Brener Nunes – Gazeta do Cerrado

A professora Verônica Albuquerque transformou a vida de dezenas de crianças e adolescentes em Natividade, sul do Tocantins. Por meio da Sússia (Suça ou Súcia) mostra e ensina a cultura tocantinense a seus alunos.

A dança, provavelmente de origem escravagista, é caracterizada por músicas agitadas ao som de tambores e cuícas. Uma espécie de bailado em que homens e mulheres dançam em círculos.

A sússia na Folia do Divino em Monte do Carmo é dançada ao som da viola, do pandeiro e da caixa. Também é dançada ao som do tambor em outras manifestações populares, como em Natividade.

Em entrevista à Gazeta, Veronica conta que o Grupo de Suça Tia Benvinda surgiu no ano de 2017, mas é resultado de trabalhos executados na escola estadual Nossa Senhora de Fátima do Pelicano desde 2011. “Trabalhando o município onde se vive, fizemos o despertar nas crianças e adolescentes, trabalhando o pertencimento, sua identidade”, contou Veronica.

“A Suça é uma dança cultural, herança africana e dançada na nossa região desde a época do Brasil Colonial. Símbolo de resistência, mostra a beleza cultural que os negros deixaram pra nós! Contribuição cultural de expressiva importância no nosso estado”, explicou a professora à Gazeta do Cerrado.

Conforme Veronica, o grupo conta hoje com quase 30 integrantes entre crianças e adolescentes.

A professora explica que, os alunos também são acompanhados dentro da sala de aula e em casa. “Além da arte dançante e da história da Suça, também acompanhamos a disciplina de todos na escola e também nas suas casas. Analisamos o comportamento e comprometimento com a educação para que esses cresçam amantes da cultura e responsáveis na sociedade”, disse.

Albuquerque esclarece que o envolvimento dos alunos se deu por meio de aulas de campo, pesquisas, mesas redondas com os mestres detentores do saber e entrevistas com os mais velhos.

“Somos de Natividade, o projeto não é escolar, começou na escola. Hoje nosso grupo vai além da escola, é um grupo idealizado por mim e contempla não só alunos da escola onde trabalho, mas de toda a comunidade que queira participar”, ponderou Veronica.

Ela revelou à nossa equipe, que um dos motivos também da criação desse grupo Tia Benvinda, é que alunos que não estudavam na escola queriam continuar dançando Suça, pois onde Veronica trabalha só funciona até o ensino fundamental.

Veronica também revela que outra novidade foi envolver o grupo no turismo das Serras Gerais como o turismo de experiência. “apresentamos para turistas e eles vivenciam a Suça seja dançando, cantando ou tocando nossos instrumentos”, afirmou.

“A Suça transforma, os meus meninos não dançam Suça apenas por dançar! Eles vivem a história de quase 300 anos no batuque de negro. Eles sabem porque dançam a Suça! Valorizam, são apaixonados pela tradição dançante”, reforçou a professora.

E reforça que a Suça mudou a visão dos seus alunos. “Eles interagem com várias pessoas, melhoram no comportamento em sala de aula e também em casa. Tenho relatos de pais que me falam o quanto seus filhos melhoraram depois que entraram na Suça. Isso me deixa muito feliz”, contou Veronica.

Segundo a professora, Natividade inspira! Respira muita história e cultura! “Eu enquanto professora de geografia e história me envolvi e me apaixonei desde que por aqui cheguei”, destacou.

Para conferir fotos e vídeos do grupo Tia Benvida acesse seu perfil Instagram.

 

Artesanato

Veronica ainda conta que por meio do Edital Culturas Populares de 2017 e parceiros como Sebrae, COMTUR de Natividade, Simone de Natividade conseguiram realizar um sonho de muitos anos. Trazer uma oficina de artesanato para os adolescentes do nosso grupo.

“A intenção é gerar renda para suas famílias e fazê-los ter uma profissão. Os jovens precisam de oportunidade para desenvolver suas habilidades e se descobrir. Então assim, surgiu nosso artesanato feito em casca de cajá, onde trabalhamos a arquitetura colonial de Natividade. E também confeccionamos nossos instrumentos da Suça em cerâmica e madeira e couro de animal. Atividade sustentável que não agride o meio ambiente. O curso foi dado pelo Mestre Márcio Belo e hoje os envolvidos já comercializam suas peças gerando renda”, contou Veronica à equipe da Gazeta do Cerrado.

TVG – TV GAZETA DO CERRADO

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