Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro chamar Paulo Freire de “energúmeno”, senadores aprovaram nesta terça-feira (17) um requerimento para realizar sessão especial em homenagem ao educador, morto em maio de 1997.
O requerimento, de autoria do senador Weverton (PDT-MA) e assinado por vários senadores, inclusive o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), foi aprovado de forma simbólica pelos parlamentares.
A previsão é de que a sessão no plenário seja realizada em 4 de maio de 2020, mês em que a morte de Freire completará 23 anos.
Bolsonaro fez afirmações contra Paulo Freire e também contra a TV Escola nesta segunda-feira (16), na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre o tema enquanto conversava e fazia fotos com apoiadores.
“Era uma programação [da TV Escola] totalmente de esquerda, ideologia de gênero, dinheiro público para ideologia de gênero. Então, tem que mudar. Reflexo, daqui a 5, 10, 15 anos vai ter reflexo. Os caras estão há 30 anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda”, disse o presidente na ocasião.
Segundo a definição do dicionário Houaiss, energúmeno significa “ignorante, boçal, imbecil”.
Senadores da oposição criticaram duramente a declaração do presidente.
“Você falar, querer acabar com a TV Escola? Atribuir esse adjetivo de energúmeno a Paulo Freire? Eu não posso me calar. Paulo Freire nos faz pensar, ele nos ensina a pensar. Eu queria sugerir ao presidente da República que procedesse a leitura de algumas obras de Paulo Freire”, disse Fabiano Contarato (Rede-ES).
Segundo o senador Weverton, homenagear Paulo Freire é “reconhecer a própria história do Brasil”.
“Não são os muros das universidades que, apenas para dentro, precisam se indignar com essa tamanha agressão ao mestre da educação, a referência de inclusão, mas sim qualquer homem e mulher que saiba que um dia nós podemos ser melhores se nós praticarmos o bem. E praticar o bem é apoiar de forma intransigente não só a educação, mas também defender os educadores”, disse o líder do PDT.
No mês passado, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) alterou a plataforma criada para os professores buscarem cursos de aperfeiçoamento profissional e retirou a homenagem ao educador Paulo Freire do nome. Agora, a “Plataforma Freire” se chama “Plataforma da Educação Básica”.
Paulo Freire
Paulo Freire foi declarado patrono da educação brasileira em 2012. O educador desenvolveu uma estratégia de ensino baseada nas experiências de vida das pessoas, em especial na alfabetização de adultos.
Uma das obras de Freire, “Pedagogia do Oprimido”, é o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus.
A metodologia de Paulo Freire vem sendo criticada por integrantes do governo Jair Bolsonaro, que atribuem ao método o baixo desempenho escolar do país em avaliações da qualidade da educação.
Fonte: Globo.com