A mineira Luciana Caldas, 51 anos, já perdeu as contas de quantas mulheres ela ajudou nos últimos 26 anos. – Foto – Arquivo Pessoal
Proprietária de uma loja de lingeries na cidade de Juiz de Fora (MG), a empresária costura e doa próteses acolchoadas para mulheres que tiveram os seios removidos, mas que, por algum motivo, não puderam colocar silicone.
Tudo começou em 1995, quando uma senhora mastectomizada entrou na loja pedindo a ajuda de Luciana. Ela nunca havia visto um seio após ser removido, já que na época não existiam tantas campanhas de conscientização sobre os perigos do câncer de mama.
“A gente ouvia falar de câncer de mama, mas não tinha noção de como era a situação. […] Naquela época não vendia sutiã de bojo, aí nós pegamos meias finas, colocamos retalhinhos dentro da meia e fizemos uma prótese para ela”, contou Luciana em entrevista ao Razões.
A partir de então, a mineira não parou mais de costurar suas próteses. Foram tantos exemplares nas quase três décadas de trabalho gratuito, que ela não sabe ao certo quantas fez, mas acredita que o número passe de 3 mil unidades.
Da prótese ao broto
Se a primeira prótese de Luciana foi feita de improviso com retalhos de uma meia, pouco tempo depois a vendedora já havia desenvolvido uma técnica mais aprimorada. Para simular o peso da mama, a empresária começou a costurar próteses com sementes de milho alvo – um grão muito parecido com alpiste.
O tamanho da prótese demandava uma quantidade de peso específica de milho alvo. Por exemplo, o tamanho P levava 240 g, enquanto o tamanho G pesava cerca de 280 g.
Luciana sempre foi didática com as mulheres que retiravam próteses na loja: era necessário trocar periodicamente as unidades e era proibido lavá-las, pelo alto risco de fungos e outras bactérias. Aos risos, a empresária contou do dia que descobriu que suas próteses podiam dar até mato!
“Um dia, uma cliente falou assim: ‘Luciana, eu viajei. Na hora que chegou lá [na rodoviária], choveu muito. Como eu viajei por oito horas, na hora que eu notei, estava saindo uns matinhos da prótese’”, brincou Luciana. “Na época eu até preparei uma relação de cuidados com a prótese, mas ninguém lia.”
Mudança na tecnologia das próteses
Após usar por 22 anos o milho alvo como matéria-prima principal das próteses, Luciana passou a utilizar um conjunto de bojos, almofadas de silicone e tecido em algodão para costurar os itens. A empresária destaca que este modelo não é o ideal para que a mulher use diariamente, já que não possui peso.
Entretanto, a prótese costurada atualmente por Luciana requer cuidados mais simples e é de fácil utilização. Em sua loja, a empresária vende sutiãs com forros internos, local no qual as próteses são inseridas, mas também costura forros nos sutiãs que as clientes têm em casa, por exemplo.
A habilidade de Luciana na máquina de costura também se estende aos maiôs, biquínis e até tops de academia. Para a vendedora, o que vale mesmo é devolver a autoestima para as mulheres que passam por sua loja.
“Quando a mulher vem [na loja], eu faço questão de ir lá no provador e colocar no sutiã da pessoa para ela ver. Eu vejo nos olhos a emoção da pessoa por causa da autoestima. Se eu perguntar para uma pessoa de fora, ela não saberia dizer qual o seio com a prótese de tão perfeitinho que fica.”
Queda na procura pelas próteses é uma felicidade para Luciana!
Algumas mulheres até tentam colocar implantes internos de silicone após a realização da mastectomia, mas nem sempre a cirurgia é um sucesso. O corpo estranho, por vezes, é rejeitado e é necessário buscar outras saídas, como as próteses da Luciana.
Porém, a vendedora notou que cada vez menos mulheres têm procurado sua loja atrás do item. Luciana torce que este seja um reflexo da conscientização sobre o câncer de mama e do avanço das tecnologias para detecção de tumores, além de tratamentos menos invasivos ao corpo.
Uma ideia simples, rápida de ser produzida, mas que não tem tamanho na vida de quem é ajudado. Luciana é um grande exemplo de empresária que não esquece que o consumidor, no final das contas, é um ser humano também!
Por Lucas Ferreira/Razões Para Acreditar