Expedição faz parte do projeto “Etnofarmacologia, etnobotânica e fitoterapia em comunidades tradicionais do Tocantins”, financiado pela Fundação através do edital Fapt/SES.
Najara Barros / Governo do Tocantins
Equipe técnica da Diretoria de Ciência e de Inovação da Fapt, acompanhou a execução do projeto, reforçando a importância da presença da Fundação na execução das pesquisas apoiadas. – Foto: Daniel dos Santos/UFT
Conhecer as plantas medicinais usada nos quilombos e compreender seus usos na medicina não tradicional, avaliar a biodiversidade do cerrado dentro do território do Jalapão para a extração/produção de óleos, descobrir e compreender o porquê dos nomes dados aos atrativos e lugares dentro do Parque, e ainda, realizar atendimentos médicos às comunidades quilombolas. Esses foram alguns dos objetivos da primeira Expedição Quilombos – Jalapão 2024, realizada entre os dias 10 e 13 de outubro nos quilombos do Mumbuca e Prata.
O governo do Tocantins, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt), participa desta missão junto à Universidade Federal do Tocantins (UFT), que por meio da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação organizou a ação. A Expedição faz parte do projeto “Etnofarmacologia, etnobotânica e fitoterapia em comunidades tradicionais do Tocantins”, financiado pela Fundação através do edital Fapt/SES, com incentivo de R$ 50 mil reais destinados ao custeio e capital do projeto.
Além da produção do livro com os saberes dos quilombolas, um documentário foi produzido sobre a pesquisa. – Daniel dos Santos/UFT
O projeto tem como objetivo preservar o conhecimento tradicional relacionado ao uso de plantas medicinais em comunidades quilombolas do Tocantins. Ele busca, também, a publicação de um livro, previsto para o início de 2025, no qual pesquisadores, estudantes e os próprios moradores das comunidades, em especial os anciãos, serão reconhecidos como autores.
“Nessa expedição tivemos várias ações, entre elas auxiliar as anciãs a produzirem um livro com seus saberes, os quais elas serão as autoras. O livro que além de auxiliar na perpetuação dos saberes culturais, vai contar com biografia dos anciãos e auxiliá-los, inclusive, a obter alguma forma de renda com a comercialização desse livro. A Fapt foi fundamental, porque ela garantiu recursos financeiros que possibilitaram fazer essa ação”, pontuou o pós-doutor Raphael Pimenta, autor do projeto de pesquisa financiado pela Fundação, pelo edital Fapt/SES.
Anciã do Mumbuca,”Dotora”, personalidade do Povoado, será uma das autoras do livro que pretende preservar o conhecimento tradicional relacionado ao uso de plantas medicinais. – Daniel dos Santos/UFT
Uma das anciãs do Mumbuca, a matriarca da comunidade, Noemi Ribeiro da Silva, filha de Dona Miúda, personalidade do Povoado, será uma das autoras do livro que pretende preservar o conhecimento tradicional relacionado ao uso de plantas medicinais em comunidades quilombolas do Tocantins.
Os saberes passados de geração em geração, o respeito pela natureza, as tradições dos usos das plantas e a fé confirmaram o título de “Dotora” dado à Noemi, pelo seu pai, quando ela restabeleceu a saúde dos olhos dele com um chá de alfavaca. A “Dotora” do povoado fala da importância do projeto para a perpetuação das tradições para os mais novos.
“Esse projeto é uma riqueza fundamental! Eu tinha esse pensamento na minha ideia sobre esse livro de muito valor para a nossa comunidade. Esse livro vai ser um posto, uma orientação. A segurança da história para essa nova geração e as que ainda virão. Tudo que está no papel fica! É uma garantia para que a gente possa partir, mas ficar a história no livro, para o bem da comunidade”, disse dona “Dotora”, anciã Mumbuca, Noemi Ribeiro da Silva.
O projeto também visa incentivar trabalhos acadêmicos de estudantes quilombolas, além de fortalecer a colaboração entre as instituições parceiras e as comunidades tradicionais.
A quilombola e acadêmica do 5º semestre de Biologia (EAD), Mônica Silva Ribeiro, é bolsista do projeto selecionado no edital Fapt/SES, e tem como missão dentro do Quilombo Mumbuca entrevistar os anciãos, anotar os conhecimentos deles com as plantas medicinais, para que seja avaliado e confirmando os efeitos de cura. Ela fala de como se sente com o projeto e da expectativa de participar da edição de um livro que servirá para perpetuar saberes culturais.
“A minha expectativa está a mil! Nunca imaginei poder participar de um projeto tão grande na minha vida, veio a oportunidade e eu aproveitei! Esse livro vai ser de grande importância para a comunidade! A população jovem dos quilombos, em sua maioria, não quer saber de aprender sobre os conhecimentos dos mais velhos. E tendo um livro desse, vai ficar registrado para as pessoas que quiserem saber sobre esses conhecimentos”, pontuou Monica Silva, quilombola e bolsista do projeto amparado pela Fapt.
Além disso, o projeto pretende avaliar e colaborar com a construção de processos sanitários e científicos para a produção de fitoterápicos por meio de oficinas. A renda dos produtos será destinada, exclusivamente, às comunidades participantes.
Fapt em campo
Durante a expedição, a equipe técnica da Diretoria de Ciência e de Inovação da Fapt acompanhou a execução do projeto, reforçando a importância da presença da Fundação na execução das pesquisas apoiadas.
“Estar aqui, conhecer pessoas, ver de perto o que a Fundação vem amparando, nos traz uma grande alegria, porque a gente percebe que está no caminho certo. Nessa expedição tivemos a oportunidade de verificar mais de perto que pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com o apoio do Governo do Tocantins vem alcançando comunidades, e isso é fundamental”, ponderou a diretora científica e de inovação da Fapt, Munique Oliveira.
A Fundação de Amparo atua, por meio de financiamento de projetos de pesquisas, para garantir o desenvolvimento e a continuidade de ações que impactam diretamente a população do Estado. “Conhecimentos tradicionais quando conectados à ciência se completam! É muito satisfatório poder estar aqui e participar desse resultado, que ainda é parcial, e que muito tem para nos mostrar. A proposta da Fapt é continuar apoiando projetos, pesquisas que vão para além daquilo que a gente conhece, que possa chegar até a sociedade e possa conectar, juntar o conhecimento tradicional com o técnico. Isso é ciência!”, concluiu a diretora de CT&I da Fundação.
Comunidades Quilombolas
Os quilombos do Mumbuca e Prata são comunidades tradicionais que preservam a cultura e os saberes populares relacionados ao uso medicinal das plantas. Os quilombos contam com aproximadamente 200 moradores em cada um. A preservação dessas comunidades e de seus conhecimentos ancestrais é fundamental para a valorização da cultura local e para o desenvolvimento de novas fontes de renda para seus habitantes, como a produção/venda de fitoterápicos.
Atendimento médico
Expedição contou com atendimento de saúde à população local fortalecendo a relação entre ciência tradicional e comunidade. – DanieldosSantos/UFT
Além das atividades de pesquisa e coleta de plantas medicinais, a expedição contou com ações paralelas, como o atendimento de saúde à população local fortalecendo a relação entre ciência tradicional e comunidade. Vários médicos e estudantes de medicina, levaram alento e saúde para a população durante os dias da ação e mais de 50 atendimentos foram realizados.
Participantes
Mais de 35 pessoas entre pesquisadores/cientistas, estudantes, profissionais da comunicação, médicos, biólogos e botânicos participaram da expedição. – Daniel dos Santos/UFT
A expedição teve participação dos professores do Colegiado de Medicina: Raphael Sanzio Pimenta, Flávio Milagres, Juliana Fonseca Moreira da Silva; o médico Wagner Fonseca Moreira da Silva; o professor do IFSULDEMINAS, Amilcar Saporetti Junior, através do termo de cooperação entre as instituições; professores do Colegiado de Biologia da UFT em Porto Nacional: Priscila Souza e Rodney Viana; os estudantes de Medicina: José Rafael Farias das Chagas, João Guilherme da Silva Araújo, Rayssa Nascimento Filgueira e Gabriel Gonçalves Durão; estudante do PPG Ciências do Ambiente, Paulo Henrique Barros Macedo; o professor de Pedagogia na UFT, Adriano Castorino; a professora Renária; a pesquisadora do IFTO, Érika Luz; a diretora de CT&I da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins, Munique Oliveira; a assessora de programas e projetos de saúde da Fapt, Adriana Arruda; a assessora de comunicação da Fapt, Najara Barros e mais voluntários de empresas privadas, totalizando 35 expedicionários.