Rogério Tortola- Gazeta do Cerrado

O assunto é delicado e todo cuidado é pouco para não incentivar a prática, mas precisamos falar dele, não dá mais para ignorar. Nossos jovens estão sofrendo e tirando a própria vida.
Os números não são divulgados, por uma questão de segurança, pois para quem tem propensão, qualquer notícia pode ser um agravante.

Caso mais recente

A última vítima foi um jovem de 25 anos, Lucas Monteiro era cheio de vida, bonito e ninguém imaginaria que ele seria capaz de tirar a própria vida. A fatalidade aconteceu no último domingo, na quadra 403 sul onde morava, aqui em Palmas-TO.

Nas redes sócias os relatos dos amigos são de incredulidade e de indagação, e a pergunta é recorrente, por quê?

A resposta não é tão simples, afinal cada indivíduo tem suas próprias dores e maneiras de lidar com elas.

Diante desta situação que insiste em se repetir e mostra como somos vulneráveis a Gazeta do Cerrado foi ouvir uma especialista no assunto. Aliás, antes de tudo, vale ressaltar, só profissionais das áreas da psicologia e psiquiatria podem ajudar nesses casos, por isso ao menor sinal de dificuldades, não hesite, peça ajuda.

Aumento exponencial a partir de 2016

Leny Carrasco é psicóloga e trabalha no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da quadra 804 sul, já no início da nossa conversa ela revela um crescimento exponencial de pacientes.

“Aumentou muito desde 2016, hoje atendo de 4 a 6 novos casos por turno ao dia”, diz a profissional.

No CAPS, apesar de ser porta aberta, são atendidas pessoas que tentaram o suicídio, vão para os hospitais e depois encaminhadas ao centro. O perfil é de jovens da faixa etária de 13 a 24 anos, sendo grande maioria de jovens adultos.

Questionamentos

Ela é preceptora de um estudo que busca desvendar e responder esta pergunta, aliás, são várias perguntas.

Que dor é esta que estão levando nossos jovens a não quer existir? Será que é não se sentir visto? É não se sentir amado? Será que é falta de diálogo?

O estudo ainda está em andamento, mas ela aponta alguns indícios, deste comportamento considerado por ela em massa.

Indícios

As relações com os pais são tidas como principais causas, “a falta desta relação parental tem trazido esses problemas, eles são vistos e se não são vistos eles não existe”, explica Leny que é uma questão existencial.

Claro que existem um conjunto de fatores que contribuem para este comportamento, ela ainda destaca algumas fases deste processo, a ideação, planejamento e a tentativa.
“Ideação é pensar sobre não existir, não querer existir. Qual o sentido da vida? De questionamento”, muitas pessoas já estiveram neste lugar, mas segundo a psicóloga a pessoa com comportamento suicida, não acha uma resposta e pula para próxima etapa do planejamento.

“Planejamento é como vai executar e depois executa”, conclui a profissional.

Outro dado é que os homens usam métodos mais efetivos, arma de fogo, enforcamento e as mulheres tendem a usar medicação, veneno.

Possíveis sinais

Amigos e parentes devem fica atentos nesta fase da verbalização, idealização. Outras características são pessoas que preferem ficarem isoladas, alguns colocam este sofrimento nas redes sociais.

Nós somos os errados

Apaixonada pelo trabalho que executa Leny ressalta que estas pessoas não são doentes, muito pelo contrário, elas sofrem por serem sensíveis e viverem em um meio que é muito mais doentes que elas as vezes.

“São artistas, todos são muito talentosos, e pegam para si a dor do outro, do mundo. Eu digo que eles precisam sair dessa para salvar o mundo, nos salvar, a melhor maneira de ir contra isso é continuar vivo”, aponta a profissional.

Canais de ajuda

Diante desta realidade, existem alguns canais de ajuda, como Centro de Valorização da Vida (CVV) que pode ser acessado pelo telefone 188 gratuitamente e ainda as unidades de saúde e os CAPS, que apesar de precisar de encaminhamento, estão sempre de portas abertas nem que seja para orientar o melhor caminho.

Depois de ouvir a profissional fica evidente que precisamos ouvir os outros, mas uma escuta qualificada, verdadeira.