A epidemia de um novo tipo de coronavírus que atinge principalmente a China tem provocado a disseminação de uma série de fake news sobre o tema nas redes sociais.
Apesar da preocupação, especialistas garantem que não há motivo para pânico no Brasil. Nesta quarta-feira (29), o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, acalmou a população.
“Temos que lembrar que o Brasil, nós estamos no verão, os casos de doenças respiratórias são mais comuns no inverno. A probabilidade de circulação tão intensa [do vírus] como aconteceu na China é muito pouco provável.”
De qualquer forma, nas redes sociais surgem infinitas teorias e projeções, que na verdade não se confirmam.
O R7 selecionou comentários feitos no Facebook sobre a epidemia e conversou com o infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), para esclarecer as afirmações dos internautas.
Comentário: “O coronavírus foi espalhado propositalmente pela indústria farmacêutica ou para controle populacional”.
Falso. Segundo o médico, esse tipo de teoria da conspiração não faz sentido, uma vez que é um vírus incontrolável, e a própria indústria farmacêutica ainda não tem medicação ou vacina contra ele.
Além disso, ele explica que o coronavírus é amplamente espalhado na natureza e que, na maior parte das vezes, não causa preocupação, já que é responsável causar por doenças respiratórias leves em humanos e outros animais.
Fortaleza afirma que já tivemos outras duas epidemias conhecidas de variações do coronavírus. A SARS (síndrome respiratória aguda grave), que surgiu em 2002, era um vírus proveniente do morcego, que passou a infectar o gato de algália e depois humanos.
A MERS (Síndrome respiratória do Oriente Médio), que surgiu em 2012, também era causada por um vírus proveniente do morcego, que passou a infectar camelos e dromedários e depois humanos.
Ainda não se sabe a origem exata do novo vírus, porém existem hipóteses.
“O vírus foi encontrado em frutos do mar vendidos em um mercado de Wuhan e um outro estudo verificou que é muito parecido com um coronavírus presente em cobras, mas ainda precisa de confirmação.”
Comentário: “Objetos comprados na China pela internet podem estar contaminados com o novo vírus.“
Improvável. “Não existe nenhuma possibilidade de transmissão do vírus por mercadoria”, afirmou nesta quarta-feira (29), Júlio Croda, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
O governo também garante que “não há nenhuma medida de restrição ao comércio internacional de qualquer produto, de origem animal ou sob fiscalização da Vigilância Sanitária.
O médico explica que ainda não sabemos quanto tempo o novo vírus permanece ativo fora de um organismo vivo, mas que as outras variações aguentam apenas algumas horas. A única possibilidade de contaminação por exportação seria por meio de alimentos congelados, ainda assim, ele acredita ser muito improvável.
A China não exporta gêneros alimentícios em larga escala para o Brasil.
Comentário: “A epidemia vai provocar milhares de mortes se chegar ao Brasil. O SUS não teria condições de atender a todos.”
Falso. Segundo Fortaleza, não é possível garantir que nenhum caso chegue ao Brasil, porém já está instalada uma vigilância epidemiológica extremamente sensível.
“O Brasil deu conta da gripe suína em 2009 e temos dado conta da epidemia de dengue e outras.”
Ele reforça que a transmissibilidade é bem menor do que outros vírus como o sarampo. O médico avalia que a taxa de mortalidade vai se aproximar da SARS, de quase 10% (por enquanto está em torno de 2,5%), mas é muito cedo para definir.
“Quando tivemos o ebola, achamos que a letalidade era de 70%, depois vimos que estava entre 30% e 40%. ”
Comentário: “Ontem fiquei 40 minutos no aeroporto. A quantidade de pessoas chegando da China no Brasil é absurda.”
Impreciso. O governo afirma que chegaram 15 mil pessoas vindas da China no Brasil em novembro e dezembro do ano passado — uma média de 250 por dia. Dados do Ministério do Turismo mostram que turistas chineses representam menos de 1% do total de estrangeiros que visitam o país.
Segundo o infectologista, o Brasil é um destino frequente de alunos e professores universitários vindo da China, além de viajantes de negócios.
No entanto, o país asiático já restringiu viagens de pessoas que estão nas áreas mais críticas da epidemia. O governo brasileiro também está desaconselhando que seus cidadãos viajem à China.
Fortaleza enfatiza que diante disso o país deve tomar as medidas de vigilância de portos, aeroportos e fronteiras, que já estão em prática. “Esse tipo de medida foi extremamente eficaz contra a SARS, que é identificar passageiros sintomáticos oriundos das áreas afetadas.”
Comentário: “A gripe mata mais do que o coronavírus.”
Depende. O médico explica que a gripe é um termo guarda-chuva para várias doenças causadas pelo vírus influenza. Em números absolutos a gripe matou mais pessoas que o novo coronavírus.
Porém, quando consideramos a quantidade de morte diante do número de casos, a taxa de letalidade, o coronavírus supera a da gripe.
A taxa de letalidade da gripe suína, epidemia mais recente de influenza, varia entre 0,02% e 0,1% — ante menos de 2,5% do novo coronavírus. Ainda assim, devido à alta transmissibilidade do H1N1, foram mais de 200 mil mortes.
Calculando com os números mais recentes a taxa de letalidade do coronavírus é 2,2%.
fonte: R7