Conteúdo Exclusivo Gazeta do Cerrado
Por Adão Francisco de Oliveira
Edição – Lucas Eurilio
A Gazeta do Cerrado começa neste sábado,15 e segue até a quarta-feira, 20,com uma série de reportagens especiais sobre o aniversário de Palmas, mas desta vez, com um olhar sensível e cuidadoso para os moradores invisíveis num dos bairros mais pobres e marginalizados da capital, o Capadócia, onde vivem 450 famílias.
Nesta primeira reportagem o professor da Universidade Federal do Tocantins e pós-doutor em Geografiia, Adão Francisco de Oliveira, contou um pouco da história e avaliou a situação da popuilação que vive no local.
Um lugar a mercê
O Capadócia é uma área de ocupação surgida num dos bairros mais carentes e de população mais empobrecida de Palmas: o Taquari. Situado no extremo sudoeste da capital, o Taquari, bairro fruto de assentamento urbano promovido pelo Governo do Estado, de população carente, reúne uma comunidade de trabalhadores subempregados: via de regra, eles têm empregos de baixíssima renda, são descobertos pela legislação trabalhista, não têm carteira assinada, não gozam de férias, décimo terceiro e nem de aposentadoria.
Com baixa escolarização e formação técnica, a sua ocupação no mercado é absolutamente marginal. Essa é a avaliação feita pelo professor de Planejamento e Gestão do Espaço Urbano do curso de Geografia da UFT, o pós-doutor em Geografia Adão Francisco de Oliveira.
Segundo Adão Francisco, o Capadócia é uma pós-ocupação, surgida por aqueles que não conseguiram no ordenamento do Taquari a garantia do espaço para a construção de sua moradia, ou que chegaram depois na cidade e margearam o último bairro constituído.
Nesse sentido, o professor define o processo que caracteriza a marginalidade social de população do Capadócia de “integração excludente”, ou seja, “é uma parcela de trabalhadores que são atraídos para a cidade em busca de oportunidades e que nela são importantes pelas várias funções que podem desempenhar, mas estando na cidade, para onde foram atraídos, integrados, são internamente expulsos, excluídos por sua condição de vulnerabilidade”.
O doutor entende que ao longo dos últimos 5 anos o Capadócia foi se tornando mais evidente em Palmas porque nesse período houve o desmonte e a redefinição das políticas de redistribuição de renda no país. Isso aconteceu com o Bolsa Família, que diminuiu o seu alcance e o valor; o Minha Casa Minha Vida, que passou a priorizar financiamento para habitações à classe média; o Territórios da Cidadania, que deixou de amparar o sujeito do campo. Por outro lado, a política monetária do atual governo federal, que desvaloriza o real frente ao dólar, estimula o agronegócio, que emprega poucos trabalhadores, e desestimula a indústria de bens para consumo interno, gerando desemprego estrutural.
Mas essa desvalorização da moeda nacional, num país dominado pelas monoculturas, faz com que os produtos básicos da mesa dos trabalhadores, como o arroz e o feijão, uma vez tendo que ser importados de outros países, cheguem muito caros aqui, gerando inflação, carestia e miséria. “Assim, o Capadócia é dominado por uma população que vive abaixo da linha da pobreza”, conclui Adão Francisco.