Uma reportagem do jornalista Eduardo Militão, do Portal Uol nesta quinta-feira, 16, traz suspeitas relacionadas ao ex-senador Vicentinho Alves e seu filho, o deputado federal Vicentinho Júnior. As informações seriam baseadas num dossiê e estão sendo investigadas pela PF.
A Gazeta solicitou desde cedo posicionamento oficial dos citados sobre as denúncias e aguarda retorno. Vicentinho Alves está afastado da política por enquanto e o filho atualmente é o principal opositor ao Palácio Araguaia.
Veja a reportagem e as acusações do Portal UOL:
Resumo da notícia
- Polícia do Tocantins abriu investigação contra Vicentinho Alves e filho
- O caso foi parar na Polícia Federal
- Políticos denunciam superfaturamentos e se dizem perseguidos pelo governador
- O governador afirma desconhecer a investigação
Segundo o Portal, a Polícia Federal recebeu, este mês, documentos que apontam possível esquema de desvio de verbas envolvendo o ex-senador Vicentinho Alves (PL-TO) e o filho dele, o deputado federal Vicentinho Júnior (PL-TO). Os papéis sugerem “supostas irregularidades na liberação de emendas parlamentares quando do exercício do mandato de senador da República, e, ainda, (…) eventual ocorrência de infrações penais supostamente praticadas por atual deputado federal”, escreveu o delegado da Divisão Especial de Repressão à Corrupção (Decor) da Polícia Civil do Tocantins Gilberto Augusto de Oliveira.
O caso foi enviado à PF por envolver verbas federais, e a investigação está apenas no início, ponderou uma fonte. A documentação foi remetida ainda ao Ministério Público do Tocantins e à Controladoria Geral da União (CGU), em Brasília. A apuração começou com uma carta anônima que, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Tocantins, tem trechos verossímeis.
Vicentinho e Júnior denunciaram que eram alvos de dossiê Ao UOL, Vicentinho Alves, que deixou o Senado em 2019, e Vicentinho Júnior negaram as acusações e afirmaram ser vítimas de um “dossiê” anunciado no início de março em um bate-boca na Câmara. Eles acusaram o governador do Tocantins, Mauro Carlesse (DEM), o secretário de Segurança, Cristiano Barbosa, e o deputado Carlos Gaguim (DEM-TO) de persegui-los.
Vicentinho Júnior disse que sofre retaliação por fazer oposição a Carlesse e denunciar compras supostamente superfaturadas, como marmitas em presídios, cestas básicas e equipamentos de saúde contra o coronavírus. Registros da Câmara dos Deputados mostram que, em 12 de março, Junior relatou que seria alvo de um dossiê que, segundo ele, foi inadvertidamente revelado por Gaguim.
Em 13 de março, Vicentinho Júnior foi à PF em Palmas, mas, àquela altura, nada havia na corporação. A documentação só chegou aos federais em Brasília este mês e está sendo remetida a Palmas agora, apurou o UOL. A assessoria de Carlesse disse à reportagem que o governador desconhece a investigação (veja mais no fim desse texto) e negou as irregularidades mencionadas por Júnior. A Polícia Federal não concedeu entrevistas para esclarecer o tema. O gabinete de Gaguim não prestou esclarecimentos.
Carta anônima gera boletim de ocorrência
Uma carta anônima com quatro páginas e 11 itens menciona supostos vínculos entre Vicentinho Alves e a CPI do Cachoeira, criada em 2012 para investigar o empresário Carlinhos Cachoeira, envolvido em esquema de jogos ilegais.
O documento também liga Vicentinho Alves à Operação Trem Pagador, que investigou cartel e propina na construção do trecho goiano da Ferrovia Norte-Sul. E acusa assessores de Vicentinho Júnior de serem donos de empresas de construção beneficiadas por decisões do deputado. A carta também afirma que uma das assessoras de Júnior não mora em Brasília, mas em Belém — o deputado afirma que ela faz comunicação das ações do mandato em regime de teletrabalho.
A denúncia afirma que a empresa Connor Construções conseguiu contratos sem licitação em diversos municípios com aliados políticos do ex-senador Vicentinho Alves. A mesma construtora aparece como beneficiária de dinheiro de outras empresas investigadas na CPI do Cachoeira. O ex-senador disse que não conhece os prefeitos das cidades indicadas na carta anônima, os proprietários da Connor nem o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Empreiteira já acusou ex-senador de propina A carta ainda menciona um engenheiro sobrinho de Vicentinho que atuava na Ferrovia Norte-Sul e foi demitido na “faxina” promovida pela presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011. Os pagamentos autorizados por ele chegariam a um empresário que foi sócio de Vicentinho, do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP) e do ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha.
Em delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez, como Clóvis Primo, disseram ao Ministério Público que pagaram propina a Vicentinho em 2010, a mando de Valdemar Costa Neto. Um investigador do caso relembrou ao UOL que o motivo dos pagamentos era manter o cartel de empreiteiras que dominava a construção da ferrovia da Valec. Um procedimento que trata desse caso chegou a ser aberto pelo Supremo Tribunal Federal. Vicentinho Alves disse que já prestou todos os esclarecimentos e voltou a negar que tenha recebido propina. A reportagem não conseguiu informações sobre a situação desse procedimento para saber se ele foi concluído ou arquivado.
Governador nega interferência em investigações
Por meio de assessores, o governador Mauro Carlesse (DEM) negou interferência nas investigações. “A Secretaria da Comunicação informa que o governador do Estado não tem qualquer conhecimento sobre referida investigação relacionada aos parlamentares citados, uma vez que este é um trabalho que compete de órgãos de investigação, como a polícia”, disse em nota. “O governador do Estado ocupa-se em executar ações de defesa dos interesses da população do Tocantins.”.
A Secretaria de Segurança disse que o inquérito da Polícia Civil não foi instaurado porque haveria envolvimento de dinheiro público de verbas federais, e não estaduais. O órgão disse que, a pedido de Vicentinho Júnior, repassou uma cópia da denúncia anônima a ele — que nega ter recebido o documento.
A secretaria defendeu a legalidade das apurações. Todos os atos praticados pela Polícia Civil do Tocantins obedecem os procedimentos previstos em lei e estão sujeitos ao controle externo da atividade policial pelo Ministério Público”.