
Nos últimos dois anos, o Tocantins registra queda da pobreza e da violência letal, alta da renda e do emprego, e expansão do tempo integral na rede escolar. Ao mesmo tempo, persistem desafios como homicídios acima da média nacional, bolsões de pobreza e indicadores sensíveis (como trabalho infantil) que exigem políticas contínuas e focalizadas.
Pobreza, renda e proteção social
Depois do pico no triênio pandêmico, o Brasil registrou em 2023 a menor taxa de pobreza desde 2012; tendência que também alcança o Tocantins. A Síntese de Indicadores Sociais 2024 do IBGE mostra recuo da pobreza no país de 31,6% (2022) para 27,4% (2023), com 8,7 milhões de pessoas saindo dessa condição.
No estado, dados oficiais apontam queda da extrema pobreza de 7,6% (2021) para 4,2% (2023) o menor patamar desde 2012, o que representa mais de 50 mil pessoas a menos nessa condição.
A melhora de renda também aparece na PNAD Contínua: entre 2022 e 2024, o rendimento médio dos tocantinenses cresceu 16,1% em termos reais, enquanto o Índice de Gini caiu ao menor nível da série para a renda domiciliar per capita, sinalizando redução da desigualdade.
Na rede de proteção, o Bolsa Família segue com forte capilaridade: em setembro de 2025, mais de 144 mil famílias receberam o benefício no Tocantins (valor médio próximo de R$ 694), com investimento mensal acima de R$ 100 milhões. Em julho de 2025, o total havia sido de 147,6 mil famílias (benefício médio de R$ 687,86).
Emprego e desigualdade
No 1º trimestre de 2025, a taxa de desocupação no Tocantins ficou em 6,4%, entre as menores do Norte/Nordeste, segundo o IBGE. Em paralelo, o rendimento médio e a queda do Gini reforçam um ciclo de recuperação pós-pandemia.
Violência: queda consistente, mas atenção a pontos de pressão
O Atlas da Violência 2025 e balanços recentes indicam queda dos homicídios no Tocantins entre 2022 e 2023 (-13,3% nas taxas estimadas) e novas reduções de 2024 para 2025. No 1º semestre de 2025, os homicídios caíram 5,1% versus igual período de 2024; os feminicídios recuaram 25% (de 8 para 6 casos).
Ainda assim, a taxa de homicídios em 2023 foi de 27,7 por 100 mil habitantes (acima da média brasileira e abaixo da média da Amazônia Legal), com 419 ocorrências no ano — quadro que exige continuidade das ações preventivas e investigativas.
Educação: expansão do tempo integral
A matrícula em tempo integral avançou de 26,3% (2022) para 36,3% (2024) no Tocantins, com aumento tanto na pré-escola quanto no ensino fundamental e médio, segundo o MEC/INEP. A expansão do tempo integral é reconhecida por reduzir evasão e violência escolar, além de melhorar aprendizagem.
Saneamento e condições urbanas
Relatórios com base no SNIS indicam que o Tocantins ocupa posição de destaque no Norte em abastecimento de água e esgotamento sanitário. Em 2023, os dados estaduais reportam 97,9% de cobertura de água, 78,3% de esgoto e 66,8% de tratamento do esgoto coletado — patamar superior ao de vizinhos da região, mas ainda distante da universalização prevista em lei.
Sinais de alerta social
Relatórios recentes acendem luz amarela para trabalho infantil: enquanto o Brasil caiu 14,6% em 2023, levantamento específico aponta aumento no Tocantins, demandando resposta intersetorial de fiscalização, assistência e educação integral.
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O que os números mostram e o que fazer com eles
1. Renda e pobreza: a combinação de mercado de trabalho mais aquecido, renda em alta e transferências de renda explica boa parte do recuo da pobreza e da extrema pobreza. Manter o foco em inclusão produtiva (qualificação, microcrédito orientado, compras públicas) ajuda a transformar alívio imediato em mobilidade social.
2. Segurança pública: a redução dos homicídios é real, mas a taxa por 100 mil ainda é elevada para padrões nacionais. Prioridades: investigação qualificada, enfrentamento a violências de gênero, controle de armas e políticas de juventude (escola em tempo integral, esporte e cultura em territórios vulneráveis).
3. Saneamento e urbanização: cobertura elevada de água e bons números de esgoto, mas é preciso avançar no tratamento e na qualidade do serviço para reduzir doenças e gastos evitáveis em saúde.
4. Infâncias e adolescências: o dado de trabalho infantil no estado pede força-tarefa com escolas, Conselhos Tutelares, MPT, redes de assistência e geração de renda familiar, inclusive com tempo integral e busca ativa de evasão escolar.
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Metodologia e fontes:
Esta reportagem utilizou, prioritariamente, dados oficiais e publicações de referência: IBGE/PNAD Contínua e SIS 2024, MEC/INEP, SNIS, FBSP/Atlas da Violência e SENASP/MJSP. Links e documentos consultados: pobreza no país em 2023 (IBGE/SIS), extrema pobreza no Tocantins (dados oficiais do governo do estado, oriundos do IBGE), renda e Gini (Secom federal), emprego (PNAD/IBGE), homicídios (Atlas da Violência/FBSP; Amazônia Legal em Dados/DATASUS; balanços oficiais), tempo integral (MEC), saneamento (SNIS, via governo estadual) e trabalho infantil (IBGE/MTE).