Abalos emocionais do tratamento contra o câncer aliados ao medo da Covid-19 podem gerar desconfortos em pacientes – Foto: Divulgação

Ansiedade é uma palavra recorrente em tempos de pandemia. Até mesmo quem nunca sofreu dessa condição talvez tenha experimentado um pouco da sensação de medo, incerteza e angústia por causa da imprevisibilidade da Covid-19.

Agora imagine todos esses sentimentos em uma pessoa que já está emocionalmente fragilizada por causa de outra condição: o câncer. Para muitos pacientes, o impacto emocional com a descoberta da doença soma-se ao natural temor do coronavírus, o que potencializa sintomas físicos.

É o caso da Dor na ATM, a articulação temporomandibular, que funciona como uma dobradiça que liga a mandíbula ao crânio.

Não dá nem para comer

Anita Luisa, dentista onco-hematológica da Acredita Tocantins, conta que, desde o início da pandemia, percebeu um aumento de pelo menos 60% no número de pacientes com câncer que a procuraram com queixas de dores, estalos, dificuldades para abrir a boca, comer e engolir

“É um desconforto muito grande para um paciente que precisa se alimentar bem e já está com outros efeitos colaterais comuns ao tratamento do câncer. E a maioria dos casos tem como causa a tensão, ansiedade, irritação diária e estresse”, explica a especialista.

Emocional x Imunidade

Cristhina Ramos, psicóloga da Acreditar Tocantins, ressalta que o diagnóstico do câncer gera forte impacto emocional e o paciente precisa lidar com alterações em todos os aspectos de seu ser.

“E a vivência atual de pandemia potencializa ainda mais os comprometimentos nos pacientes oncológicos, visto que são um grupo de pessoas mais vulneráveis a complicações se contaminadas pela Covid-19”, completa.

Situações ameaçadoras, reais ou imaginárias, causam um desequilíbrio no funcionamento do sistema nervoso.  E a oscilação emocional compromete o sistema imunológico.

“Para algumas pessoas, permanecer isoladas pode acarretar vários problemas. Principalmente a exacerbação de sintomas de ansiedade que estavam mais ou menos controlados, e também a piora da sensação de privação, de desamparo, do temor em relação ao futuro, de uma falta de perspectiva”, aponta Cristhina.

E como controlar tudo isso?

Para os casos clínicos, em que os reflexos da ansiedade já são sentidos no corpo, como no caso da Dor de ATM, a solução inclui a intervenção direta de medicamentos e tratamentos específicos.

“Propomos também o uso de protetores de mordida, que são as placas miorrelaxantes, e a Laserterapia, que faz o alívio da dor imediata, causando o relaxamento das fibras tensionadas do músculo e desfazendo o processo inflamatório. Isso devolve as funções de mastigação e abertura bucal ao paciente e diminui as dores”, destaca Anita.

Em caráter preventivo, o paciente em tratamento contra o câncer precisa criar novos hábitos e comportamentos para saber lidar com todos os novos cenários.

“Será importante cultivar hábitos que acalmam, como ouvir música, fazer alguma arrumação, cuidar de plantas ou de animais domésticos, fazer algo no computador, ligar para um amigo, para uma pessoa querida, fazer meditação ou relaxamento. Estruturar o seu dia, estabelecendo uma rotina, ajuda muito a manter a mente organizada”, reforça a psicóloga.

Para auxiliar no controle dos sintomas de ansiedade, também é indicado:

– Restringir o fluxo contínuo de informações

– Estabelecer uma rotina de atividades, mesmo dentro de casa ou no trabalho mais restrito. A rotina ajuda o cérebro a entender que, dentro do possível, há um controle da própria vida.  O que ajuda também a controlar o fluxo de pensamentos intrusivos do tipo catastróficos.

– Praticar algum tipo de atividade física em casa e cuidar do sono e da alimentação.

– Não interromper os tratamentos.

– Tomar as precauções preconizadas pelos profissionais de saúde, não negligenciando a saúde mental