A primeira semana de campanha dos presidenciáveis no segundo turno das eleições de 2022 foi marcada por anúncios de apoio de políticos e personalidades a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Os dois candidatos também reforçaram as críticas um ao outro nas propagandas eleitorais na TV, no rádio e nas redes sociais.
Uma das estratégias dos presidenciáveis no início desta nova fase da campanha tem sido tentar desconstruir a imagem do adversário e aumentar a rejeição dele frente aos eleitores. É o que aponta o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Grin.
“No que a gente observa, acaba sendo uma campanha muito mais marcada pela desconstrução do adversário, no sentido de aumentar a sua rejeição”, disse o pesquisador, em entrevista à CNN, neste sábado (8).
A pauta religiosa, que já aparecia no radar de Lula e Bolsonaro, foi um dos pontos utilizados para os ataques e ganhou ainda mais destaque durante a semana. Um vídeo do atual presidente em uma loja maçônica viralizou e foi utilizado por petistas para atacá-lo. Por outro lado, bolsonaristas compartilharam um vídeo que associa o ex-presidente ao satanismo.
Religião no centro das campanhas
Na última terça-feira (4), Lula encontrou padres franciscanos, em São Paulo, em celebração ao Dia de São Francisco de Assis. O petista também recebeu, na quinta-feira (6), a visita da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que teria sido convidada a ajudar no diálogo com os religiosos.
Durante a semana, foi discutida a possibilidade de Lula e aliados evangélicos divulgarem uma carta aos evangélicos com a defesa de valores cristãos. O manifesto seria publicado na segunda-feira (10). Lula, no entanto, descartou a iniciativa. “A gente não precisa ficar fazendo carta. Senão, vou ter que fazer carta para 500 setores da sociedade”, afirmou.
Bolsonaro e Michelle participaram de uma convenção das Assembleias de Deus e encontraram pastores da igreja no bairro de Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro. O presidente também esteve presente neste sábado (8) na celebração do Círio de Nazaré, tradicional festa católica, em Belém (PA).
A campanha do presidente Jair Bolsonaro também discute a possibilidade de realizar um ato com católicos no Cristo Redentor, no Rio.
Foco na região Sudeste
Em uma reunião da coordenação de campanha petista realizada na última segunda-feira (3), Lula avaliou que é necessário direcionar energia para o Sudeste do país – principalmente Minas Gerais, na tentativa de garantir que a dianteira obtida no estado no primeiro turno não se dissolva.
O ex-presidente manteve agenda em São Paulo, mas, na próxima semana, deverá viajar ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais. Na quinta (6), Lula participou de uma caminhada em São Bernardo do Campo e, no sábado, em Campinas.
O foco na região Sudeste também está no norte da campanha de Bolsonaro, que conquistou apoio dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do país.
Na terça (4), os governadores reeleitos Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, se posicionaram a favor do presidente no segundo turno da corrida presidencial. O atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que perdeu a disputa à reeleição, também declarou apoio a Bolsonaro.
Anúncios de apoio a Lula
Já a campanha de Lula recebeu o apoio dos governadores eleitos Elmano Freitas (PT), do Ceará, Carlos Brandão (PSB), do Maranhão, Rafael Fonteles (PT), do Piauí, Fátima Bezerra (PT), reeleita no Rio Grande do Norte, Clécio Luís (Solidariedade), do Amapá, e Helder Barbalho (MDB), reeleito no Pará. O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), que disputa o segundo turno no estado, também se manifestou a favor do petista.
Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que ficaram em terceiro e quarto lugar no primeiro turno da corrida presidencial, foram outras personalidades políticas que declararam apoio ao ex-presidente na disputa pelo Planalto.
O Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que teve a candidata Sofia Manzano no primeiro turno, deliberou o apoio a Lula para o segundo turno. “Faremos o balanço crítico na hora certa. Agora é Lula”, afirmou Manzano, no Twitter.
O partido Cidadania, que forma uma federação partidária com o PSDB, também anunciou apoio a Lula, assim como o senador e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB).
Os economistas Armínio Fraga, Pedro Malan, Edmar Bacha e Persio Arida também declararam voto no candidato do PT. Henrique Meirelles (União Brasil), que foi presidente do Banco Central durante o governo Lula, aumentou a lista dos apoiadores do petista no segundo turno.
Anúncios de apoio a Bolsonaro
Além de Romeu Zema, Cláudio Castro e Rodrigo Garcia, declararam apoio a Bolsonaro os governadores reeleitos no Acre, Gladson Cameli (PP), em Roraima, Antonio Denarium (PP), em Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), no Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), no Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e no Paraná, Ratinho Jr (PSD).
O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil) também anunciou voto no atual presidente. Ele deixou o governo em 2020, rompido com Bolsonaro, e foi eleito senador pelo Paraná neste ano.
O presidente do Partido Social Cristão (PSC), pastor Everaldo, afirmou que Bolsonaro é o candidato que defende as bandeiras conservadoras do partido, declarando apoio da legenda a ele.
Propaganda eleitoral
Nas campanhas eleitorais veiculadas na TV e no rádio, que voltaram ao ar na sexta-feira (7), Lula utilizou as imagens de Tebet e de seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), além de ressaltar o apoio que recebeu de governadores e de FHC.
O ex-presidente também fez críticas ao atual governo. A campanha disse que Bolsonaro cortou verba da saúde, moradia e educação para 2023, citou o orçamento secreto como uma prática negativa e afirmou que a política externa atual do país fez o Brasil perder prestígio internacional. “A postura de Bolsonaro prejudica a atração de investimentos externos e derruba nossa economia”, disse o narrador da propaganda do PT.
Bolsonaro, assim como Lula, exaltou os apoios que recebeu dos governadores e deu destaque para uma manifestação do jogador Neymar a seu favor. A propaganda do presidente lembrou ainda que o PL será o partido com mais cadeiras no Congresso e destacou que “as deputadas mais votadas do país são mulheres que apoiam o presidente Bolsonaro”.
A propaganda do presidente também ironizou o tradicional jingle “Lula Lá”, usado pela campanha do adversário, e fez uma paródia com a música, classificando as promessas do petista como “lero-lero”. Ao falar sobre o Nordeste, criticou o ex-presidente ao dizer que “com o PT, o Nordeste era judiado”.
Um vídeo em que Bolsonaro diz que comeria carne de indígenas ficou de fora do horário eleitoral gratuito da campanha de Lula, mas foi exibido na TV como inserção. A declaração foi feita durante uma entrevista em 2016, quando Bolsonaro ainda era deputado, ao jornal The New York Times. A campanha do presidente acionou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a propaganda petista que usa as imagens.