Isso me lembrou de um momento angustiante que vivi quando estava no segundo ano da faculdade e me sentia desamparada, infeliz e desesperada para cair fora de lá.
Eu então não sabia, mas me encontrava na faixa etária –de 18 a 24 anos– que agora tem a incidência mais alta de solidão, chegando a ser 50% maior que entre os idosos. Segundo especialistas, para jovens adultos, a solidão e o isolamento social são grandes fatores causadores do suicídio.
Felizmente, visitei o ambulatório da universidade onde uma psicóloga astuta examinou meu histórico escolar, incluindo uma longa lista de atividades extracurriculares no ensino médio, e observou que eu fizera apenas a lição de casa durante meu primeiro ano de faculdade.
“Não há nada grave acontecendo com você que não se cure com um maior envolvimento da sua parte com a comunidade universitária”, disse ela. A psicóloga pediu para eu me envolver com algo que me conectasse com alunos com interesses semelhantes.
Protestei afirmando que estudando bioquímica e tendo aulas seis manhãs por semana e quatro idas ao laboratório à tarde eu não tinha tempo para atividades extracurriculares. E ela retrucou: “Encontre tempo. É essencial para a sua saúde e para uma experiência universitária bem-sucedida.”
Sem melhores opções, entrei para revista mensal dos estudantes que cabia na minha exigente rotina acadêmica. Logo me apaixonei por entrevistar pesquisadores e elogiar seu trabalho. Também me tornei amiga de um consultor da revista, um professor que me tratava como a uma neta e me incentivou a expandir meus horizontes e a seguir meu coração.
Dois anos depois, como quartanista e editora da revista, troquei os cursos em físico-química e bioquímica avançada por jornalismo e redação para revistas.
O resto é história. Armada com mestrado em jornalismo científico e dois anos como repórter de geral, aos 24 anos fui contratada pelo “New York Times” como redatora de ciências, emprego que amo há 53 anos. Ao fazer conexões sociais compensadoras na faculdade, eu não apenas venci a solidão como também achei o caminho para uma carreira maravilhosa.
“As conexões sociais, de forma muito real, são a chave para a felicidade e a saúde”, observou Jeremy Nobel, fundador do Projeto Jeremy Nobel e membro do corpo discente em clínica geral da Faculdade de Medicina Harvard. Em artigo para “The Boston Globe” escrito a quatro mãos com Michelle Williams, diretora da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade Harvard, esses especialistas afirmaram que a solidão e o isolamento social desempenham “um papel incomum” em mortes evitáveis por suicídio.
Eles pediram que as relações sociais sejam consideradas uma grande questão nacional de saúde pública “para diminuir essas mortes dolorosas e evitáveis causadas pelo desespero”.
Internet e mídia social ampliam a sensação de solidão, depressão e ansiedade
Porém, não são apenas os jovens que são solitários. “Mais de um terço dos adultos são cronicamente solitários e 65% das pessoas estão seriamente solitárias parte do tempo”, Nobel declarou em entrevista. Entre os grupos com taxas especialmente elevadas de solidão estão militares veteranos, 20 dos quais, em média, tiram a vida por dia. Metade dos diretores executivos de empresas vivenciam a solidão (o topo pode ser solitário), estado que pode influenciar adversamente o desempenho profissional.
O índice de solidão persistente também é elevado entre idosos os quais, além das limitações impostas por doenças crônicas, podem sofrer os efeitos isolantes de questões de mobilidade, falta de transporte e perda auditiva não tratada.
Entretanto, Julianne Holt-Lunstad, professora de psicologia da Universidade Brigham Young, declarou na conferência UnLonely que ninguém está imune aos efeitos tóxicos do isolamento social. “É tão angustiante, tem sido usado como uma forma de punição e tortura”, afirma Holt-Lunstad.
“A solidão enfraquece a vitalidade, prejudica a produtividade e reduz a alegria da vida”, escreveram Nobel e Williams. Seus efeitos sobre a saúde são comparáveis aos da obesidade, abuso do álcool e de fumar 15 cigarros por dia, aumentando o risco de morte prematura em 30%.
Segundo Nobel, a meta do Projeto UnLonely é conscientizar o aumento de sua incidência, seus efeitos nocivos e reduzir o estigma –os sentimentos de vergonha– ligados a ela.
“Queremos que as pessoas saibam que a solidão não é sua culpa e incentivá-las a se envolver em atividades que possam reduzi-la”, ele diz. Uma atividade retratada no festival de cinema apresenta um grupo de idosas do bairro do Harlem, Nova York, que participa de nado sincronizado. Uma das mulheres afirmou que nem sequer sabia nadar ao entrar para o grupo e que agora não perde uma aula.
Em Augusta, Geórgia, em parceria com a AARP, ONG voltada à terceira idade, um programa de pintura coletiva, bem como de música e dança, foi criado para cuidadores que costumam ter poucas oportunidades para se conectar com outras pessoas e ter os benefícios de apoio mútuo e amizade.
Fazer algo criativo e protetor ajuda tanto cuidadores e pessoas que sofrem com doenças crônicas graves a saírem e se sentirem mais conectadas, declarou durante a conferência, realizada pela Fundação para Arte e Cura, Ruth Oratz, oncologista do Centro Médico Langone da Universidade de Nova York.
De acordo com Nobel, a meta da fundação é promover o uso de artes criativas para reunir pessoas e promover a saúde e a cura por meio de atividades como escrever, música, artes visuais, jardinagem, artes têxteis, como tricô, crochê e bordado, e até pela culinária.
“A solidão não apenas o faz infeliz –ela mata. A expressão das artes criativas tem o poder de conectá-lo a si mesmo e a outras pessoas. Que tal um jantar mensal em que todos trazem um prato? É uma maneira simples e excelente de se conectar e comer boa comida.”
Boa parte da vida moderna, que embora pareça promover a conectividade, tem tido o efeito oposto de estimular o isolamento social e a solidão, asseguram especialistas. Segundo a Fundação, “o envolvimento com a internet e a mídia social ampliam a sensação de solidão, depressão e ansiedade”.
Os indivíduos raramente contam histórias pessoais de aflição e isolamento no Facebook. Pelo contrário, as publicações na mídia social geralmente trazem alegria e amizade, e, quem não tem isso, costuma se sentir excluído e desolado. As comunicações eletrônicas costumam substituir as interações pessoais cara a cara e os sinais sutis de angústia e mensagens de ternura e carinho que essas interações podem transmitir.
Assim, pense em marcar um horário nesta semana para encontrar um amigo para tomar café, jantar, visitar um museu ou simplesmente caminhar. Comunidades on-line como Meetup.com podem ser uma boa fonte para encontrar outras pessoas com interesses comuns. Se não tiver outra opção, pegue o telefone e converse com alguém. Há uma boa chance de você se sentir melhor depois disso.
Fonte: Uol