O Papa Francisco publicou hoje a “Querida Amazônia,” sua resposta ao sínodo dos bispos sobre a Amazônia. Nela, o Papa Francisco endossa fortemente o papel dos povos indígenas como guardiões da criação. Ele diz que “Às operações económicas, nacionais ou internacionais, que danificam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos nativos … há que rotulá-las com o nome devido: injustiça e crime.”
O endosso do pontífice ao papel dos povos indígenas tem ressonância especial, pois vem logo após o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, propor que as áreas indígenas sejam abertas à exploração de mineração, petróleo e agricultura, entre outras indústrias extrativas. A proposta do presidente Bolsonaro foi recebida com forte resistência por grupos indígenas.
Retomando o tema do seu pontificado e do sínodo da Amazônia, o Papa Francisco diz que “Os indígenas, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuidam.”
Falando diretamente aos povos indígenas, o Papa Francisco diz, “Aos membros dos povos nativos, agradeço e digo novamente que … Vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum.”
O sínodo dos bispos para a região pan-amazônica ocorreu em outubro de 2019 em Roma. Durante o evento de quase um mês, bispos e outros líderes de todo o mundo discutiram os dons e os desafios da Amazônia, considerando tanto sua situação única quanto a maneira como ela reflete questões culturais maiores. Na conclusão do sínodo, os padres sinodais emitiram uma declaração final.
A declaração do Papa Francisco, oficialmente chamada de exortação apostólica, é sua resposta aos padres sinodais. Em sua declaração, o Papa Francisco diz que “A Igreja, com a sua longa experiência espiritual … deseja, por sua vez, prestar a sua contribuição para o cuidado e o crescimento da Amazônia.”
Esta visão não se limita ao Papa Francisco. Uma pesquisa feita com católicos, realizada às vésperas do sínodo, revelou que 85% dos brasileiros católicos vêem a destruição da Amazônia como um pecado. A grande maioria dos católicos do Brasil apoia firmemente o sínodo dos bispos e os esforços do papa para proteger a Amazônia.
Nos meses antecedentes ao sínodo, a administração do presidente Bolsonaro tentou retratar divisões entre a Igreja em Roma e os fiéis no Brasil, e admitiu monitorar as comunicações dos bispos católicos no Brasil.
A ecologia tem sido uma pedra angular do papado do papa Francisco. 2020 marca o aniversário de cinco anos de sua encíclica Laudato Si’, que se concentra na ecologia e nas mudanças climáticas. A encíclica tem sido amplamente creditada com a síntese de décadas de ensino da Igreja sobre o meio ambiente no contexto de uma grave crise planetária. O sínodo da Amazônia foi visto como a primeira aplicação prática da “ecologia integral”, um conceito-chave da encíclica, para um determinado local.
Segundo Dom Roque Paloschi, presidente da CIMI, Conselho Indigenista Missionário da Conferência Episcopal do Brasil, e membro especial do conselho do sínodo dos bispos para a região pan-amazônica, “a Exortação é uma palavra de ânimo, um caminho, e não uma resposta final.” Ele ainda disse, “É imperativo que a Igreja tenha uma voz profética e o compromisso incondicional na defesa dos mais pobres e vulneráveis. A Amazônia é ameaçada em sua integridade física, cultural, territorial, sobretudo os povos indígenas isolados, os mais vulneráveis por grandes grupos econômicos, ações do crime organizado e a omissão do estado.”
Tomás Insua, Diretor Executivo do Movimento Católico Global pelo Clima, disse, “Como católicos, cremos que a vida abundante na Amazônia é um dom, e que os povos indígenas que a protegem merecem nosso maior respeito. A crise ambiental cresce a cada dia. Precisamos desenvolver com urgência as soluções para esta crise, e não acelerá-la ainda mais. Nós, católicos, estamos de todo o coração com o Papa Francisco e com nossos irmãos e irmãs indígenas.”