Mais um gestor do IBGEentregou o cargo por discordar da condução do Censo 2020 pela nova presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra. Nesta sexta-feira, foi a vez de José Guedes, gerente da Coordenação de Métodos e Qualidade, na área de Metadados. Na noite anterior, outros quatro coordenadores e gerentes haviam tomado a mesma atitude.

São eles Andrea Bastos, assessora da Diretoria de Pesquisas, responsável por substituir o Diretor de Pesquisas e principal interlocutora junto a área econômica da instituição; Marcos Paulo Soares,  responsável pela definição da amostra nas pesquisas realizadas pelo IBGE; Barbara Cobo, de População e Indicadores Sociais e a diretora de Demografia Leila Ervatti. Como todos são servidores da casa, mesmo com a entrega dos cargos eles continuam como funcionários do instituto.

O anúncio foi feito durante o lançamento da Campanha Todos pelo Censo 2020, ocorrida na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no Centro do Rio. Os quatro entregaram uma carta onde são feitas críticas à nova formulação do Censo.

“É notório que o processo de discussão acerca da definição dos questionários censitários não alcançou os objetivos desejados por todos os técnicos da Instituição”, ressalta a carta, que acusa a nova direção do IBGE de “encerrar unilateralmente o debate em torno do projeto censitário, ignorando categoricamente toda a estrutura formal de condução da maior operação estatística da América Latina”.

Ao subir no palco representando os colegas, Leila Ervatti foi ovacionada pelos quase 300 presentes no evento.

— Desde que ela (Susana) assumiu, viemos num embate porque já tínhamos um trabalho de três anos de discussão com o corpo técnico para elaboração do Censo, e nossas propostas foram ignoradas. Eu como diretora de Demografia não posso me responsabilizar por um questionário que não contém perguntas que podem ter impactos nas projeções populacionais e consequentemente na distribuição do Fundo de Participação dos Municípios. Posso sofrer processos judiciais por isso — justificou Leila.

Em nota, a presidente do IBGE disse que entende e respeita a decisão dos gestores que deixaram seus cargos, por este ser um direito dos servidores. “Todos são excelentes profissionais e deram contribuições técnicas significativas até o presente momento. Como ótimos profissionais serão os técnicos do IBGE que irão substitui-los. O importante é unir forças para realizar um excelente Censo, preservando a missão institucional da Casa”.

A queixa dos cinco coordenadores é que houve quebra de autonomia por parte do novo diretor de Pesquisas do instituto, Eduardo Rios Neto, que foi empossado pela presidente do IBGE após demitir Claudio Crespo da função . Rios Neto não teria consultado o corpo técnico antes de definir que o novo questionário da amostra do Censo teria 76 questões, e o básico, que é o básico aplicado a 90% das famílias, 25 perguntas.

Em meio à crise, o diretor de Pesquisas, Rios Neto, encontrava-se nesta sexta-feira em Belo Horizonte, em compromisso particular, participando como avaliador de banca de aluno da Universidade Federal de Minas Gerais.

Os cortes no questionário são alvo de críticas de integrantes do próprio corpo técnico do IBGE. Por meio do Núcleo Sindical do Chile (nome da rua onde fica um dos principais centros de pesquisa do instituto, no centro do Rio), eles argumentam que as ausências “trazem sérios prejuízos à produção de um conjunto de indicadores. Em especial, os cortes prejudicam as projeções e estimativas populacionais, impossibilitam a aferição do déficit habitacional por município e dificultam estudos de pobreza e desigualdade de renda”.

Ex-presidentes pedem que diretores não saiam

Durante o lançamento da Campanha Todos pelo Censo 2020, na noite de quinta-feira, pouco antes de ser anunciado a entrega dos cargos por quatro coordenadores do Instituto, três ex-presidentes do IBGE que estavam presentes no evento, Roberto Olinto (2017-2019), Wasmália Bivar (2011-2016) e Eduardo Pereira Nunes (2003-2011) pediram que os atuais diretores-servidores do Instituto não deixem seus cargos e façam resistência à nova presidência.

Fonte: Jornal O Globo

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