Por Germana Pires
Palmas, última capital planejada do Século XX, completou neste ano seus 30 anos. A mais jovem capital do Brasil sofre intensamente com os impactos da urbanização e das mudanças climáticas. Uma das capitais mais quentes do país, disputando com Cuiabá e Teresina, possui condições geográficas naturais que influenciam nas condições do clima local, que varia de aproximadamente 21º a 42º no decorrer do ano.
Mas que a capital é quente, todo mundo já sabe! Não precisa ser meteorologista para sentir o calor que aflige no cotidiano. O que nos leva a refletir sobre as formas de mitigar as altas temperaturas da cidade, tornando as condições climáticas mais amenas e os ambientes mais aconchegantes e saudáveis.
Vários fatores causaram o aumento da temperatura em Palmas. O primeiro deles ocorreu na implantação da cidade, quando a vegetação natural foi suprimida no início das obras. Durante a implantação dos loteamentos, o desmatamento continuou a avançar, o que causou a redução expressiva da cobertura vegetal do solo, condição acentuada pela posterior impermeabilização com pavimentos asfálticos, que consequentemente provocou o aumento da temperatura.
De acordo com estudos elaborados pelo arquiteto Hildebrando Paz (2010) em Palmas, observa-se uma variação de temperatura de até 8º ao se comparar duas áreas com 500 metros de distância entre elas, sendo uma não urbanizada, com a vegetação preservada e a outra urbanizada, com um baixo índice de vegetação, o que demonstra as ilhas de calor existentes na cidade em função da urbanização e do desmatamento. O Plano de Arborização Urbana de Palmas (2016), identificou um déficit de aproximadamente 280 mil árvores em áreas públicas (vias e praças urbanas). Uma cidade planejada, em uma região quente, em que os gestores não pensaram nos efeitos das mudanças climáticas e no conforto térmico de seus habitantes.
Para além da questão da arborização, outros diversos fatores influenciam no aumento da temperatura. Um dos mais estudados ultimamente tem sido a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), que absorvem a radiação solar e distribui o calor provocando o efeito estufa. Apesar de não provocar ainda muitas alterações no clima local, precisam ser observados e considerados, pois segundo o relatório Palmas Sustentável (2015), o maior “vilão” da emissão de gases poluentes são os veículos utilizados para o transporte. A falta de um transporte público eficiente, de ciclovias e calçadas acessíveis, seguras e sombreadas, acaba estimulando o uso dos automóveis como principal meio de transporte, causando o aumento da emissão de gases poluentes.
Outros fatores que influenciam na formação das ilhas de calor são as edificações. Fatores como ventilação, sombreamento, tipo de material utilizado, e até as cores das tintas empregadas podem influenciar no aumento da temperatura. Por exemplo: estudos identificam que uma superfície pintada com a cor preta pode absorver até 98% da radiação solar, enquanto uma pintada com a cor branca absorve cerca de 20%. O mesmo fator pode-se observar na pavimentação, os pavimentos permeáveis além de possibilitar a alimentação dos aquíferos subterrâneos e lençóis freáticos, absorvem menos calor do que o pavimento asfáltico.
Para mitigar o aumento da temperatura, precisa-se pensar em uma série de medidas. Vamos listar algumas que consideramos importantes para a mudança no planejamento e na gestão de Palmas:
A primeira medida a se considerar é a implementação do Plano de Arborização Urbana aliado a um plano de paisagismo sustentável, garantindo espaços arborizados e humanizados, com a possibilidade da utilização da água para a amenizar o microclima;
A implantação de um sistema de áreas verdes, com a implantação de parques urbanos garantindo a preservação das áreas ambientalmente protegidas, integradas com a comunidade, a partir de espaços de lazer e esporte conectados à natureza;
A utilização pavimentos permeáveis, evitando a impermeabilização do solo, mitigando o aumento da temperatura provocado pelos pavimentos não permeáveis, além de evitar alagamentos pelo grande volume das águas da chuva;
Investir em fontes limpas de energia também é uma medida eficiente, como o incentivo à energia solar, outra importante medida implantada, sob a participação da Fundação de Meio Ambiente, que a longo prazo possibilitará regular a emissões de gases poluentes;
Uma política eficiente de mobilidade e acessibilidade é fundamental. Precisa-se garantir um transporte público eficiente, o investimento em ciclovias e calçadas arborizadas de modo a melhorar o conforto térmico e a qualidade dos deslocamentos, visando a priorização do modal de transporte público, evitando a emissão de GEE do transporte individual;
Criar uma política de incentivos fiscais para edificações sustentáveis, que utilizem métodos e materiais construtivos que tenham menor impacto ambiental e menor emissão de calor, a utilização de jardins verticais, “paredes e telhados verdes”, formas de edificação que garantam a ventilação, além da manutenção de árvores no lote, buscando amenizar a temperatura local.
Germana Pires Coriolano é Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e doutoranda em planejamento urbano e regional pela FAU-USP.