Lucas Eurilio – Gazeta do Cerrado

Os movimentos de empoderamento como o Body Positive e o Corpo Livre que defendem a aceitação do corpo, em especial o gordo, acreditam que o importante é se sentir bem, mas como isso afeta diariamente nas pessoas ditas fora do padrão, gordas ou obesas?

Julgamentos sobre a forma física fazem com que as pessoas gordas sejam socialmente excluídas e afeta não apenas o psicológico, mas também a autoestima e em alguns casos, pode levar ao suicídio.

A Gazeta do Cerrado traz nesta terça-feira, 23, uma entrevista exclusiva com a nutricionista Ludmilla Moreira. Apesar de ser magra, a profissional explica que o gordo pode ser tão saudável quanto o magro. A especialista afirma ainda que “precisamos ampliar a visão sobre o que significa ter saúde”.

Mas você sabe o que é gordofobia? 

Dicas de como não ser gordofóbico – Foto – Ludmilla Moreira

Em poucas palavras a gordofobia é a repulsa ou aversão ao corpo ou à pessoa gorda. Tudo que é ligado de forma pejorativa às pessoas gordas ou obesas, pode ser considerado preconceito.

A pressão do padrão estético faz com que pessoas busquem um patamar inalcançável de seus corpos, onde dietas malucas deixam as pessoas doentes.

A gordofobia muitas vezes velada de brincadeira, deixa marcas que às vezes são difíceis de se curar. Quem nunca teve vergonha de ir à praia por não estar magro? Ou passar por algum constrangimento até mesmo por não caber numa poltrona de ônibus, avião, etc.

Esse preconceito pode ser combatido e a nutricionista nos explica porque o gordo pode ser sim saudável.

Confira a entrevista completa com a nutricionista: 

A nutricionista Ludmilla Moreira diz que precisamos ter outra visão do que é saúde – Reprodução Facebook

Pergunta 1: O corpo gordo é um corpo doente?

Nutricionista: Não. Para avaliar a saúde de uma pessoa, é necessário analisar todo um contexto, solicitar exames, investigar história e hábitos de vida. O peso de uma pessoa, isoladamente, não é parâmetro. Não é simples assim. O peso não revela os valores de glicemia, colesterol, triglicerídeos, pressão arterial, função renal, hepática, tireoidiana, etc. É um absurdo classificar uma pessoa como doente apenas por ser gorda e, infelizmente, muita gente ainda pensa assim. Há muito para ser desconstruído.

Pergunta 2: Ser magro é sinônimo de saúde?

Nutricionista: Da mesma forma que ser gordo não é sinônimo de doença, ser magro não é sinônimo de saúde. Precisamos ampliar a visão do que significa ter saúde. Vai muito além do número na balança ou medidas. Na nossa cultura, há essa ênfase no físico, fisiológico ou biológico, mas também devemos compreender os aspectos sociais, psicológicos e emocionais no estado de saúde de uma pessoa. Gordo e magro são características físicas, não são indicadores de saúde.

Pergunta 3:  Como a pessoa gorda pode ter uma vida saudável sem precisar perder peso? É possível?

Nutricionista: Claro! Há saúde em todos os tamanhos. Independentemente de ser gordo ou magro, é importante priorizar a saúde, se sentir bem, se amar, se aceitar, se exercitar, ser feliz, gerenciar o estresse, ter uma qualidade de sono, comer frutas, verduras e legumes. Todas as pessoas podem buscar uma vida melhor, mais saudável, e isso não tem nada a ver com o peso.

Reprodução Hypeness

Pergunta 4: Obesidade sozinha mata?

Nutricionista: Vejo esse discurso que “obesidade mata” como um terrorismo biomédico. Uma pessoa gorda que tem hábitos saudáveis possui o mesmo risco de morrer que uma pessoa magra. Ser magro ou emagrecer não é garantia de saúde! Acontece que existe um estigma muito grande em torno do corpo gordo. Ser gordo numa sociedade gordofóbica não é nada fácil. O corpo gordo é estereotipado, rechaçado e ridicularizado. Passar por tanta descriminação ao longo da vida é um fator que pode desencadear ansiedade, depressão, baixa autoestima, transtornos alimentares, entre outros problemas e doenças. Isso claramente não contribuiu para a saúde.

Pergunta 5: Já ouviu relatos de gordofobia médica ou de nutricionista? O que pensa sobre?

Nutricionista: Infelizmente, sim, muitos. É evidente a gordofobia no discurso da saúde. Muitos profissionais de saúde tem uma conduta punitiva, prescritora, autoritária, ignoram queixas importantes, não possuem uma escuta ativa e atenta, não dispõem de equipamentos e móveis adequados para todos os tipos de corpos. Ao serem estigmatizados pelos profissionais de saúde, gordos deixam ou evitam de ir ao médico ou nutricionista, ao hospital, de fazerem exames. Mais uma vez, nada disso contribui para a saúde da pessoa gorda. É preciso desconstruir diversas crenças limitantes para poder, de fato, promover saúde.

Pergunta 6: Não quero perder peso, mas quero levar uma vida saudável. Como fazer?

Nutricionista: Aderir a hábitos saudáveis, fazer exercícios físicos regularmente e com prazer, comer de forma equilibrada, variada e com prazer, beber água, dormir bem, não beber ou não exagerar no consumo de álcool e fumo, ter boas amizades, estar presente e próximas de pessoas que te amam, desenvolver o amor próprio, se conectar com a espiritualidade (se isso for importante para você), ouvir e honrar o seu corpo, não fazer dieta restritiva, possuir hobbies, se divertir, fazer o bem, viver a vida como você acredita que faça sentido.

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