A tatuagem no “tororó” feita pela cantora Anitta motivou polêmicas após ser criticada por um cantor sertanejo e, indiretamente, levou a investigação sobre a destinação de verba pública.

Mas para além do debate que ela motivou, quais os riscos para a saúde envolvidos em tatuar o ânus, a vulva ou outras partes delicadas do corpo, como o pênis, a boca ou os olhos?

Veja em detalhes abaixo:

Tatuagem no ânus

 

Especialistas ouvidos  explicam que existem alguns fatores para que o ânus seja considerado uma área de risco para tatuagens. Um deles é que, por ser uma mucosa, ele não tem as mesmas proteções que o resto da nossa pele. Isso faz com que fique mais fácil contrair infecções por meio dele.

“A nossa pele é protegida naturalmente por uma barreira cutânea – que é a presença da queratina, da epiderme. Nesse contexto, a gente vai imaginar uma área com mucosa – que é a região do ânus, uma área que não tem queratina – assim como uma glande, por exemplo, o introito vaginal, que é uma mucosa também. Todas são regiões que estão mais propícias a desenvolver infecções”, explica o dermatologista Emerson Lima, que atende em Recife.

Pelo fato de serem regiões mais sensíveis, se a pessoa tiver uma reação alérgica, por exemplo, a chance de que aquilo se torne algo mais grave é ainda maior, acrescenta o dermatologista.

“As pessoas tatuam a pele e podem desenvolver dermatite de contato pelo pigmento, alergias, uma cicatriz, queloide. Imagine isso numa região de ânus e vulva. Tudo isso passa a ser aumentado. É um risco maior, porque é uma região mais sensível”, afirma Emerson Lima.

 

Um outro ponto lembrado pelo dermatologista é a cicatrização. Para que ela aconteça, é preciso manter o local o mais limpo possível. E o fato de o ânus ser o local de saída das fezes complica esse processo.

“Para o processo de cicatrização acontecer, quanto mais limpo o meio, melhor. Imagine isso na região do ânus, que está descendo fezes em cima da tatuagem. Numa área que acabou de ser manipulada”, pontua Emerson Lima.

Além disso, o ânus tem, naturalmente, uma alta concentração de bactérias, e é considerado uma região “contaminada”.

Tatuagem na vulva e no pênis

 

No caso da vulva, os riscos também existem e não devem ser desprezados.

“A vulva tem uma colonização de bactérias própria dela que, quando é quebrada, existem as infecções. Pode ter uma infecção fúngica, por exemplo, um corrimento vaginal. A partir do momento em que você manipula a vulva – que é uma região de pele fina, de mucosa, vai ter mais chance de desencadear uma inflamação de que em outra região como, por exemplo, o braço, a barriga, o dorso, porque a pele é mais espessa, tem uma proteção natural”, reforça Emerson Lima.

Um outro risco de tatuar o órgão é que, se a inflamação gerada naturalmente pela quebra dessa barreira for muito grande, existe a chance de que seja formada uma queloide no local, uma cicatriz elevada – atrapalhando futuras relações sexuais, por exemplo.

Já o pênis, por ser um tecido frouxo, tem muitas chances de inchar se sofrer algum trauma.

“Qualquer pancada no pênis, qualquer picada, inflamação, é acompanhada de muito inchaço, de muito edema, porque é um tecido frouxo, é uma pele mole – como é a pele de mucosa”, explica o dermatologista.

 

“Então, claro, a manipulação com agulha e pigmento vai ser acompanhada de mais inchaço, de mais reação inflamatória, naturalmente. E, se essa pessoa tiver uma sensibilidade aumentada, isso vai tomar proporções maiores ainda. Sem dúvida nenhuma, pigmentar uma área genital oferece mais risco do que tatuar uma outra região“, reforça Lima.

Assim com o o ânus, tanto o pênis quanto a vulva têm maior concentração das glândulas apócrinas de produção de suor. Essa transpiração também favorece a proliferação de bactérias.

“Não é à toa que é uma região que o cheiro é diferente do resto do corpo – tem mais chance de ter um odor vindo dessa região. E o que é o odor? É nada mais do que a proliferação de bactérias; o suor não tem cheiro”, lembra o médico.

 

Tatuagem nos olhos

 

Existem alguns riscos ligados a tatuar a “parte branca” (como é chamada a parte conjuntiva) do olho. Esse tipo de tatuagem é a que geralmente é feita em estúdios, com tatuadores, para fins estéticos – existem tatuagens oculares feitas por questões de saúde, mas essas são feitas por médicos, em consultório.

Tatuagem no olho e em todo o rosto — Foto: Mariane Rossi/G1

Tatuagem no olho e em todo o rosto — Foto: Mariane Rossi/G1

Um deles é o perigo potencial de a tinta usada ser tóxica, apontam especialistas ouvidos.

“Precisa ser uma tinta de qualidade médica aprovada pela Anvisa. [Do contrário] você está botando dentro do seu corpo uma coisa que não é aprovada por ninguém”, pontua o médico oftalmologista Paulo Schor, diretor de inovação e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

“Preto ou colorido, tanto faz – é muito mais o grau de pureza e da qualidade dessa tinta. Se tiver elementos tóxicos, por exemplo, fenol, algum resquício de produto químico que é tóxico, ela vai causar inflamação”, pontua o médico.

O oftalmologista Emerson Castro, que atende em São Paulo, reforça os pontos e lembra que, para tatuar qualquer superfície, é preciso fazer microperfurações para que a tinta possa entrar.

“O olho é muito sensível a produtos químicos. Ao furar, ao fazer microperfurações, você expõe o olho a infecção, a dano químico da tinta. Você quebra essa barreira protetora do olho – e fica mais fácil que micro-organismos consigam entrar nas camadas internas”, observa.

 

Schor completa que, se a tinta estiver infectada, por exemplo, pode haver uma infecção ocular.

“E a infecção é a proliferação de micro-organismos na região ocular, que é uma região muito sensível – qualquer cicatriz afeta a visão”, lembra.

Castro relata, justamente o caso de um paciente que fez uma tatuagem no olho e sofreu uma endoftalmite, uma infecção no interior do olho. Ele acabou perdendo a visão.

“É como se fosse um pós-operatório. Como é desregulamentado, será que usam um colírio no pós-operatório? Que tipo de colírio? O tatuador é habilitado para prescrever colírio? É tudo ilegal. É imoral, até.Você se expõe a um risco desnecessário”, diz o médico.

 

Tatuagem na boca

 

A boca, assim como a vulva, o ânus e o pênis, também é uma região de mucosa – e com grande proliferação de bactérias. Por isso, tatuar a região também apresenta riscos.

“É uma cavidade muito colonizada por bactérias. É uma região muito contaminada – entram alimentos, esses alimentos degradam na cavidade oral, fica resíduo de alimento, esse resíduo favorece a proliferação de bactéria. É um meio muito colonizado por bactérias. Você imagine manipular agulha e o pigmento dentro de um meio desse – você vai estar inoculando bactérias dentro da pele”, aponta Lima.

Fonte: G1