Família denuncia descaso em enterro de idosa Xerente no Tocantins

O enterro de Josefa Wakrodi Xerente, de 78 anos, foi marcado por indignação e revolta na comunidade indígena Salto Kripre, localizada a 12 km de Tocantínia, região central do Tocantins. Ao abrir o caixão para realizar os rituais tradicionais, familiares encontraram, além do corpo da idosa, resíduos como papelão, sacolas plásticas, ataduras e até plástico bolha.

A situação, registrada em vídeo pelos parentes, gerou forte repercussão e levantou questionamentos sobre a dignidade e o respeito no tratamento dado aos povos indígenas.

Josefa faleceu na madrugada de quinta-feira, 28, por volta das 3h, no Hospital Regional de Miracema, onde estava internada desde 20 de agosto com pneumonia e insuficiência respiratória. O corpo foi entregue à aldeia no mesmo dia, por volta das 14h.

De acordo com o genro da idosa, o professor Valci Sinã, o material foi descoberto apenas quando o clã responsável pela preparação do corpo abriu o caixão.

“Pela cultura, assim que o corpo chega, cada clã assume uma responsabilidade. Quando abrimos para preparar, lavar e banhar o corpo, percebemos o que havia dentro. O caixão estava lacrado e parecia tudo normal por fora, mas, ao abrir, vimos o descaso”, relatou.

Segundo ele, um carrinho de mão inteiro foi preenchido com os resíduos encontrados junto ao corpo.

Para a família, a situação representa não apenas negligência, mas um desrespeito direto à memória da idosa e à cultura indígena.

“Todos os corpos que chegam deveriam ser tratados com respeito e dignidade. Nunca imaginamos ver algo assim. O que aconteceu foi uma falta de cuidado e de respeito da empresa que presta serviço para o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI)”, afirmou Valci Sinã.

Providências do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena Tocantins (DSEI-TO), confirmou a ocorrência e informou que notificou imediatamente a empresa responsável pelo serviço funerário.

Em nota, a pasta declarou que “não admite situações que desrespeitem a dignidade dos povos indígenas” e garantiu que outras medidas administrativas e legais estão sendo tomadas. O ministério também manifestou solidariedade à família e à comunidade Xerente.

Brener Nunes

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins

Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins