O primeiro discurso da nova secretária municipal de Educação de Palmas, Débora Guedes, na Câmara de Vereadores, gerou reações intensas entre os profissionais da área e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Tocantins (Sintet). Durante sua fala, a secretária afirmou que “a educação de Palmas está ferida, ela está sangrando” e destacou a necessidade de “reestruturar e reorganizar” o sistema educacional.
O Sintet rebateu prontamente as declarações, alegando que a secretária apresentou um diagnóstico alarmista sem fornecer dados concretos que sustentassem sua visão. O sindicato destacou que Palmas é referência nacional em educação pública, citando índices como:
- Índice de Progresso Social (IPS Brasil): Palmas liderou o acesso ao conhecimento básico em 2024, com nota 79,11, superando grandes capitais como Curitiba e Belo Horizonte.
- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB): A cidade tem figurado entre as cinco melhores capitais brasileiras desde 2013, alcançando a média 6,0 nos anos finais do ensino fundamental em 2024, meta estipulada pela OCDE.
O sindicato enfatizou que a educação em Palmas é fruto de políticas de Estado consolidadas ao longo de décadas, contando com escolas de tempo integral, infraestrutura de ponta e profissionais qualificados.
Débora Guedes também defendeu uma “educação imparcial”, afirmando que o papel dos educadores é focar apenas em conteúdos acadêmicos. O Sintet questionou essa visão, considerando-a simplista e descolada da realidade da educação integral praticada em Palmas, que vai além da sala de aula e abrange a formação cultural, social e emocional dos alunos.
Outro ponto polêmico foi a fala da secretária sobre a inclusão de alunos especiais. Débora afirmou que esses estudantes serão prioridade, insinuando que estavam anteriormente esquecidos. O Sintet rebateu, destacando o trabalho do Centro de Educação Inclusiva (CEI), mantido há mais de sete anos, e de centenas de profissionais especializados que atuam na rede pública municipal.
“A falta de estrutura e pessoal geralmente são falhas na gestão, não dos profissionais que se dedicam a promover a inclusão com recursos limitados”, afirmou o sindicato.
O Sintet também expressou preocupação com a falta de menção à convocação de aprovados no concurso público da educação municipal, ressaltando que o déficit de servidores pode comprometer o início do ano letivo.
Apesar das críticas, o Sintet reafirmou sua disposição para o diálogo com a nova gestão. Em ofícios encaminhados ao prefeito Eduardo Siqueira Campos e à secretária Débora Guedes, o sindicato destacou a necessidade de colaboração mútua para superar os desafios da educação municipal e valorizar os trabalhadores da área.
“Palmas precisa de uma gestão que reconheça suas conquistas, invista em melhorias estruturais e promova uma educação pública de qualidade, baseada no respeito e na valorização dos profissionais”, concluiu a nota.
Leia a nota na íntegra
Resposta do SINTET ao Pronunciamento da Secretária Débora Guedes
Recentemente, a nova secretária municipal de educação de Palmas, Débora Guedes, proferiu um discurso na Câmara de Vereadores(as) que gerou preocupação entre os(as) profissionais da educação. Ao afirmar que “a educação de Palmas está ferida, ela está sangrando” e que irá trabalhar por uma “educação imparcial”, Sra. Débora pintou um quadro alarmista da situação educacional sem apresentar dados concretos que embasassem suas declarações.
Esta postura é inquietante, mas antes de abordar as críticas, é essencial contextualizar a educação em Palmas, dado que diversos estudos e índices colocam Palmas em posição de destaque na educação pública nacional. De acordo com o Índice de Progresso Social do Brasil (IPS BRASIL) de 2024, Palmas liderou entre todas as cidades brasileiras no componente “acesso ao conhecimento básico”, com uma nota de 79,11, superando outras grandes cidades como Goiânia, Curitiba e Belo Horizonte. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), Palmas consistentemente figura entre as cinco primeiras capitais desde 2013. Em 2024, a cidade ficou em segundo lugar nos anos finais do ensino fundamental, empatada com Curitiba e atrás apenas de Teresina. A média 6,0 é a meta estabelecida para países desenvolvidos conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A afirmação de que a educação precisa ser “reestruturada e reorganizada” parece desconsiderar a atual infraestrutura das escolas que compõem a rede. Em especial, destaca-se as consideradas de Tempo integral (ETIs), possuindo um currículo ampliado, onde podemos destacar os projetos de artes, danças, músicas, outrossim, a maioria climatizadas e equipadas com quadras poliesportivas, laboratórios, piscinas e auditórios.
Além disso, os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) são referências nacionais de atendimento na educação infantil, refletindo a alta demanda por vagas. É preciso maior compreensão do que se entende por “reestruturação” neste contexto.A fala da Secretária Débora, desprovida de dados, sugere um desprezo por estudos científicos e um apego ao senso comum, preocupante para quem assume a liderança de um setor tão importante. A educação em Palmas é sustentada há anos, não por políticas de governo, que podem ser descontinuadas, mas por políticas de Estado, apoiadas por sociedade civil, pesquisadores, poder legislativo e principalmente pela luta do SINTET junto aos trabalhadores. Esta estrutura educacional é um legado construído ao longo de décadas, consolidando-se como uma política de Estado, sendo referência no Brasil
Na generalização feita pela secretária ao afirmar que educadores devem focar apenas em conteúdos acadêmicos e se pautar por legislações nacionais e talvez até municipal, sem citar uma única lei, ela afirma que a educação deve ser “imparcial”, seguida da seguinte afirmação “na escola educadores têm o papel de ensinar assuntos acadêmicos”, reverberando em uma situação que ignora o papel que muitos(as) desempenham.
A afirmação levanta um debate importante. A educação, por sua própria natureza, é um campo que integra diversas perspectivas culturais e sociais. A tentativa de isolar o papel dos “educadores” pode resultar em uma visão reducionista da escola e vai de encontro à definição do que é ser um(a) educador(a), que vai além da simples transmissão de conteúdo acadêmico. Ou seja, a definição de educador(a) é muito mais ampla. Em um município que oferece educação em tempo integral, o papel dos(as) educadores(as) transcende o acadêmico, envolvendo toda a comunidade escolar. Desde vigias e merendeiras até agentes e técnicos administrativos, todos(as) contribuem significativamente para o ambiente educativo, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais rico e inclusivo.
Ainda que o foco da Secretária fosse apenas destacar o papel do(a) professor(a), haveria discordância da nossa parte na simplificação proposta, já que os(as) professores(as) são essenciais no processo educacional, não apenas por compartilhar conhecimento sistematizado, mas também por colaborar com os(as) alunos(as) na construção do aprendizado e mediar seus processos cognitivos. Como defendem muitos(as) teóricos(as) da educação, ensinar é uma troca constante de conhecimentos. Em uma escola, essa dinâmica é enriquecida pela diversidade de experiências e valores trazidos por professores(as) e alunos(as), cada um com suas próprias origens e modos de agir. A escola tem a responsabilidade de expandir o repertório dos(as) estudantes além, ou em conjunto com o que é oferecido pela família, apresentando novos valores e diferentes visões de mundo.
Além disso, a educação pública alcança muitos(as) alunos(as) que, muitas vezes, não possuem uma família estruturada, estando sob os cuidados do Estado. Assim, ao seguir um caminho plural e tolerante à diversidade, a escola se aproxima do ideal de uma sociedade democrática, onde os(as) alunos(as) se desenvolvem a partir de concepções oriundas dessas vivências educativas.
Portanto, é essencial que compreendamos melhor as ideias da nova secretária, considerando que essa percepção inicial não condiz com o programa de governo apresentado durante a campanha eleitoral aos(às) eleitores(as) palmenses pelo então candidato, e atual prefeito Eduardo Siqueira Campos. Durante a campanha, o prefeito participou de diversos debates com o sindicato e da sabatina com nossa categoria, sem mencionar essa “reestruturação”. Isso levanta a necessidade de um diálogo objetivo para alinhar as expectativas e garantir que as mudanças propostas realmente atendam às necessidades da educação municipal.
A secretária também criticou a inclusão na rede municipal, enfatizando que, a partir de agora, alunos(as) especiais serão prioridade e sugerindo que essas crianças estavam anteriormente esquecidas. Essa generalização do suposto problema, sem mencionar centenas de servidores(as) públicos(as) especializados(as) no atendimento a alunos(as) neurodivergentes e seus direitos, não reconhece o trabalho dedicado de muitos(as) profissionais(as) que promovem a inclusão com recursos limitados. Há mais de 07 anos a rede pública municipal de Palmas mantém o Centro de Educação Inclusiva-CEI. Ao que parece a senhora secretária desconhece, também, essa realidade. A falta de estrutura e pessoal geralmente são falhas na gestão, e não da incompetência dos(as) profissionais. Tal generalização é injusta e desmotivadora, desconsiderando o esforço contínuo desses(as) especialistas em criar um ambiente inclusivo para todos(as) os(as) alunos(as).Nossa preocupação com a fala da secretária é que ela pode injustamente colocar a sociedade contra os(as) profissionais que, no dia a dia, estão nas escolas enfrentando e suprindo as deficiências da gestão municipal. Esses(as) profissionais das Salas de Recursos e educadoras dedicam-se a oferecer uma educação de qualidade, mesmo com recursos limitados, e raramente recebem o devido reconhecimento. Além disso, em momento algum a secretária pontuou que trabalhará para convocar os(as) aprovados(as) do novo concurso, ação essencial para evitar o início do ano letivo com déficit de pessoal. É primordial que haja maior cuidado e respeito para com os(as) trabalhadores(as) em educação.
O SINTET entende que muitos pontos precisam mesmo ser “tratados” na educação municipal, principalmente livrar as unidades educacionais das abordagens oportunistas de alguns/algumas políticos(as) que, com uma visão utilitária, resultam em demissões sem motivos de servidores(as) contratados(as) e déficits de servidores(as) por falta de concursos. Além disso, o assédio moral no ambiente institucional tem adoecido muitos(as) profissionais. Precisamos de cuidados, não de novos ataques ou adjetivações infundadas.
Portanto, é essencial que a liderança da Secretaria de Educação se baseie em dados objetivos e reconheça os esforços e conquistas dos(as) educadores(as). O SINTET Regional de Palmas sempre se manteve atento e aberto ao diálogo, por isso, encaminhou ofícios ao prefeito e à secretária, esperando estabelecer uma relação institucional e um diálogo harmonioso para promover e aprimorar a qualidade da educação pública em Palmas. As palavras têm poder e devem ser escolhidas com cuidado, pois a educação é uma responsabilidade compartilhada que exige respeito e colaboração entre todos(as) os(as) envolvidos(as).