Urna Eletrônica – Foto – Divulgação
A poucos dias do segundo turno das eleições, a atenção dos brasileiros na internet parece estar quase que inteiramente voltada a polêmicas recentes envolvendo Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), deixando as propostas e os planos de governo dos dois candidatos de lado na reta final.
Dados do Google Trends mostram que, durante a última semana, a atenção do público em assuntos ligados aos postulantes à Presidência da República girou em torno de diversos temas, como canibalismo, desarmamento, fake news, maçonaria e religião.
O que o brasileiro pesquisa sobre os candidatos?
Depois de apoiadores de Lula explorarem vídeos antigos do atual presidente em uma loja maçônica, no início da última semana, pesquisas associando Bolsonaro à organização explodiram no Google.
O titular do Palácio do Planalto ainda foi relacionado a outros assuntos, como confisco – após hipótese de Fernando Collor (PTB) ser ministro de um eventual segundo governo de Bolsonaro surgir nas redes sociais – e apoio do ex-goleiro Bruno à sua reeleição. Além disso, uma entrevista antiga de Bolsonaro ao New York Times fez com que quatro buscas, entre as cinco principais pesquisas com o nome do candidato, fossem ligadas à prática de canibalismo.
Durante todo esse período, Bolsonaro ficou à frente de Lula no interesse de pesquisa do Google. Contudo, a visibilidade não significou necessariamente ponto positivo para o presidente. Dados divulgados pela pesquisa Quaest bit by bit mostram que, dos cerca de 1 milhão de comentários sobre a participação do candidato em um evento maçônico, 31% eram negativos.
Já a busca por assuntos relacionados a Lula girou em torno de temas como desarmamento, religião e os apoios para o segundo turno do empresário Paulo Marinho – suplente do senador Flávio Bolsonaro (PL) – e de Marcelo Madureira, ator crítico do Partido dos Trabalhadores.
Entre as principais pesquisas relacionadas ao ex-presidente no Google, as falas atribuídas a Lula sobre desarmar pessoas em janeiro, a respeito do fim do cristianismo no Brasil depois de eleito com a ajuda de Xangô, e de que nem Deus tiraria sua vitória nestas eleições, foram desmentidas por diversas agências de checagem.
Além disso, os termos de busca ligados a Lula envolviam o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Depois de trechos editados de um discurso do petista viralizarem nas redes sociais, opositores acusaram o candidato do PT de ameaçar o político mineiro por declarar apoio a Bolsonaro no segundo turno das eleições.
Guerra de narrativas
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que a campanha eleitoral do segundo turno deixou de ser um debate de ideias de governança para entrar, cada vez mais, no campo ideológico. “O eleitor está mais preocupado com o ‘debate físico’ do que com a discussão de projetos e propostas. Ele quer ver o circo pegar fogo, e com as redes sociais fica mais fácil de tudo isso ser disseminado”, afirma o cientista político André Cesar.
Segundo ele, novas polêmicas semelhantes envolvendo Bolsonaro e Lula podem surgir até o próximo dia 30 de outubro e inflamar, ainda mais, a corrida presidencial. Contudo, Cesar alerta que a guerra no campo digital e o interesse de eleitores por esses assuntos não significam, necessariamente, grandes mudanças na segunda etapa do pleito, justamente por causa da fidelidade do público de cada candidato.
“O primeiro turno das eleições e as últimas pesquisas mostraram que o voto está bem cristalizado. Nessa disputa, os dois lados acabam se neutralizando pelo volume de ataques e polêmicas na internet envolvendo os dois candidatos. Fica tudo um grande zero a zero, que, na hora do voto, no saldo final, pode não fazer muito efeito. A não ser que aconteça um grande acidente de percurso de algum dos lados”, analisa.
Fonte – Metrópoles