Óleo quente que espirra na mão, água fervendo que cai sobre o corpo, forma pelando que encosta no braço. Ao lidar com fontes de calor, como o fogo, qualquer contato, por menor que seja, pode provocar uma dolorosa queimadura e, quando isso acontece, tem muita gente que corre para o banheiro para pegar o que acredita ser o “remédio” ideal: a pasta de dente.
Pois a partir de agora é melhor repensar essa ação. Num primeiro momento, o contato do produto com a lesão pode até aliviar e refrescar, devido a presença de substâncias mentoladas e flúor, porém há um enorme risco de causar inflamação, alergia e, pior, infecção. O mesmo vale para manteiga, café, clara de ovo e qualquer outra solução caseira.
A explicação é que, ao ser queimada, a pele perde a sua camada protetora e fica fragilizada, sensível, o que facilita a entrada de microrganismos nocivos e, ao passar sobre ela algo não estéril, abrasivo e não próprio para a situação, a chance de contaminação aumenta.
Como agir então?
O primeiro passo é justamente não colocar nenhum produto sobre ela, apenas água (muita água!), da torneira ou do chuveiro mesmo, a fim de diminuir a temperatura no local. Para que o líquido fique mais fresco, uma dica é acrescentar gelo, só que nem pense em passá-lo diretamente, já que ele sozinho pode queimar ainda mais a pele e agravar o quadro.
Compressas úmidas e frias, mas desde que feitas com um pano limpo, também são indicadas. Outras recomendações incluem não tocar na lesão, não tentar descolar tecidos grudados na pele queimada, não furar bolhas, caso elas surjam, não aplicar pomadas anestésicas sem prescrição e não se expor ao sol.
Quanto à ida ou não ao pronto-socorro, isso vai depender da gravidade. A queimadura de 1⁰ grau é a mais superficial e atinge apenas a epiderme, causando vermelhidão, dor, ardência e, às vezes, inchaço. Não costuma deixar marcas e, no geral, só os cuidados em casa resolvem.
No entanto, se ocorrer em grandes áreas, locais muito sensíveis (olhos, genitálias, mão e pés, por exemplo) e se as vítimas forem crianças e idosos, aí é sempre é indicado buscar ajuda especializada.
A de 2⁰ grau, por sua vez, acomete a derme, a camada mais profunda da pele, podendo danificá-la totalmente. Junto com vermelhidão, dor e inchaço, forma bolhas e manchas e é normal que fiquem cicatrizes. Nestes casos, a avaliação médica é sempre necessária.
Por fim, a de 3⁰ grau envolve a derme por completo, por vezes chegando aos músculos e ossos. Como destrói os nervos, apresenta pouca ou nenhuma dor, e deixa a pele branca ou carbonizada. É a mais preocupante e exige atendimento hospitalar, pois deixa sérias sequelas e pode levar à morte.
Vale destacar que, além das queimaduras por fontes de calor, como fogo, líquidos ferventes, vapores, objetos quentes e excesso de exposição ao sol, há as químicas, causadas por substância química em contato com a pele ou mesmo através das roupas, as por eletricidade, provocadas por descargas elétricas, e as de contato com animais (como o besouro potó) e plantas (urtiga).
Tratamento adequado
O tratamento varia de acordo com o tipo de queimadura, e deve ser prescrito pelo médico. Nas mais leves, recomenda-se manter a lesão limpa e, em alguns casos, utilizar analgésico, medicamentos tópicos, como cremes e pomadas calmantes e cicatrizantes, hidratantes e óleos vegetais ou vaselina —as feridas tendem a cicatrizar melhor quando estão hidratadas. Também pode ser necessário tomar um antibiótico via oral.
Quando há formação de bolhas, elas devem ser drenadas, mas não estouradas, e este procedimento tem de ser realizado por um profissional.
Agora, em relação às mais graves, é preciso fazer a limpeza (desbridamento) em ambiente hospitalar, para retirar os tecidos necrosados da área afetada e, muitas vezes, cirurgias com enxerto, nas quais recobre-se a lesão com pele saudável, retirada de outra parte do corpo.
Uma técnica mais recente, mas que tem sido bem utilizada e com bons resultados em alguns centros de queimados do país, é colocar pele de tilápia sobre a lesão. Ela age como um curativo para as queimaduras de 2⁰ e 3⁰ graus, acelerando o processo de cicatrização e diminuindo a dor.
Cuidar com rapidez e da maneira certa desses ferimentos, em especial os mais profundos, é fundamental para combater suas complicações, como danos aos sistemas respiratório, imunológico, cardiovascular e renal e, sobretudo infecção (local ou generalizada), bem como minimizar as marcas e as dores e evitar a retração cutânea, que dificulta a amplitude de movimentos.
Fontes: Carlos Alberto Mattar, especialista em queimaduras no HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual) de São Paulo; Ivanilson Raniéri, responsável técnico do CTQ (Centro de Tratamento de Queimados) do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência de Ananindeua (PA); e Samuel Mandelbaum, médico dermatologista da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e professor de dermatologia da Faculdade de Medicina da Unitau (Universidade de Taubaté) e da Santa Casa de São José dos Campos (SP).