Os anos recentes não foram apenas de ganho de produtividade e aumento do uso da tecnologia no campo. Ele também ficou mais feminino. Uma em cada três propriedades rurais do País tem mulheres ocupando funções de comando – há cinco anos, eram 10%. Quando não são as principais responsáveis pelas propriedades, elas atuam como administradoras dividem as atividades com um familiar ou estão sendo preparadas para assumir essas funções. A força da mulher no campo é a terceira matéria da série “Mulheres que Cuidam”, que o Portal da Prefeitura publica em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Os dados são de uma pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) e antecedem o Censo Agropecuário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deve ficar pronto este ano. O levantamento foi feito ao longo de 2017, com 2.090 agricultores e 717 pecuaristas de 15 estados.
A vida no campo
Elas exercem também um importante papel na preservação da biodiversidade e garantem a soberania e a segurança alimentar ao se dedicar a produzir alimentos saudáveis, como é o caso da produtora rural, Maria dos Santos Conceição Rocha Shimokawa, que há nove anos trabalha na produção de hortaliças em sua chácara, na região do Sucupira, em Palmas.
Em uma área de aproximadamente dois mil e quatrocentos metros quadrados, ela planta rúcula, alface, couve, quiabo, jiló e mandioca. A produção é comercializada na Feira da 304 Sul (Espaço Popular Mário Bezerra Cavalcante) e nos supermercados da Capital.
No raiar do dia a produtora pega no cabo da enxada, faz a capina para manter a área plantada limpa. Debaixo de um sol de rachar, agachada, ela retira com as mãos o mato que fica nos pés das hortaliças. “Prefiro capinar o dia inteiro do que lavar louças, é um trabalho duro mas me deixa feliz”, diz, Conceição.
Para a produtora rural, que é casada e mãe de dois filhos, o trabalho diário de campo, às vezes não deixa espaço para que cuide de sua própria aparência. “Toda mulher gosta de andar arrumada, cheirosa, penteada, e a gente que trabalha na roça não tem tempo para isso, pois temos que preocupar com a lida, com o trabalho mesmo”, disse.
Na cozinha de sua casa, é possível ver a organização e a limpeza impecável dos móveis e paredes. No quintal, ainda tem espaço para uma criação de galinhas, onde ela joga milho todos os dias. Ao ser questionada se fará algo especial no Dia Internacional das Mulheres, celebrado no dia 8 de março, ela diz que mesmo com o trabalho no campo, tem seus momentos com a família. “A gente sai uma vez ou outra, ai é o tempo que a gente tem para se arrumar, se vestir”, finalizou.
A vida na feira
Nas terças e sextas é dia de feira. Elas começam a chegar logo cedo na Feira da 304 sul, para preparar suas barracas para mais um dia de trabalho. Aos 68 anos, Maria do Socorro Costa Castro, fabrica tapetes e capas de almofadas em sua chácara, e os vende na feira.
Os tapetes são de diversos modelos e cores variadas. Ela mostra com orgulho a ultima capa de almofada que fez, cujo modelo foi copiado do reality show Big Brother Brasil. “Eu tenho prazer em fazer meu trabalho, o difícil é os retalhos, mas eu gosto de costurar”,disse.
Socorro, ainda revela que além de trabalhar com as vendas de tapetes e redes na feira, ela dá duro na roça. “Eu faço vassoura, eu quebro milho na roça, faço pamonha e ainda roço o mato na plantação de banana”, finaliza.
No outro lado da feira, Leoni Lourdes Pereira cuida com zelo e carinho do seu viveiro, Flores da Serra, como petúnias, vincas e torênias. Ela veio de Santa Catarina, e está a nove anos perfumando a vida dos clientes. Ainda de acordo com Lourdes, a mulher tem conquistado a cada dia mais espaço no mercado de trabalho. “A mulher de hoje é bastante participativa em casa com a educação dos filhos e fora de casa, ajuda com renda familiar, onde cada vez mais estamos ocupando mais espaços”.
Uma de suas clientes, Rosilda Bastos Silva, compra em suas mãos pela terceira vez por vários motivos. “Ela tem um ótimo atendimento e suas flores são bem conservadas, o que garante a vida útil mais duradoura”, disse ao ressaltar que as mulheres de hoje são vencedoras.
Já na Central Flores que fica no interior da Feira da 304 sul, a produtora de flores tropicais Ana Cleide, se sente presenteada todos os dias pelo esposo. “Meu esposo produz flores também e a cada dia ele me agracia com uma flor que acabara de nascer”, disse. Ainda de acordo com Ana, a mulher tem conquistado a cada dia mais espaço no mercado de trabalho.
E para quem está acompanhando os capítulos da novela global, O Outro Lado do Paraíso, e vendo as belezas do Jalapão, basta dar um pulo na barraca da comerciante Marcelia dos Anjos, que encontrará uma variedade de brincos, pulseiras, colares feitos a partir do capim dourado. “Durante o lançamento a novela tivemos um aumento nas vendas. Atualmente recebo encomendas e envio meus produtos para Portugal, Rio de Janeiro e São Paulo”, disse.
Conhecida por dona “Lu” a vendedora Luciane Pereira comercializa deliciosos enroladinhos de queijo, bolos e pães, logo na entrada da feira. Ela diz que um dos segredos para se manter no mercado é a dedicação e o atendimento diferenciado.
E para quem procura por medicina natural, a dona Damasia de Oliveira é referência com produtos extraídos das plantas. De acordo com Oliveira, o Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado todos os dias. “Acredito que hoje em dia é perceptível a igualdade no mercado de produção”, destaca.
De Taquaruçu Grande, a produtora Daiane Ribeiro de Sousa, vende hortaliças como alfaces, cheiro verde, couve, e ainda ajuda o marido na colheita. “Nós somos parceiros”. A mulher de hoje é independente e ainda ajuda na renda familiar”, reforçou.
Para o superintendente de feiras da Secretaria de Desenvolvimento Rural de Palmas (Seder), Ruydelmar Magalhães Fontoura, as mulheres do campo são guerreiras e têm um importante papel na sociedade. “Esse trabalho é de importância para nossa sociedade, pois são elas que colocam os alimentos na mesa de várias famílias tocantinenses”, exaltou.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, as mulheres rurais são as responsáveis por mais da metade da produção de alimentos do mundo.