A cidade de Palmas, capital do Tocantins, foi planejada e fundada em 1989, sendo frequentemente citada como um exemplo de urbanismo moderno graças ao seu design urbano em malha ortogonal. No entanto, um estudo recente apresentado durante o XIX Encontro Nacional da ANPUR lançou luz sobre os desafios que a cidade enfrenta em termos de mobilidade, integração e segregação socioespacial, revelando uma realidade mais complexa do que o imaginado para uma cidade planejada.

 

De acordo com a pesquisadora Carlla Pourre, Palmas, apesar de ter sido minuciosamente planejada, enfrenta problemas semelhantes aos de grandes centros urbanos não planejados. “A estrutura viária da cidade, com sua malha ortogonal, deveria facilitar a circulação e a integração entre as diferentes áreas, mas o efeito real foi o contrário”, explica Pourre. Ela destaca que a falta de conectividade entre os eixos viários acaba isolando zonas periféricas, dificultando tanto o deslocamento quanto o acesso a serviços essenciais, prejudicando diretamente a mobilidade urbana.

 

A questão da segregação espacial também é um ponto crítico levantado pela pesquisadora. Zonas como Taquaralto e os Jardins Aureny, que abrigam grande parte da população de menor renda, estão afastadas do centro urbano e sofrem com a carência de infraestrutura adequada. Para Pourre, essa segregação reflete políticas urbanísticas que favoreceram um crescimento desordenado, agravado pela especulação imobiliária. Esse padrão, infelizmente, é comum em muitas cidades brasileiras, onde as populações mais vulneráveis são empurradas para as periferias, sem o suporte necessário de serviços públicos.

 

Outro desafio apontado é a ausência de um núcleo central consolidado que integre eficazmente as diferentes regiões da cidade. A Avenida Teotônio Segurado, um dos principais eixos viários de Palmas, deveria desempenhar o papel de artéria integradora, mas, na prática, falha em promover a coesão necessária. A fragmentação urbana, marcada por grandes vazios e áreas pouco habitadas, compromete a integração entre as áreas planejadas e as regiões de expansão, afetando a qualidade de vida dos moradores.

 

Pourre conclui que, para que Palmas cumpra seu potencial como uma cidade planejada, será necessário revisar o plano urbanístico inicial. Ela sugere que novas políticas públicas sejam implementadas, focando em aumentar a conectividade entre as áreas, combater a segregação socioespacial e melhorar a mobilidade. Sem essas mudanças, o projeto original da cidade corre o risco de continuar perpetuando desigualdades e limitando o crescimento integrado de suas diferentes regiões.

 

A realidade de Palmas, 35 anos após sua fundação, mostra que ser uma cidade planejada não é garantia de eficiência urbana. O estudo de Carlla Pourre destaca a necessidade de uma visão crítica sobre o planejamento urbano no Brasil, especialmente em cidades planejadas, que, apesar das intenções iniciais, enfrentam os mesmos desafios de grandes metrópoles desordenadas. Palmas ainda tem um longo caminho a percorrer para resolver esses problemas, e o sucesso dessa empreitada dependerá de uma abordagem urbana mais integrada e inclusiva.

 

Fonte dos dados: Desempenho Urbano em uma Cidade Planejada: Uma Leitura pela Sintaxe Espacial.

 

Carlla Brito Furlan Pourre – Mestra e Doutoranda em Planejamento Urbano pela Unb – Universidade de Brasília.