
No seu discurso de posse como a primeira mulher negra a assumir a reitoria da Universidade Federal do Tocantins (UFT) nesta quinta-feira, 13/11, a professora doutora Maria Santana deu uma verdadeira aula de como resistir a situações adversas e usar a educação para atingir a meta desejada.
Ao agradecer seus pais e seus familiares ali presentes, a reitora foi clara: “Só estou onde estou hoje por causa de vocês. Nasci nesse berço muito cheio de amor, mas com muita pobreza. Estar aqui me dá a certeza de que eu tenho um caminho muito longo a trilhar, ainda”.
Relembrou que seus pais diziam que nunca tinham visto uma pessoa tão espevitada como eu. “Eu enfrentava tudo. Até os bichos da roça eu enfrentava, montava num cavalo brabo e campeava como um homem. De uma coisa que eu tenho medo: ‘apenas é do Todo Poderoso, o restante não me traz nenhum abatimento. Eu enfrento. Os obstáculos são para serem vencidos, enfrentados, quebrados. E se não for possível quebrar, pule. Eu sou como a água, entro entre as mãos e chego até onde quero chegar”.
A professora revelou que tem várias mulheres que ajudaram a moldar a sua vida. “E eu sou feita dessas mulheres. Uma delas minha mãe, outra a professora Dorinha. Antes de ser senadora, você foi uma pessoa que contribuiu com a nossa história. Gratidão por isso”. Citou também várias outras mulheres que lhe influenciaram. “Esse é um dia que carrego no coração com profunda gratidão”, revelou.
Segundo a reitora da UFT, educação é capaz de transformar vidas. “Ao chegar a esse palco, não venho só. Venho com as vozes de minha mãe, das minhas avós, de todas as mulheres que caminharam antes de mim, enfrentando a escassez com coragem e plantando esperança. Essa filha de um lavrador e de uma mulher forte que me ensinou que o estudo nos abre caminhos quando todo mundo nos tenta fechar”.
“Cresci na zona rural, entre o trabalho na roça, o cuidado com os irmãos e sonho de estudar. Houve dias difíceis, mas a educação sempre esteve ali como promessa de futuro. Cada passo que dei até aqui foi movido pela certeza de que o conhecimento transforma vidas. E é por isso que hoje, ao olhar para essa comunidade, eu pergunto: quem é a UFT?”
E ela mesma responde: “A UFT é uma grande universidade, é uma casa construída pelas mãos e pelos sonhos de um povo que decidiu não ser silenciado. Filha da esperança, a UFT nasceu da luta pelo direito de aprender, pela defesa da universidade pública e pelo desejo de ver o Tocantins crescer com dignidade e oportunidade. Hoje a UFT vive em cada estudante que chega cheio de expectativa, vive nos jovens do campo e da cidade, dos interiores, das comunidades quilombolas, indígenas e tradicionais. Vive na mãe solo que estuda à noite, no servidor que mantém tudo funcionando com orgulho silencioso. No professor que ensina, no pesquisador que insiste mesmo diante das dificuldades. A UFT é multicampi, multiétnica, multicultural e multidisciplinar. É a porta aberta para quem transformar o mundo a partir desse território”.
E arremata: “UFT é o coração do Tocantins. E hoje esse coração bate forte quando uma mulher preta assume pela primeira vez a reitoria dessa instituição. (A UFT) Soube permitir que muitas meninas e meninos olhem para essa noite e diga: existe lugar para mim e é possível chegar lá”.
Breve perfil
A reitora Maria Santana Ferreira dos Santos Milhomem cresceu na zona rural de Dianópolis, região sudeste do Tocantins. Filha de lavradores, sempre demonstrou interesse na área da educação. Na infância, ensinava colegas na escola da comunidade onde estudava e passou a lecionar quando ainda estava no ensino médio.