Hetohoky “Casa Grande” é uma importante festa Karajá, um ritual de iniciação, que representa a “passagem”, durante a qual os jovens começam a deixar de ser crianças para se tornarem homens. A festa costuma se iniciar nos meses de setembro ou outubro, e duram em torno de seis meses, até os meses de março ou abril.
A preparação começa quando os jovens índios, chamados “Jyeré” – que significa ariranha, pequeno animal aquático semelhante à lontra – recebem dos mais velhos ensinamentos e conselhos para a vida de adulto. Esse apresto visa diminuir o impacto da “passagem”, onde os Jyeré deixam de se relacionar com outras crianças e passam a se relacionar com os homens. O Hetohoky é para os indígenas uma forma de passar para os mais jovens os seus rituais e costumes, para que eles aprendam e, com isso, contribuam para manter viva sua cultura, é uma forma de resistência.
Durante esse período preparativo, quando as crianças recebem conselhos de conduta e ensinamentos sobre caça e pesca, são realizados vários rituais que se configuram em uma interação com os espíritos dos animais. Inicialmente, são recebidos os espíritos dos bichos terrestres, como o jabuti, o veado, entre outros, e, no final, há uma interação com os espíritos que vêm do rio, como o boto, o pirarucu e o tuiuiú, pois, na crença dos índios Karajás, a origem destes vem das águas, de um povo que morava dentro do rio.
A cerimônia
Na Cerimônia, quem dita todas as regras é o líder do cerimonial do Hetoroky, sendo que os pais, “os donos da festa”, sentindo que seus filhos estão grandes, pedem para que o chefe do cerimonial interceda junto aos espíritos e autorize a realização da festa. Recebida a autorização, o chefe do cerimonial e “os donos da festa” definem e marcam o seu início. Durante esse período, são preparados todos os assessórios para a cerimônia, como os “lateniros”, os bancos, e as esteiras. Geralmente a criança participa do ritual a partir dos 11 ou 12 anos.
Fontoura , com aproximadamente 800 habitantes, a maior Aldeia Karajá do Estado, localizada no centro – norte da Ilha do Bananal, na margem oposta ao município de São Felix do Araguaia, no Mato Grosso, foi a sede da cerimônia. Antecedendo o encerramento da cerimônia, aconteceram vários rituais, como a participação dos Aruanãs – que simbolizam os espíritos da natureza, e são encomendados aos pajés pelas famílias que buscam proteção, sorte e fartura. Também acontece o levantamento da Casa Grande, e o enfincamento do mastro. A única participação das jovens índias ocorre durante esse período, quando essas são batizadas pelos Aruanãs.
A entrada na casa grande
No dia seguinte, antes do nascer do sol, os Aruanãs sai em buscas dos iniciados, que são trazidos para frente da Casa Grande (Hetohoky), onde os mais velhos fazem diversas demonstrações de força, como a brincadeira do Too yjá, onde os anfitriões tentam enfincar quatro estacas, e os visitantes tentam impedir, sendo que a brincadeira só termina quando todas estacas são firmadas no solo. O sentido dessas brincadeiras é demonstrar aos jovens Jyeré, formas de defesa da aldeia.
Após o término da brincadeira, os Jyeré são levados pelos familiares ate a Casa Grande, onde são feitas várias demonstrações, como a de arco e flecha. Os jovens índios permanecem na casa por sete dias, onde ficam sentados no banquinho feito por seus familiares, e recebem conselhos e ensinamentos sobre conduta, de como ser um bom caçador e um bom pescador. Passados os sete dias, os Jyeré saem da casa, saem sendo considerados homens pela aldeia. Ao todo, foram cerca de dez jovens indígenas iniciados este ano.
Durante esse período preparativo, quando as crianças recebem conselhos de conduta e ensinamentos sobre caça e pesca, são realizados vários rituais que se configuram em uma interação com os espíritos dos animais. Inicialmente, são recebidos os espíritos dos bichos terrestres, como o jabuti, o veado, entre outros, e, no final, há uma interação com os espíritos que vêm do rio, como o boto, o pirarucu e o tuiuiú, pois, na crença dos índios Karajás, a origem destes vem das águas, de um povo que morava dentro do rio.
A chegada dos visitantes
No dia 23,24 , foi realizada a apresentação pela aldeia – quando os índios usam seus vistosos enfeites e acontece o ritual do Caluji Branco, no qual o pajé derrama sobre os guerreiros o líquido sagrado simbolizando uma renovação do espírito, dando força para a luta e proteção para que ninguém se machuque durante os rituais do Hetohoky. Logo em seguida, acontece a esperada chegada dos parentes e visitantes das aldeias vizinhas. Neste ano, vieram de barco pelo rio o povo das aldeias do norte da ilha – a São Domingos, Santa Isabel . As aldeias do Sul, devido ao difícil acesso, por causa da cheia do Araguaia, não chegaram de barcos, como rege a tradição da cerimônia.
A chegada dos visitantes é uns dos pontos mais vibrantes da festa, onde os coloridos dos seus enfeites e as músicas cantadas pelos karajá se misturam, formando um balé de cores e formas no interior da aldeia. Logo após essa festa de recepção aos visitantes, se dá início as lutas corporais, como o “ijesu”. E após essa demonstração de força, os visitantes tentam derrubar o grande mastro, enquanto os anfitriões o defendem, essa brincadeira durou praticamente à noite toda, mas o mastro amanheceu de pé.
Prestigiaram a cerimônia karajá do Hetoroky (Casa Grande), na Aldeia de Santa de Isabel, na Ilha do Bananal, o presidente da ADETUC, Tom Lyra e o gerente de Cultural do Tocantins, Álvaro Junior e Ribamar , e alguns membros da sua equipe.
A Adetuc , dentro da Assessoria de Patrimônio Histórico e Cultural, desenvolve importantes ações de apoio e fomento ao Programa de Preservação indígenas realizadas no Estado, e na comunidade Karajá importantes ações serão desenvolvidas durante todo o ano, ressaltou Tom Lyra.
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