Todos os anos são registrados cerca de 10 mil suicídios no Brasil e mais de um milhão em todo o mundo. Mas o que leva uma pessoa a decidir morrer?
A pergunta é um tanto dura, eu sei. E também não sei se existe uma única reposta. Frustrações, dores angustiantes e um sofrimento intenso. E também um quadro profundo e muitas vezes negligenciado de algum aspecto da saúde mental tem impactos imensuráveis em nossas vidas.
Mas como se colocar no lugar do outro quando estamos falando de morte e vida? Os especialistas definem o suicídio como um tema bastante complexo, mas que se trata de uma questão de saúde pública. Por isso, precisa ser discutido para que a gente possa criar ferramentas para lidar com o problema — tanto quem fica, quanto quem pensa em partir.
Desde 2015, o mês de setembro é dedicado à campanha SetembroAmarelo de prevenção ao suicídio. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 90% dos óbitos por suicídio estão ligados a doenças como a depressão, o transtorno por uso de substâncias, a esquizofrenia e os transtornos de ansiedade.
Dentro desse grupo, cerca de 50 a 60% das pessoas que morrem por suicídio nunca se consultaram com um profissional de saúde mental ao longo da vida.
Os números sensibilizam e chamam a atenção, mas, de acordo com a ABP, é importante colocar em pauta uma conversa responsável sobre o tema para que a gente afaste os principais obstáculos à busca por ajuda: o preconceito e o tabu.
Conversei com o psiquiatra Lucas Alves Pereira, membro das comissões científica e de emergências psiquiátricas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), sobre o quanto os transtornos de humor, como a depressão, são gatilhos para os comportamentos suicidas.
Leia a entrevista completa.
Todo caso de morte por suicídio está atrelado ao diagnóstico da depressão?
Lucas Pereira: A OMS diz que 90% das pessoas que tiram a própria vida possuem alguma doença mental. Mas o suicídio é algo muito complexo. Apesar de a doença mental estar atrelada a isso, ela não é o único fator.
E quando falamos em saúde mental não quer dizer que é só a depressão. A depressão e os transtornos de humor, como a depressão bipolar, estão presentes em 35% dos casos. Mas há também a esquizofrenia, os transtornos de personalidade, os transtornos vinculados ao abuso de álcool e drogas.
Mas a depressão tem cura?
A depressão tem cura. Mas a depressão também pode se tornar uma doença crônica. Esse diagnóstico leva em consideração a frequência e a permanência dos sintomas. Por exemplo, um episódio depressivo tem cura e, muitas vezes, não é preciso o uso de medicação. Agora, se o sujeito tem mais de um episódio e eles se tornam recorrentes, o diagnóstico passa a considerar o uso de medicamentos para controlar o quadro.
Mas é importante lembrar que mesmo o paciente que tem depressão crônica pode passar bons períodos se sentindo bem, mesmo sem o uso de medicamento. Isso porque a depressão envolve muitas variáveis, e é por isso que cada decisão para o tratamento é avaliada pelo psiquiatra e pelo psicólogo que acompanham o paciente.
Quais são os tratamentos para a doença?
É preciso um olhar multifatorial para a doença. A psicoterapia é muito importante nesse processo porque previne as crises e ajuda a superá-las. O exercício fisico é muito importante. A atividade física tem efeito neuroprotetor e faz parte do tratamento, seja um caso mais leve ou mais grave. Já o medicamento antidepressivo também ajuda a controlar os casos recorrentes.
Mas a depressão é uma doença que tem 30% do seu caráter genético. Ou seja, os outros 70% dependem de fatores externos e como eles impactam a gente.
Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 188, para o CVV – Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar. O movimento Conte Comigo oferece informações para lidar com a depressão. No exterior, consulte o site da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio para acessar uma base de dados com redes de apoio disponíveis.
Fonte: Huffpost Brasil