Maju Cotrim

O que a entrevista do baiano Givaldo Alvez, o mendigo mais famoso do Brasil, 48 anos nos revela sobre comportamentos sociais?

A entrevista do veículo Metrópoles em poucas horas já tinha milhões de visualizações pela repercussão do caso. A equipe fez um trabalho jornalístico fantástico ao ouvir a versão dele, princípio  básico do jornalismo.

Givaldo foi agredido no último dia 9 de março após ser flagrado em pleno ato sexual com uma mulher dentro de um carro em Planaltina (DF). Câmeras de segurança registraram o seu espancamento pelo marido traído, levando o caso a repercutir com força nas redes sociais. Segundo ele, o convite foi feito pela própria mulher. O país inteiro começou a acompanhar a história.

O personagem chamou atenção por seu vocabulário e capacidade de expressar e teve comentários de leitores do tipo: “Se expressa melhor que 90% dos políticos brasileiros”. Sua digamos assim “articulação verbal” caiu no gosto das piadinhas e trechos foram Compartilhados em várias páginas e viraram memes. Se surpreenderam com o jeito de se expressar dele porque há um imaginário popular que mendigos são invisíveis e que não sabem falar. São 200 mil moradores de rua no país todos eles com aspectos e realidades pessoais distintas e isso é fato! Ele tem história de superação e inclusive já até passou pelo Tocantins. Contar sua origem e sua história não tem nenhum problema, pelo contrário, mostra como chegou nesta situação de rua.

Genivaldo falou até de política, fato que causou mais reboliço ainda na repercussão da internet e ao se referir á mulher usa um tom de “romantismo” não abrindo mão de falar sobre nenhum detalhe do suposto momento íntimo. Era necessário mesmo isso? 

Ter dado voz para o mendigo diante da polêmica nacional do assunto é um ponto positivo mas partes do que ele revelou expondo tudo que teria acontecido em mínimos detalhes mostra uma visão preocupante da exposição de uma mulher que inclusive não está bem diante de toda situação. Ela estaria internada em uma clínica psiquiátrica. Imagina como deve estar sendo horrível para ela ler essas coisas!

Faltou sensibilidade em pensar naquela mulher exposta nacionalmente em meio a tantas piadas e memes diante do que Givaldo falou.  E quem liga pra isso? O que importa é rir do dilema alheio!

Um personagem com imagem “gentil”? Ou alguém também ali aproveitando para se vangloriar do que houve e mostrar sua postura de “macho”. Um mendigo que se deu bem ao pegar um mulherão? Não deveria caber este tipo de contexto!

Ele pode se manifestar da forma que bem entender, é claro, mas houve sim uma superexploração do episódio de várias partes sem se importar em expor uma mulher possivelmente afetada por problemas psicológicos.

Givaldo virou popular, já tem até convites de partidos para ser candidato e tem, é claro, surfado neste momento de visibilidade.  Saiu de popstar e pelo que parece sua vida deve ter mudanças.

O drama virou comédia coletiva num enredo que envolve tanta coisa e pessoas humanas. o homem em situação de rua ganha fama e fãs. E uma mulher pode ter a vida destruída.

E a pergunta que faço é: tem graça!?