Mais de 52% brasileiros com 25 anos ou mais não concluíram o ensino médio. Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018 mostram que ainda é alto o número de brasileiros que não frequentaram as escolas na idade apropriada. A pesquisa ainda aponta que a maior parte, 33,1%, não concluiu sequer o ensino fundamental.

Trabalhadores da construção civil e moradores da comunidade receberão amanhã (18) o diploma de ensino médio após frequentarem aulas dentro do canteiro de obras. Eles não farão mais parte dos 52% dos brasileiros com 25 anos ou mais que não concluíram o ensino médio. Saiba a história de alguns dos formandos.

Em Goiânia, a operadora de máquinas de bordado Jacileia Ferreira, 34 anos, felizmente, deixará essa estatística, pois na próxima quarta-feira (18) ela receberá o seu diploma de ensino médio junto com outros dez alunos participantes do Programa Educação do Trabalhador, desenvolvido pelo Sesi Planalto em parceria com a Dinâmica Engenharia. Ela conta que estudou até o 7º ano do ensino fundamental e teve que abandonar a escola com 18 anos. “Foi quando chegou o meu primeiro filho e não consegui conciliar as tarefas de casa com os estudos. Depois vieram mais duas crianças e ficou ainda mais complicado”, lembra Jacileia.

A operadora de máquinas de bordado viu a oportunidade de voltar aos estudos quando seu marido, o pedreiro Leandro Ferreira, chegou em casa contando a novidade de que a construtora abriria uma turma para colaboradores da obra e pessoas da comunidade. “Ele me contou sobre essa oportunidade e, mesmo não sendo funcionária, acabei abraçando a ideia e começamos a estudar juntos”, comenta Jacileia. “Sentia a necessidade de me capacitar e agora quero seguir os estudos, talvez com um curso de técnica de segurança do trabalho”, completa.

De acordo com a técnica de segurança da Dinâmica Engenharia, Cintia Dorneles de Souza, uma das coordenadoras do projeto, o oferecimento do EJA na obra é uma oportunidade para aqueles que não tiveram a chance de completar os estudos na idade indicada possam realizar o sonho. “Muitos não tinham nem tempo para pegar um ônibus e ficar horas no trânsito. Durante as aulas no próprio canteiro de horas, eles ganhavam tempo, pois paravam suas atividades, tomavam banho, lanchavam e saiam direto para a sala de aula, economizando tempo e dinheiro, além de chegar mais cedo em casa”, destaca.

Esperança

Dos 11 formandos do ensino médio, nove são moradores da comunidade e dois são colaboradores da construtora. Eles integram o grupo de mais de 3,5 milhões de estudantes matriculados nos ensinos fundamental e médio do EJA, modalidade destinada a jovens, adultos e idosos que não tiveram oportunidade de frequentar as escolas convencionais na idade apropriada. Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ainda apontam que 84.790 alunos estavam matriculados na modalidade em 2018.

Entre os formandos da próxima quarta-feira está o encarregado de instalações Osvaldo Silva que, após três anos de estudos de estudos, se formará na próxima quarta-feira (18) com 56 anos. Osvaldo decidiu parar de estudar há 35 anos, quando começou a trabalhar como servente. “Foi um momento muito difícil porque eu não conseguia conciliar com os estudos. Depois virei pedreiro e eletricista e não tive condições de voltar. Quando fiquei sabendo do projeto, decidi retornar algo que era um sonho”, destaca Osvaldo.

Casado, pai de duas meninas e avô de uma criança de seis meses, Osvaldo admite que está concluindo agora uma etapa que há muito tempo pretendia realizar e o projeto apresentado pelo grupo permitiu agarrar essa oportunidade. “Já saía do trabalho e ia direto para a sala de aula, que fica montada dentro da própria obra. Isso e o incentivo de toda a minha família ajudaram a alcançar esse objetivo”, disse o encarregado de instalações, que ainda sonha fazer um curso técnico na área de construção civil.

fonte: Comunicação sem Fronteiras