Nos últimos meses, muita gente brincou com o fato de almoços de famílias, churrascos com os amigos e até a ceia de Natal estarem ameaçados por causa das discussões durante a disputa eleitoral no Brasil. Mas isso não é só piada e, realmente, a grande tensão vivida nesse momento pode causar impactos no organismo das pessoas que afetam o convívio social.

Um estudo recente publicado no Journal of American College Health, realizado por
especialistas da Universidade do Estado de São Francisco (EUA), mostra que jovens
adultos tiveram problemas graves durante as eleições do país em 2016. Das 769
pessoas analisadas no trabalho científico, 25% manifestaram sintomas de transtorno de
estresse pós-traumático.

Segundo a pesquisa, para algumas pessoas, o momento político pode causar sintomas
depressivos, ansiedade, preocupação em excesso, dificuldade para dormir, problemas
de concentração… Além de deixá-las mais sobressaltadas, hipervigilantes e expostas
a gatilhos emocionais relacionados às eleições.

De acordo com Higor Caldato, psiquiatra pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), durante períodos de competições, sobretudo eleições, é uma tendência do ser humano ficar com os nervos à flor da pele para defender seus ideais.

Disputas acirradas entre candidatos com ideias opostas –como foi o caso das eleições
norte-americanas abordadas pela pesquisa e é o atual cenário da corrida presidencial
brasileira — tendem a deixar as pessoas mais estressadas, defensivas e não é incomum
ver discussões entre amigos e familiares. Isso porque se quem você gostaria que
ganhasse não sair vitorioso, a outra opção pode representar ameaças a suas crenças e
ideais.

“O problema é que isso pode deixar de ser uma ansiedade natural, de querer saber o
que vai acontecer no futuro, e se tornar algo mais sério, uma questão que atrapalha sua
vida social, seu trabalho e até traz sintomas físicos, como dores no corpo e tremores”,
explica Caldato. “Os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático são fortes a
ponto de serem comparados com traumas graves, como acidentes físicos e até violência
sexual”, esclarece o especialista.

Por prolongar a disputa eleitoral, o segundo turno pode, além de ampliar a duração do
quadro, piorá-lo. E o fim da corrida não significa o fim dos sintomas. “Quem não é
favorável ao resultado pode manter os efeitos negativos e, por isso, se você está
sofrendo, não espere os indícios passarem, procure ajuda profissional. Com
acompanhamento, será mais fácil identificar gravidade do quadro.”

O profissional reforça que é necessário maturidade emocional para lidar com a situação.
“Minha dica é se fortalecer nos outros sentidos da vida, apesar de a política ser
essencial, estamos fragilizando alicerces importantes como familiares, amigos, saúde
física e mental. Aí, ficamos mais reféns ainda da política. A tolerância é essencial para
manter os alicerces que estamos construindo há anos.

 

Fonte: Uol Viva Bem