Profissional de saúde se prepara para aplicar a vacina da Pfizer e da BioNTech em Los Angeles, nos Estados Unidos, no dia 7 de janeiro de 2020 — Foto: Lucy Nicholson/Reuters
Com a vacina cada vez mais próxima, muitas dúvidas surgem. O que significam as taxas de eficácia? Se eu já tive coronavírus, posso ser vacinado? A técnica do RNA altera o meu código genético? A vacina será obrigatória?
Abaixo, confira as principais perguntas e respostas sobre a vacina:
Atualmente, a Anvisa analisa dois pedidos de uso emergencial no país, feitos na última sexta (8):
A autorização de uso emergencial é temporária, vale apenas para o período de pandemia e até a vacina receber o registro definitivo. O uso, nesse caso, é destinado apenas para o público previamente definido e testado nos estudos.
Além disso, as farmacêuticas Pfizer e BioNTech e Janssen e Johnson & Johnson também realizam testes no país. De acordo com a Anvisa, a Pfizer já apresentou dados primários de eficácia e segurança da fase 3 de testes, mas ainda faltam documentos complementares. Já a Janssen ainda não entregou dados da fase 3.
O plano nacional de vacinação apresentado pelo governo em dezembro não estabeleceu data para o início da vacinação, mas a estimativa do Ministério da Saúde é que a vacinação comece entre 20 de janeiro e 10 de fevereiro.
A vacinação só pode ocorrer após a liberação, pela Anvisa, de uso emergencial ou registro para as candidatas. Segundo o ministério, 254 milhões de doses da Fiocruz e 100 milhões de doses do Butantan já foram negociadas.
Mesmo após as duas doses da vacina, nosso organismo não gera uma resposta imune imediata, explica o infectologista Jose Geraldo Leite Ribeiro, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
“A proteção se dá um tempo após a aplicação da segunda dose, e esse tempo varia de acordo com cada vacina. Na maioria delas, a imunidade acontece a partir de dez ou vinte dias após a segunda dose”, afirma.
Sim. Especialistas dizem que os dados iniciais indicam que a vacina deve ser aplicada em que já teve a doença. A vacina pode oferecer uma imunidade mais duradoura e trazer mais benefícios em relação à nossa imunidade natural.
Não. A sequência genética humana não é afetada pela técnica do RNA, que é nova e vem sendo usada em vacinas em testes pelo mundo, com bons resultados. Duas vacinas usam essa técnica: a da Moderna e a da Pfizer/BioNTech (veja mais no vídeo abaixo). O mRNA (RNA mensageiro) leva a mensagem de qual proteína a célula deve produzir. Depois que entrega a mensagem, o mRNA se degrada rapidamente. “O mRNA não permanece e não tem como ele se integrar no nosso DNA ou alterá-lo”, explica Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin.
Esse conceito se aplica apenas quando estamos falando de vacinas em fase 3 de estudos. Por isso, os dados de eficácia são calculados em ambientes controlados, em que os cientistas monitoram os participantes do estudo.
A taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado.
Eficácia da CoronaVac — Foto: G1
Na prática, se uma vacina tem 90% de eficácia, isso significa dizer que 90% das pessoas que tomam a vacina ficam protegidas contra aquela doença.
A CoronaVac registrou 50,38% de eficácia global nos testes realizados no Brasil. O índice aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos – sejam eles leves, moderados ou graves. O percentual está acima do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também pela Anvisa: 50%.
Para especialistas, a vacina é boa e vai ajudar a frear a pandemia do coronavírus no Brasil. Além disso, a eficácia é mais alta para casos leves, graves e moderados. A eficácia para casos leves é de 78%. E para casos graves e moderados, de 100%. Com isso, especialistas avaliam que ela tem efeito de evitar internações e óbitos.
Taxas de eficácia da CoronaVac — Foto: Divulgação/Instituto Butantan
Não é possível afirmar isso. Os dados apresentados no estudo de fase 3 não mostram que a vacina não seja eficaz em pessoas com mais de 55 anos. Pesquisadores explicam que o recrutamento de idosos começou mais tarde que o de adultos mais jovens.
A eficácia não foi avaliada, pois é preciso ter um número suficiente de casos de Covid-19 entre os voluntários para indicar que a vacina está protegendo. Em novembro, um estudo de fase 2 da vacina de Oxford mostrou que ela foi capaz de estimular o sistema imunológico, desencadeando uma resposta forte em idosos, ou seja, com boa imunogenicidade nessa faixa etária.
Não é bem assim. Os reguladores britânicos explicaram que qualquer pessoa com histórico de reação alérgica significativa a uma vacina, medicamento ou alimento não deveria tomar a vacina. Isso acontece também com outras vacinas, para outros vírus.
A Pfizer excluiu pessoas com histórico de reações adversas significativasàs vacinas ou aos ingredientes de seu imunizante nos testes.
O diretor médico do NHS, o serviço público de saúde britânico, Stephen Powis, disse que “como é comum com as novas vacinas, a MHRA aconselhou, por precaução, que pessoas com histórico significativo de reações alérgicas não recebam esta vacina”.
Ainda não existem evidências sobre o intercâmbio das vacinas candidatas. A princípio, caso uma vacina exija duas aplicações, a previsão é que você tome as doses do mesmo imunizante. Entretanto, pesquisadores da AstraZeneca (desenvolvedora da vacina de Oxford) vão investigar o uso combinado da sua vacina com a Sputnik V, da Rússia.
Eles disseram que o intercâmbio das vacinas pode aumentar a eficácia da imunização contra o coronavírus.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, alertou sobre as vacinas diferentes. “É importante saber qual foi a vacina que o cidadão vier a tomar. Há risco de reação adversa grave para quem tomar doses de vacinas diferentes”.
Não. Além de casos específicos em certos grupos – grávidas, mulheres amamentando e alérgicos, entre outros –, há a questão da faixa etária. Nosso sistema imune muda com a idade; logo, a resposta às vacinas também.
Por isso, uma vacina que seja eficaz e segura em adultos pode não ser para crianças ou idosos, e vice-versa.
Segundo a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), todos estes fatores devem ser levados em conta na hora do governo estruturar um Plano Nacional de Imunização (PNI), prevendo que serão precisos mais de um tipo de vacina.
Ainda não se sabe. Em maio, a OMS afirmou que não há como prever quando se o coronavírus irá desaparecer um dia, mesmo com uma vacina.
Porém, ainda que a vacina não seja capaz de fazer o vírus desaparecer, ela será capaz de interromper as cadeias de transmissão e conter a disseminação entre as populações.
A previsão dos cientistas e da própria OMS é que o coronavírus se torne endêmico: à exemplo do que ocorre com o Influenza, que infecta novas pessoas todos os anos, o vírus continuará em circulação infectando aqueles que estiverem suscetíveis à Covid-19.
“É muito difícil prever quando vamos prevalecer sobre o vírus”, disse o diretor de emergências da OMS em maio, Michael Ryan. “E pode ser que isso nunca aconteça. Pode ser que nunca desapareça, que se torne endêmico, como outros vírus.”
Até o momento, apenas a farmacêutica Pfizer desenvolvida em parceria com a BioNtech divulgou a bula da sua vacina contra a Covid-19. O documento informa que grávidas e mulheres que estão amamentando não poderão tomar o seu imunizante.
Do mesmo modo, as vacinas desenvolvidas pela Moderna e pela Universidade de Oxford não permitiram grávidas entre seus voluntários para os testes de fase 3.
Na Rússia, onde a vacina já começou a ser aplicada em trabalhadores mais expostos ao vírus, pessoas com mais de 60 anos, pacientes com doenças crônicas, mulheres grávidas ou lactantes não estão sendo imunizados.
Pessoas com histórico significativo de reações alérgicas, à algum alimento, à medicamentos ou à outras vacinas também não deverão receber as vacinas contra a Covid-19 disponíveis até o momento.
Estudos já comprovaram que algumas vacinas em estágio final são seguras e eficazes. Agora, cientistas analisam se, além de evitar o desenvolvimento dos sintomas e a morte por Covid-19, as vacinas são capazes de impedir que a pessoa se infecte e transmita o vírus.
“O que sabemos até agora das vacinas que a gente tem resultado de fase 3 é que elas protegeram contra doença, contra sintomas da Covid e tem alguma indicação de que pode também estar protegendo contra doença grave. A gente ainda não sabe se essa vacina protege de infecção”, explica Denise Garrett, vice-presidente do Programa de Epidemiologia do Instituto Sabin.
Essa resposta virá na fase 4 – quando começa a vigilância pós-vacinação em massa. “A gente tem que esperar uma certa porcentagem da população estar imunizada para poder ter um grande impacto na transmissão”, afirma Garrett.
“O desejável é que a proteção fosse contra a infecção e a doença, pois assim a vacinação teria um impacto maior sobre a circulação do vírus. Mesmo assim, neste momento desesperador, o que precisamos é que as pessoas do grupo de risco parem de morrer pela doença, que as taxas de internação e morte diminuam”, complementa Ribeiro, infectologista e vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Não, pois nenhuma vacina em testes contém o vírus vivo. “A vacina contra a covid-19 é uma ‘vacina morta’, ou seja, são inativadas, não contém o vírus vivo. Portanto, é impossível você ser infectado ao se vacinar”, explica Ribeiro.
Na prática, as vacinas no Brasil já são ‘obrigatórias’. Em diversos estados e cidades brasileiras, quem quiser matricular filhos em colégios públicos, por exemplo, precisa mostrar cadernetas de vacinação em dia. A necessidade de apresentação de caderneta também é obrigatória para quem quer disputar cargos públicos no Brasil e imunização em dia é ‘condição necessária’ para quem se inscreve no Bolsa Família. Outro exemplo de “obrigatoriedade” é a vacina de febre amarela. Segundo a OMS, 127 países exigem a vacinação contra a doença.
Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a aplicação de medidas restritivas para quem se recusar a se vacinar contra a Covid-19. Eles entenderam que essas medidas são necessárias porque a saúde coletiva não pode ser prejudicada por decisão individual.
Para os ministros, a vacina obrigatória não significa a vacinação forçada da população. Entre as medidas estão a “restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes” e com respeito “à dignidade humana e aos direitos fundamentais das pessoas”.
Ainda não é possível saber quanto tempo durará a proteção gerada pelas vacinas.
“Os voluntários que fizeram parte dos testes de fase 3 serão acompanhados durante muitos anos para termos noção da duração da imunidade gerada pela vacina. É impossível dizer, com segurança, neste momento, qual será essa duração. Três anos? Dez anos? É uma resposta que teremos somente com o tempo”, explica Ribeiro.
A imunidade de rebanho acontece quando muitas pessoas adquirem anticorpos ou uma resposta imunológica a uma determinada doença infecciosa. O agente patogênico passa a encontrar menos pessoas sem imunidade e encontra dificuldade em se propagar, ou seja a cadeia de transmissão da enfermidade é interrompida.
Para Ribeiro, é imprudente estimar quando e em qual taxa de população vacinada ocorrerá a imunidade de rebanho.
“Há autores que, por meio de modelos matemáticos, estimam que pelo menos 60% da população tem que ser vacinada para gerar imunidade de rebanho, mas é uma estimativa teórica. Eu não assinaria embaixo”, , explica o infectologista da SBIm.
“Geralmente, esse dado só é conhecido depois que se vacina grande parte da população e a acompanha durante 3 ou 4 anos”, diz.
Outro fator a se considerar é que apenas os grupos de risco serão vacinados em 2021, uma parcela muito pequena da população.
“A vacinação em 2021 não vai interferir na circulação do coronavírus. Além disso, temos que lembrar que nenhuma das vacinas em teste é 100% eficaz. Se uma vacina tem eficácia de 95%, como a da Moderna, por exemplo, quer dizer que a vacina falhou em cinco a cada cem pessoas vacinadas”, completa Ribeiro.
No geral, as vacinas geraram dor no local da aplicação e vermelhidão. “As vacinas em testes mostraram, até o momento, apenas eventos adversos leves, como vermelhidão, dor e, às vezes, febre baixa. Apenas a vacina da Pfizer, com 1,8 milhões de doses aplicadas, ocorreram três casos de eventos adversos mais sérios em alérgicos, mas que evoluíram bem”, explica Ribeiro.
Ainda não há uma previsão de quando as clínicas particulares conseguirão comprar lotes das vacinas contra a Covid-19 que forem aprovadas no Brasil.
Isso porque a orientação dos órgão de saúde nacionais e internacionais é que todas as doses produzidas pelos laboratórios neste primeiro momento sejam direcionadas aos governos, com a finalidade de garantir que as pessoas dos grupos de risco sejam imunizadas o mais breve possível.
Assim, a resposta para esta pergunta dependerá, entre outros fatores, da capacidade de produção e entrega pelas farmacêuticas para atender tanto os governos como as clínicas particulares.
Não. A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende que precauções contra a transmissão da Covid-19 sejam mantidas mesmo por quem já estiver vacinado. A cientista-chefe da entidade, Soumya Swaminathan, disse que, até que as pesquisas sejam conclusivas, todos que tomarem vacinas precisam continuar mantendo o distanciamento, usando máscaras, higienizando as mãos. O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, alertou que as vacinas não significam zero Covid. “Vacinas e vacinação não resolverão por si só o problema”. As vacinas candidatas contra Covid-19 em estágio mais avançado precisam de duas doses – e entre uma dose e outra existe um intervalo de semanas. O vírus continuará circulando até termos a cobertura vacinal e isso levará um tempo.
Ribeiro explica que o mais seguro é que estes eventos não ocorram até que pelo menos metade da população seja vacinada. “As pessoas precisam ter consciência que a vacinação em 2021 não vai conseguir interferir na circulação do vírus e que as que forem vacinadas ainda poderão transmiti-lo. Por isso, mesmo que você seja vacinado em 2021, você terá que manter cuidados, evitar aglomerações, usar máscara etc para não transmitir o vírus a quem não foi vacinado. Ou seja, não será seguro frequentar esses eventos antes de 2022, quando esperamos que mais da metade da população seja imunizada.”
Fonte: G1
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