Pacientes relatam problemas do Henfil em Palmas: atrasos em consultas e exames colocam tratamento de HIV em risco

O Núcleo de Assistência Henfil, em Palmas, já foi referência no atendimento a pessoas vivendo com HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no Tocantins e em toda a região Norte do país. Hoje, no entanto, enfrenta um processo de desmonte que tem impactado diretamente a rotina de pacientes e profissionais.

Relatos de usuários e servidores apontam que as dificuldades começaram ainda na gestão da ex-prefeita Cinthia Ribeiro, mas foram intensificadas na atual administração do prefeito Eduardo Siqueira. Atrasos em consultas, dificuldade de agendamento de exames e a falta de retorno no acompanhamento médico têm comprometido seriamente o tratamento.

Antes, todo o sistema de consultas e exames era gerido pela própria unidade, o que facilitava o controle dos pacientes, garantindo regularidade no acompanhamento. Hoje, com a fragmentação dos processos, os atrasos se tornaram frequentes, prejudicando, inclusive, a emissão de pedidos para exames de carga viral, fundamentais para monitorar a saúde das pessoas vivendo com HIV. Há casos em que, mesmo na rede particular, pacientes relatam que os planos de saúde não aceitam formulários de exames emitidos apenas por farmacêuticos, obrigando-os a recorrer ao setor público sem garantia de agilidade ou até mesmo atrasando exames de rotina.

“Faço tratamento há mais de 10 anos e nunca havia acontecido algo como no último ano. Há uma promessa de consultas que serão marcadas pela Secretaria de Saúde, mas que nunca acontecem. A logística de exames, que antes era facilitada, foi reduzida e, mesmo quando a gente pede o formulário para fazer o exame na rede privada, na maioria das vezes os planos não aceitam, porque precisa da assinatura do médico. Mas como ter o formulário correto se não há consultas?”, questionou um servidor público de 32 anos, que afirmou estar desesperado com a situação.

Já uma empresária de 30 anos, que também prefere não se identificar, contou que acompanha o irmão, uma pessoa neurodivergente que vive com HIV , no tratamento de HIV e que a situação se agravou. “É complicado manter uma rotina. Sabemos da importância do monitoramento dos exames e dos remédios, mas é assim que essa população é tratada. A grande maioria não vai se expor para cobrar os seus direitos”, ressaltou a empresária, moradora de Palmas.

Para quem mora no interior, o cenário é ainda mais difícil. “A gente liga e não atendem, ou quando atendem dizem que a demanda é da secretaria. Houve um desmonte geral do atendimento. Quem depende de Palmas já enfrenta essa dificuldade. Agora imagine nós, que moramos no interior, sem saber se vai ter consulta, com exames atrasados, o que automaticamente atrapalha a retirada dos remédios. É uma situação triste”, relatou um paciente, que revelou já ter precisado buscar medicação em atraso em outra unidade, em Araguaína, por falta de atendimento em Palmas.

Especialistas alertam que falhas nesse acompanhamento podem comprometer não apenas a saúde individual, mas também o controle epidemiológico do HIV em Palmas e no Tocantins. O atraso em exames e consultas interfere no monitoramento da carga viral e, consequentemente, no êxito das estratégias de prevenção.

Retaliações aos servidores

Outra denúncia grave é a de retaliações contra servidores. Profissionais que atuam há anos na unidade, conhecidos pela postura de acolhimento e orientação humanizada, afirmam ter sido transferidos após orientar pacientes a buscarem seus direitos. Esses relatos reforçam o clima de insegurança dentro de um espaço que sempre foi símbolo de confiança para os usuários.

“Temos relatos reais de servidores que estavam há mais de uma década na unidade, sempre muito cordiais e atenciosos, sendo transferidos porque orientaram os usuários a buscarem seus direitos. Isso é desumano, é tentar calar aqueles que ainda falam pelos que não têm coragem”, afirmou o servidor público de 32 anos.

Nota da Secretaria de Saúde

A Secretaria Municipal de Saúde (Semus ) informa que, no dia 1º de agosto, um médico infectologista solicitou exoneração e, imediatamente, a Gerência de Atenção Especializada protocolou o pedido de substituição do profissional.

Atualmente, a unidade conta com equipe multiprofissional composta por 1 nutricionista, 2 assistentes sociais, 1 psicólogo, 4 enfermeiras, 4 técnicos de enfermagem, 2 médicos infectologistas, 1 urologista, 1 ginecologista e 3 farmacêuticos. Está em planejamento a contratação de um médico clínico geral, com o objetivo de ampliar a capacidade de atendimento e oferecer suporte mais abrangente às demandas dos usuários.

A Semus reitera que a gestão segue em constante avaliação das necessidades da unidade, melhorias nos serviços ofertados, buscando qualificar e assegurar um atendimento mais humanizado e resolutivo às pessoas vivendo com HIV e outras ISTs em Palmas.