Foto: Hermes de Paula
No mundo pré-pandêmico, o professor universitário Roberto Francisco de Abreu, de 56 anos, não economizava. Todos os dias havia um motivo para encontrar amigos e não necessariamente se preocupar com a conta no final da noite. A rotina se mantinha ainda que, ao fim de cada mês, algumas contas ficassem no vermelho. Em março, tudo mudou. As aulas minguaram, o salário caiu e a pandemia tirou a leveza despreocupada de seus dias.
“Fiquei assustado, e ainda estou, porque não tinha uma reserva. É uma cultura do brasileiro acreditar que o amanhã vai ser melhor. E, quando fomos impactados por uma coisa dessas, percebemos que o amanhã é incerto”, contou.
O comportamento mais parcimonioso com os gastos, com foco em economizar, ganhou força entre os brasileiros durante a pandemia. Uma pesquisa conduzida pela agência de publicidade DPZ&T com 2 mil pessoas, em três etapas, entre os meses de junho e setembro, mostra o início de uma transformação. Segundo os dados, obtidos com exclusividade por ÉPOCA, o comportamento despreocupado deu lugar à cautela e à intenção de planejar o futuro.
Apenas um de cada cinco entrevistados acreditam que a economia e o emprego se recuperaria. Os que concordavam que “estamos saindo dessa” são só três em cada dez. “As pessoas estão mais ligadas no final da pandemia, mas o futuro é uma incógnita”, afirmou Fernando Diniz, sócio da DPZ&T.
O consumo nos últimos meses foi sustentado por um balão de oxigênio. Como medida para mitigar os efeitos da crise, 67 milhões de pessoas receberam um auxílio emergencial do governo, que custou aos cofres públicos R$ 174 bilhões, o que representa cinco vezes o gasto anual do Bolsa Família em apenas cinco meses. Não fosse essa medida, projeta-se que o sentimento de descrença em relação à economia impactaria mais os indicadores.
O economista Eduardo Giannetti explicou que muitos daqueles que hoje ainda recebem o auxílio deixaram de engordar as fileiras do desemprego durante o recebimento do benefício — mas agora deverão voltar a ela. “É muito provável, e já está começando a acontecer, que o desemprego dê um salto nos próximos meses. Aí, sim, virá a onda forte e brava do impacto socioeconômico da pandemia”, previu.
Fonte: Época via globo.com