O pastor Gilmar Ferreira Maróstica, condenado por abusar de adolescentes em Guaraí, na região centro-norte do estado, era visto como líder religioso nas igrejas onde passava, conquistando a confiança dos fiéis com suas pregações e conselhos. Apesar da reputação,ele acabou sendo condenado a mais de 13 anos de prisão por abusos contra jovens no âmbito religioso.

Gilmar foi condenado pelos crimes de estupro, ato libidinoso e conjunção carnal mediante fraude religiosa ou abuso de autoridade. A defesa dele negou as acusações e afirmou que ele é inocente e alegou que não existem provas que sustentem as acusações. Também afirmou que recorreu da decisão e aguarda julgamento, ressaltando que ele permanece amparado pela presunção de inocência.

Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual, ele teria cometido os crimes contra jovens entre 15 e 16 anos enquanto coordenava um grupo de jovens da igreja Embaixada Apostólica Filadélfia, em Guaraí.

Conforme relatos, sempre usando a bíblia, ele convencia meninos e meninas da cidade a participarem das atividades da igreja. Quem estava no grupo, a princípio o via como a figura de um ‘pai’ ou um ‘conselheiro espiritual’.

O promotor de justiça Adriano Ziza explicou que o líder religioso costumava se aproximar dos que não tinham pai, para ‘ocupar’ esse lugar e afeto e conseguir aliciar os jovens.

Depois de anos coordenando o grupo, a partir de 2019 algumas das vítimas começaram a vivenciar momentos estranhos com o pastor, que afirmava ser ‘pecado sentir prazer sexual’. A partir disso, a credibilidade do líder religioso começou a desmoronar, pois denúncias de abuso sexual foram registradas na polícia e no MPE.

Vítimas deram detalhes sobre os traumas que sofreram à TV Anhanguera. Os abusos ocorriam em atendimentos em grupo e individuais com os integrantes da igreja. Com as meninas, os relatos apontam que o pastor criava situações para ficar a sós com elas.

“Ele pregava todo sábado e todo domingo que ninguém podia se levantar contra o ungido do senhor e eu cresci ouvindo isso. Então por isso eu não contei para ninguém”, disse uma das vítimas.

Uma jovem relembrou que Gilmar a trancou em uma sala e mostrou o pênis. “Me senti acuada ao extremo de me calar, ao extremo de ficar mais triste do que já estava”, afirmou.

Para tentar ficar impune, Gilmar Maróstica se antecipava aos membros da igreja e falava sobre as denúncias na tentava descredibilizar as vítimas, que acabam tendo a reputação julgada na cidade.

“A ponto de a gente perder tudo, perder dignidade, perder nome, perder a vida, perder emprego, perder dinheiro enquanto ele ficou no bem e bom”, lamentou uma das vítimas.

O Ministério Publico ofereceu denuncia em abril deste ano e em outubro, o pastor foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão, a serem cumpridos inicialmente em regime fechado. Como ainda cabe recurso, ele está em liberdade. Entretanto, o MP afirmou que vai pedir um endurecimento da pena.

“O Ministério Público vai recorrer para exasperar a pena, eu tenho pelo menos dez vítimas de crimes de violação sexual mediante fraude, da qual ele foi condenado. Eu tenho vítima de importunação sexual e vítima de estupro, da qual ele foi condenado”, explicou o promotor.

As vítimas de violência sexual cometida pelo pastor Gilmar pedem uma pena maior, para que ele não volte a repetir os mesmos crimes.

“Esse cara é um monstro, eu não sei como ele está solto. Eu não sei como ele está pregando dentro da igreja e ver que podem ter outras várias pessoas expostas a esse perigo”, disse uma das vítimas, aos prantos.

“Até hoje eu faço tratamento psicológico porque resquícios ficam na vida da gente, acontecimentos, e você andar na cidade e olhar ele pastoreando em outra igreja, vivendo a vida dele tranquilamente, isso é o que mais machuca”, a mulher abusada pelo pastor.

O que dizem as igrejas

Os abusos ocorreram quando Gilmar Maróstica congregava na Embaixada Apostólica Filadélfia. Em nota publicada nas redes sociais, a igreja se defendeu afirmando que ele ocupava função pastoral e segundo os líderes não sabiam das práticas delituosas atribuídas a esse indivíduo.

Também afirmou que a punição recebida pelo pastor, após denúncias das vítimas, era na condição de disciplinar, ‘única possível dentro do âmbito eclesiástico’, ‘respeitando o devido processo legal e posteriores apurações’, destacou a nota. Além disso, destacou que a fundadora da igreja, já falecida, colaborou com a investigação policial até sua morte, em 2021 (veja a íntegra da nota abaixo).

Atualmente, Gilmar faz parte da Igreja Família Vitoriosa Guaraí. Em nota o representante da instituição, pastor Enéias Abreu, afirmou que Gilmar congrega desde 2019 no local e que não pode se pronunciar sobre os fatos que aconteceram antes disso (veja a nota completa no fim da reportagem).

Íntegra da nota da defesa de Gilmar Maróstica

O escritório de advocacia Apolinário Paiva e Rocha Advocacia, na qualidade de representantes do Sr. Gilmar Maróstica, vem por meio deste manifestar nossa posição em relação à cobertura jornalística que será veiculada sobre as alegações que envolvem o Sr. Gilmar.

O Sr. Gilmar Maróstica reitera, de maneira enfática, sua inocência em relação às acusações que lhe foram atribuídas. Ele nega a existência de qualquer prova que sustente as alegações de abuso e afirma que não há nenhum documento que evidencie sua confissão.

É importante esclarecer que, conforme o princípio da presunção de inocência, garantido pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, toda pessoa é considerada inocente até que se prove o contrário, em decisão transitada em julgado. Embora o Sr. Gilmar tenha recebido uma sentença condenatória, é relevante destacar que um recurso já foi interposto e, portanto, a questão ainda não se encontra definitivamente resolvida.

Por fim, solicitamos que qualquer informação divulgada sobre o caso seja apresentada de forma clara, destacando a condição de recurso ainda pendente de julgamento e a presunção de inocência que ampara nosso cliente. Estamos à disposição para fornecer quaisquer esclarecimentos adicionais que se façam necessários.

Íntegra da nota da Igreja Filadélfia

A Embaixada Apostólica Filadélfia, por meio de seus Bispos, líderes e assessoria jurídica, vem a público esclarecer sua posição diante dos graves crimes cometidos pelo ex-pastor Gilmar Ferreira Maróstica. A igreja esclarece que, enquanto ele ocupava função pastoral em nossa instituição, desconhecia completamente as práticas delituosas atribuídas a esse indivíduo.

Assim que tomamos conhecimento das acusações, ele foi imediatamente afastado de todas as suas funções, bem como posto em condição de “disciplina”, única punição possível dentro do âmbito eclesiástico em consonância com nossos princípios éticos e de fé, respeitando o devido processo legal e posteriores apurações.

Registramos ainda que a fundadora desta igreja, saudosa Pastora Ilda, colaborou com o trabalho investigativo até o seu falecimento, ocorrido no início de 2021, com toda documentação de cunho eclesiástico instaurada na igreja.

A Embaixada Apostólica Filadélfia reitera seu compromisso inabalável com o Evangelho de Jesus Cristo e reforça sua postura de total repúdio aos crimes cometidos por aquele que se utilizou do título de pastor de forma indevida. Reafirmamos nosso compromisso de buscar a justiça e de nos manter à disposição das autoridades para qualquer cooperação necessária.

Igreja Família Vitoriosa Guaraí

O Papel da Igreja é Restaurar. Essa foi a missão de Jesus e essa é a nossa Missão, acolher a Todos Que Procuram a Igreja.

Eu tenho exercido a missão da igreja na cidade e no estado, trabalhando no caráter, na restauração e cura para toda família do pastor Gilmar.

Vale Ressaltar que o Pastor Gilmar está desde 2019 na nossa igreja, o que aconteceu antes disso não vou me pronunciar, só ele e os advogados podem responder e tudo que é tratado no âmbito pastoral permanece no âmbito pastoral.