a pandemia
“Nossa rotina mudou completamente, tivemos que passar por vários treinamentos e muitas simulações de paramentação e desparamentação de EPIs para evitar o risco de contaminação. Houve uma adaptação na estrutura do hospital para receber os casos moderados de pacientes com Covid-19 e, assim que iniciamos os primeiros atendimentos, tudo era cercado de muito medo e incertezas. Tínhamos receio de nos contaminar. Com a pandemia, aumentou também o nível de gravidade dos pacientes, tivemos vários casos de intubações que não eram acontecimentos de rotina do hospital. Além disso, há a questão do isolamento social dos pacientes, com relação a seus familiares/acompanhantes. Por várias vezes, nos deparamos com pacientes que expressam queixas psicológicas de pânico, ansiedade, choro. E nessa hora, temos que dar um apoio psicológico, além de fazer nosso serviço habitual. Passar por todos esses desafios e superá-los é muito gratificante”.
Linha de frente – Situação marcante
“Dos atendimentos a pacientes de Covid-19 que realizei, houve um, em especial, que ficou registrado em minha memória: a equipe havia entrado na enfermaria para comunicar ao paciente que ele seria intubado. Nesse momento, ele ligou para a família e, com o celular no viva voz, disse para a esposa que seria intubado, mas que ia ficar tudo bem. A esposa, com a voz embargada de emoção, falou que ele ia sair dessa e que daria tudo certo. Todas essas situações são muito difíceis para equipe e sempre tentamos dar o nosso melhor. Graças a Deus, o paciente se recuperou e voltou para sua família.
Alta de paciente Covid-19
“Para nós é muito emocionante a alta de um paciente, nos encoraja a continuar nessa luta que, por vezes, nos impõe exaustão física, psicológica e a disciplina de distanciamento dos nossos familiares, cuja recompensa se traduz na gratidão e no semblante dos pacientes e familiares. O sentimento também é de gratidão a Deus, por nos usar como instrumento nas mãos dele para fazermos a diferença na vida de outras pessoas.”
Atuação da Rede Ebserh
Desde os primeiros anúncios sobre a Covid-19, a Rede Ebserh tem trabalhado em parceria direta com o Ministério da Saúde, com participação do Centro de Operações de Emergência (COE) do órgão e tendo como diretrizes monitorar a situação no país e em suas unidades, realizar treinamento de funcionários da Rede, promover webaulas, definir fluxos, montar câmaras técnicas de discussões com especialistas e atuar como hospitais referência em algumas regiões.