Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelou que 23% das 4.616 amostras de alimentos analisadas pelo órgão possuem “inconformidades” em relação ao uso de agrotóxicos. O dado faz parte do relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que avaliou neste ano 14 tipos de alimentos que estão diariamente na mesa dos brasileiros.

O PARA faz a avaliação de alimentos em ciclos. No último deles (2013 a 2015), foram analisados 25 tipos. No ciclo atual, que vai até 2020, serão analisados 36 alimentos.

A análise deste ano avaliou alimentos como arroz, uva, goiaba, laranja, abacaxi, manga, alface, entre outros.

Os dados revelam que 1.072 amostras registraram alguma inconformidade. Elas estão relacionadas ao uso de agrotóxicos não permitidos para uso específico em determinada cultura (17,3%), desrespeito aos limites de uso permitido (2,3%) e utilização de produtos proibidos no Brasil (0,5%). Cerca de 2,9% das amostras registraram mais de uma irregularidade.

— Existe um número elevado de inconformidades, alcançamos 23%. É necessário ampliar ações de educação com o produtor. Essas ações educativas não partem necessariamente da Anvisa. Embora a agência as fomente de alguma forma, mas fica muito a cargo de órgãos estaduais.  Sabemos que é necessário intensificar isso com vistas a ampliar o uso correto do agrotóxico — afirmou Adriana Pottieri, gerente de Monitoramento e Avaliação do risco da Anvisa.

Agência diz que não há risco crônico à saúde

O estudo deste ano avaliou, pela primeira vez, os impactos crônicos na saúde relacionados ao consumo de alimentos com agrotóxicos. Para esta análise, além dos 14 alimentos avaliados neste ciclo, foram incluídos outros já avaliados de 2013 a 2015, totalizando 28 tipos.

Segundo a análise da Anvisa, nenhuma amostra analisada apresentou risco crônico para o consumidor. Ou seja, mesmo expostos à ingestão diária desses produtos, os consumidores não estarão suscetíveis a problemas de saúde.

Em relação ao risco agudo —ou seja, a probabilidade de uma pessoa ficar intoxicada pela ingestão de um produto contaminado específico—, o cenário não é tão positivo.

O estudo da Anvisa identificou 41 amostras com potencial de risco agudo ao consumidor, o que representa 0,89% do total.

Laranja é alimento com maior potencial tóxico

O alimento mais perigoso para os consumidores é a laranja, onde foram encontradas 27 amostras com potencial tóxico, ou seja, 7,7% do total de laranjas analisadas pela Anvisa. Em  2013-2015, o índice foi de cerca de 12%.

Os especialistas da agência explicam, no entanto, que esse índice já não dá dimensão do risco real, uma vez que o principal agrotóxico responsável pela toxicidade foi o carbofurano, proibido pela agência meses antes da coleta de amostras, que acabou em junho.

— De forma geral, o que podemos dizer hoje é que, de fato, os alimentos para a população são seguros. Temos pontos em relação ao risco agudo que são situações pontuais que podem ser trabalhadas e melhoradas.  Temos que trabalhar para chegar a (risco) zero, mas o padrão que encontramos hoje se reflete fora do país — explica Bruno Rios, diretor adjunto da 3ª diretoria da Anvisa, que cuida do tema. —Nossa preocupação não é em relação à dieta, mas a quem aplica o agrotóxico. Os problemas que encontramos são relacionados a riscos ocupacionais, a quem está aplicando o produto.

No total, foram identificados 122 tipos de agrotóxicos nos alimentos analisados. Entre os produtos mais detectados na análise da Anvisa, o primeiro lugar ficou com o Imidacloprido, um inseticida, mas a maior parte das detecções foi dentro do permitido.

Fonte: Extra Globo via Globo.com