Ainda vivendo às margens dos direitos que lhes são outorgados pela Constituição brasileira, os povos originários lutam de forma incansável pela efetivação dos seus direitos, como serviços de saúde, educação e o respeito às suas celebrações culturais.

Além de toda essa problemática, uma parte invisível desses povos clama por visibilidade e reconhecimento. São os povos não originários do Tocantins, recém-declarados ou ainda sem territórios demarcados no estado. O direito por reconhecimento ainda é a principal bandeira de luta de indígenas não originários do Tocantins e tornou-se narrativa de produção cinematográfica.

A Websérie “WEWE: Histórias de Indígenas Recém-Declarados no Tocantins, sob o olhar do programa Mosaicos Tocantins” é uma produção da doutoranda em cinema e jornalista Mariah Soares, que vai mostrar a história dos indígenas recém-declarados ou que ainda não têm territórios demarcados no Tocantins, sendo eles os povos Kanela, Atikum Umã,
Ava Canoeiro,  Krahô Takaywrá, Guarani e Pankararu.

 

As gravações se iniciaram no último final de semana em Gurupi com os povos Atikum Umã, na Aldeia Alto do Atikum Umã e Pankararu. A produção audiovisual vai mostrar por meio de testemunhos dos indígenas, as lutas, desafios e como o reconhecimento de sua identidade se relaciona com o seu futuro. A websérie terá cinco episódios com previsão de lançamento no segundo semestre deste ano, em exibição aberta ao público e também em TV aberta, no programa Mosaicos do Tocantins, da RedeTV.

 

Websérie

A diretora-geral do projeto afirma que a produção audiovisual é importante para resguardar e dar visibilidade a importância do reconhecimento a esses povos não originários do Tocantins. “A websérie vai mostrar a voz desses povos, que têm direitos garantidos na constituição brasileira”, defende Mariah, acrescentando que optou pelo gênero documentário e “as histórias serão reveladas pelos próprios protagonistas das suas histórias que representam resistências muitas delas com ressignificação de culturas, mas mantêm-se firmes na defesa de sua identidade étnica”, explica.

Mariah ressalta ainda, que a proposta é, além de dar visibilidade, a websérie busca contribuir com a efetivação do respeito a essas culturas que fazem parte da formação da sociedade brasileira”.

A iniciativa conta com consultoria e pesquisa do indígena Thorkã Kanela (Célio). Segundo ele, esse reconhecimento, em título, nomeação e documentação veio tardiamente pelas políticas públicas competentes, mas ainda há esperança de um mundo melhor. “Nós não somos o que, infelizmente, muitos livros de história ainda costumam retratar. Nós não estamos nos poucos alinhamentos de políticas públicas que ainda resistem para os povoados, muitos de nós não tem sequer uma aldeia ou território, mas somos indígenas”, declara.

Inclusive, o nome do projeto foi idealizado por Thorkã Kanela. Segundo ele, reflete a forma subjetiva de entender e ver o mundo, pois se definem como WEWE, borboleta em português. “Comparo a gente com a borboleta, por representar um ser que passa por transformações ao longo de sua vida. Primeiro ela (borboleta) nasce como lagarta e depois se transforma em uma linda borboleta admirada por todos. Enquanto lagarta, ela é desprezada por muitos. Tem gente que até tem pânico quando vê. É vital compartilhar e dar visibilidade a essas histórias e sentimentos, para promover o respeito e a compreensão, não apenas entre os povos indígenas, mas principalmente entre os não indígenas”, expressa o consultor.

A produtora executiva do projeto, Andrea Lopes, afirma que, mais do que registrar e documentar para as gerações futuras a história e resiliência desses povos, a proposta é de contribuir para a inclusão desses indígenas nas políticas públicas para os povos indígenas do Tocantins. “As políticas públicas já são escassas para os indígenas oficialmente declarados desde o surgimento, mas é praticamente nula para os povos recém-declarados. Então, a proposta é de contribuir para o resgate da identidade deles, na medida em que a visibilidade vai fortalecer a autopercepção enquanto indivíduo”, conclui.

Projeto

Uma realização do programa Mosaicos do Tocantins, com direção-geral, roteiro e entrevistas de Mariah Soares, o projeto é patrocinado pelo edital 023-Audiovisual Tocantins, Módulo III, da Lei Paulo Gustavo (LPG), via Secretaria Estadual de Cultura, do Governo do Estado do Tocantins.

Proponente

É doutoranda em Cinema pela USP/Diversitas, Mestre em Cinema pela universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã, Portugal, e graduada em Comunicação Social/ Jornalismo e em Cinema Documental pela Escuela de Cine y Artes Audiovisual (ECA) de La Paz (Bolívia). É idealizadora do projeto de TV Mosaicos do Tocantins, atualmente no ar pela Rede TV e Professora de roteiro no curso de Especialização em Documentação Audiovisual (UFT). Em veículos de comunicação, atuou nas funções de produtora, repórter e apresentadora de TV.  É roteirista e produtora do projeto de audiovisual “Conhecendo e Preservando as Culturas Indígenas do Tocantins” (1999), documentário sobre o povo indígena Iny (Karajá) que ganhou o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (MINC).

Foi vice-presidente da Fundação Cultural do Tocantins e diretora de Promoção de Igualdade Racial e Defesa das Minorias, na Secretaria da Cidadania e Justiça, quando realizou o 1º Fórum Indígena do Tocantins, para a elaboração de políticas públicas direcionadas aos povos indígenas do Tocantins. Participou do Curso Sem Fronteiras de Cinemas Populares Indígenas, em 2008.

Ficha técnica:

Realização: Programa Mosaico do Tocantins

Direção-Geral e Roteiro: Mariah Soares

Co-direção e consultoria: Célio Kanela

Co-produção e Direção de Fotografia: Krahô Filmes

Pesquisas e Entrevistas: Mariah Soares e Célio Kanela

Produção Executiva: Andrea Lopes

Assessoria de Imprensa: Cinthia Abreu

Administração e Prestação de Contas: Andrea Lopes e Cinthia Abreu

Assistente de Produção: Marcos Kastro e Ana Cláudia Cardoso

Produtores de Campo nas comunidades: Lorrayne Atikum, Ana Luísa Kanela, Genilson Pankararu e Ivan Guarani

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