Reportagem Especial Gazeta do Cerrado pelo Jornalista Gustavo Rossetti

O Parque Estadual do Ibitipoca (MG) é a grande (e mais famosa) atração da região com suas cachoeiras, piscinas naturais, trilhas e grutas. Mas o que fazer em tempos de pandemia quando o parque, o mais visitado do estado de Minas Gerais, está fechado ou com restrição para visitação? Atualmente, as saídas para as trilhas dos circuitos Janela do Céu, Pico do Pião e das Águas estão limitadas a 93, 62 e 63 pessoas por horário, respectivamente. A Gazeta do Cerrado preparou uma matéria especial com dicas do que fazer em Ibitipoca e na região fora do parque. Mas atenção, lembre-se de evitar aglomerações e usar máscara e álcool gel.

Um dos mais antigos povoados mineiros, Conceição do Ibitipoca é um distrito pertencente ao município de Lima Duarte e fica na região sudeste de Minas Gerais, na chamada zona da mata, a 440 quilômetros de São Paulo, 279 do Rio, 260 de Belo Horizonte e 90 de Juiz de Fora, onde fica o aeroporto mais próximo.

A atração mais visitada e que rende mais fotos nas redes sociais dentro do parque é a Janela do Céu, com sua borda infinita e uma vista incrível emoldurada por pedras e árvores. O lugar é lindo, não há dúvida, mas já ouvimos visitantes comentando que “a cachoeira deve ser bem bonita, pena que não dá para vê-la”. É que da parte de cima, a despeito da visão deslumbrante dos vales, matas e montanhas da região, não vemos a queda d’água propriamente dita. Mas saiba que é possível, fora do parque, conhecer a chamada parte baixa da Janela do Céu e suas quedas d’água.

Iibitipoca Cachoeira Janela do Céu – Foto: Gustavo Rossetti

Localizada no Ribeirão Vermelho, com suas características águas cor de Coca-Cola, a cachoeira desce do parque estadual e forma uma sequência de sete quedas d’água. Para chegar na parte baixa, é preciso pegar a estradinha de terra que liga a vila de Conceição do Ibitipoca até o povoado de Moreiras, em um trajeto que dura cerca de 1 hora até o início da trilha. Antes do povoado, é preciso virar à direita e seguir até a entrada da fazenda que abriga as belezas naturais – prepare-se para abrir e fechar porteiras ao longo do caminho. Como a atração fica dentro de uma propriedade particular, é preciso pagar R$ 25 por pessoa para entrar.

Iibitipoca Cachoeira Janela do Céu Terceira Queda – Foto: Gustavo Rossetti

A sinalização e a estrada de terra são precárias em alguns trechos, então é recomendável consultar um mapa ou agendar a visita com um guia ou uma das agências locais que oferecem passeios de turismo rural que dão a volta em toda a extensão do parque, desde a Vila dos Moreiras, passando por Bom Jesus do Vermelho e Boa Vista, até o vilarejo Mogol. Outra dica importante é buscar informações sobre a situação da estrada de terra já no trecho dentro da fazenda. Quando a reportagem da Gazeta do Cerrado esteve por lá, em um período de chuvas, somente carros com tração 4×4 conseguiam chegar até o início da trilha, e os demais precisavam ser estacionados mais longe.

O complexo da parte baixa da Janela do Céu é composto por três quedas d’água e um poço. Do estacionamento até a primeira cachoeira, que tem muitas pedras e é difícil de ser acessada para banho, são aproximadamente 20 minutos de trilha em trecho de Mata Atlântica. Já a segunda queda d’água, bastante bonita e fotogênica com suas águas avermelhadas, conta com um bom poço para banho, mas que exige cuidado. Subindo um pouco mais pela trilha você encontra um outro poço propício para o banho, com partes rasas e fundas, e que abriga uma borda infinita. Não é a famosa borda que fica dentro do parque, mas oferece uma bela vista emoldurada por árvores e que também vale o registro.

Iibitipoca Cachoeira Janela do Céu Segunda Queda – Foto: Gustavo Rossetti

Com cuidado, tente subir um pouco pelo rio e terá uma visão espetacular da principal queda e de seu belíssimo paredão, que tem cerca de 20 metros. É preciso atravessar o rio algumas vezes pelas pedras escorregadias. De lá é possível ver o local preferido para as fotos da parte alta da Janela do Céu, em uma espécie de visão invertida do principal cartão-postal de Ibitipoca.

Iibitipoca Cachoeira Janela do Céu Terceira Queda – Foto: Gustavo Rossetti

Bem mais fácil de chegar é a Cachoeira Natureza Pura, que fica na mesma estradinha de terra que leva até o povoado de Moreiras, mas bem antes, há uns 20 minutos (6 quilômetros) da Vila de Ibitipoca. Com um amplo gramado, é um ótimo lugar para relaxar, tomar um sol e ler um livro ao som da queda d’água. A atração tem uma piscina rasa formada pelo represamento de pedras e uma cachoeira relativamente pequena, mas perfeita para ficar embaixo como se estivesse em uma hidromassagem natural. Só tome cuidado com as pedras lisas e escorregadias para chegar até a queda. Como fica dentro de uma fazenda, é cobrada uma taxa de entrada de R$ 15 por pessoa, mas crianças de até 10 anos não pagam.

Ibitipoca – Cachoeira Natureza Pura – Foto: Gustavo Rossetti

As estradinhas de terra são um espetáculo à parte na região, especialmente a que liga a Vila de Ibitipoca até o povoado dos Moreiras, o que atrai também muitos ciclistas. No entanto, é preciso fôlego e preparo físico para enfrentar tantas subidas e descidas. Os passeios de quadriciclo, bem menos cansativos, também são bem populares e podem ser agendados em agências no vilarejo.

Outro belo lugar para desfrutar fora do parque é a Prainha do Conga, localizada na estradinha de terra entre Ibitipoca e Lima Duarte. O local conta com um amplo poço com algumas partes rasas ideais para o banho, algumas quedas d’água pequenas, e uma faixa de areia que lembra uma pequena prainha (daí o nome!) e que as borboletas adoram.

Ibitipoca – Prainha do Conga, Poço – Foto: Gustavo Rossetti

Ibitipoca – Prainha do Conga – Foto: Gustavo Rossetti

Algumas pousadas de Ibitipoca contam com atrações naturais (cachoeiras, poços, trilhas e grutas) dentro de suas propriedades, como a Céu de Estrelas, Estação Andorinhas e Comuna do Ibitipoca, está última uma propriedade privada que ocupa uma área equivalente a quase três vezes o tamanho do parque estadual. É um hotel de luxo erguido na antiga sede da Fazenda do Engenho, construída em 1715. Além das cachoeiras, a atração é o conjunto de esculturas com 7 metros de altura da artista americana Karen Cusolito, que produziu obras parecidas em uma das edições do Burning Man, festival de contracultura realizado anualmente no Deserto de Nevada, nos Estados Unidos. Mas por conta da política de privacidade do hotel, a visitação é exclusiva aos hóspedes.

Centrinho  

De volta ao vilarejo, não deixe de conhecer as duas igrejas locais, bem próximas uma da outra. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em estilo colonial, foi erguida em 1768 e sua característica mais curiosa é a torre com sino construída em separado do corpo da Igreja. É um bom local também para apreciar o pôr do sol.

Já a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Conceição de Ibitipoca foi construída no início do século XIX pelos escravos que eram impedidos de frequentar as cerimônias religiosas da igreja matriz. No local, comemoravam as festas da padroeira com a dança de Congados. Por conta de sua importância, ela foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural de Lima Duarte, pelo Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural do município no ano de 1998.

Ibitipoca – Igreja Nossa Senhora do Rosário – Foto: Gustavo Rossetti

Nas charmosas e rústicas ruas de pedra do centrinho do vilarejo, com suas casinhas coloridas e seu estilo místico e hippie, você vai encontrar várias opções de restaurantes, cafés, lojas de artesanato e bares com as cervejas artesanais locais, como a Ibiti Beer e a Ibitipoca.

Ibitipoca tem até um “shopping”, como é conhecido o Portal da Serra, na verdade um espaço ao ar livre que abriga lojas, bares, restaurantes, cafés e espaço para exposições e shows. No inverno, aliás, o vilarejo recebe festivais de blues, jazz e forró.

Além da ótima culinária mineira, não deixe de provar o famoso pão de canela, preparado com receitas familiares que passam de geração para geração e que podem ser encontrados em várias padarias e lanchonetes da cidade.

Atenção: a cidade não tem posto de gasolina e caixa eletrônico, portanto, abasteça o carro e saque dinheiro em Lima Duarte, que fica a 26 km de Ibitipoca. Para entrar nas cachoeiras que ficam dentro de propriedades privadas, é preciso pagar em espécie.

Arredores de Ibitipoca

Dependendo do caminho escolhido até Ibitipoca, você pode passar pela simpática cidade de Bom Jardim de Minas, localizada no entroncamento da BR267 com a MG457, o que faz da cidade o portal de entrada para o sul de Minas e a zona da mata, fazendo a ligação com o estado do Rio de Janeiro. O município conta com uma série de cachoeiras, entre elas a Cachoeira do Pacau, já na divisa com Santa Rita do Jacutinga. É preciso descer uma trilha selvagem, com mata um pouco fechada, íngreme e escorregadia, mas depois de cerca de 25 minutos vem a recompensa com uma visão belíssima de uma queda d’água de cerca de 90 metros. Não há um poço tranquilo para banho, já que o rio conta com muitas pedras, mas o visual é de tirar o fôlego.

Outras cachoeiras de Bom Jardim de Minas são mais propícias para o banho, como as que ficam dentro do Parque Municipal do Taboão: a Cachoeira das Crianças, a Cachoeira do Presépio e a Cachoeira do Remanso.

Vale a pena também subir o morro até a estátua do Cristo Redentor para ter uma incrível visão de toda a região. Só a estradinha de terra, aliás, já vale o passeio, toda ladeada por pinheiros. Lá em cima você vai encontrar flores típicas do cerrado e, com sorte, alguns carcarás protegendo os seus ninhos.

Bom Jardim de Minas Cristo – Foto: Gustavo Rosseti

E para chegar até Ibitipoca certamente você vai passar por Lima Duarte, então aproveite e conheça a Cachoeira do Arco-Íris, de fácil acesso e um cenário cinematográfico com seus quase 50 metros de queda d’água. O poço é raso e plano, então dá para chegar até debaixo da cachoeira, tomando cuidado apenas com a força da água. A Fazenda das Cachoeiras do Arco-Íris reúne seis cachoeiras, sendo três delas com mais de 50 metros de queda, além de grutas e mirantes. No local você também encontra restaurante, pousada e área para camping.

Lima Duarte – Cachoeira do Arco Iris – Foto: Gustavo Rossetti