Texto: Nielcem Fernandes
Edição: Jornalista Brener Nunes
Em homenagem aos 29 anos de independência do Estado do Tocantins, comemorados dia 5 de outubro, o Portal Gazeta do Cerrado entrevistou algumas personalidades marcantes da história tocantinense para contar um pouco de como foi a luta dos pioneiros que abraçaram o sonho separatista sob a pretensão da emancipação do sul goiano.
Um personagem importante para a consolidação da história do Estado, o desembargador aposentado e Membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras, Liberato Póvoa, concedeu um breve relato sobre o que viveu nesses 29 anos.
Liberato lembrou que após Constituinte de 1988, onde foi decretada a criação do Estado, as três maiores cidades da região reivindicaram a prerrogativa de ser a capital: Araguaína, Gurupi e Porto Nacional. Entretanto o então deputado federal José Wilson Siqueira Campos, tinha planos futuristas para o que seria a última capital planejada do século XX, seguindo o exemplo da construção da capital da República que foi erguida do nada.
Siqueira Campos se elegeu o primeiro governador do recém-criado Tocantins para um mandato de dois anos (de 1º de janeiro de 1989 a 15 de março de 1991). A capital provisória foi alocada na cidade de Miracema do Tocantins contrariando as expectativas de Araguaína, Gurupi e Porto Nacional. “Enquanto o Governo funcionava em Miracema, despachando o Governador no “Palácio Araguaia” improvisado em uma escola pública nas proximidades do balneário “Correntinho”, eram examinadas áreas mais apropriadas para construir a Capital do Estado”, lembrou Liberato em seu relato à Gazeta do Cerrado.
Em suas lembranças, Liberato Póvoa, descreve a solenidade que concretizou a inauguração da cidade que ocorreu no dia 20 de maio de 1990. “Na manhã do dia 20 de maio de 1990, foi celebrada uma missa solene de batismo de Palmas pelo Bispo da Diocese de Porto Nacional, D. Celso Pereira de Almeida, acolitado pelos padres Juracy Cavalcante e Rui Cavalcante e pelo Monsenhor Jacinto Sardinha, celebrada diante de um cruzeiro de pau-brasil plantado em frente ao local onde hoje se ergue o Palácio Araguaia, marcou o início da construção de Palmas, que emergiu do bom senso, do equilíbrio e dos ideais de esperança do povo tocantinense”, disse.
O desembargador aposentado pontuou as dificuldades enfrentadas no inicio da criação da capital que abrigou os órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, pois no início o centro da cidade que conhecemos hoje se assemelhava a um campo de obras. “O Tribunal de Justiça, que eu presidia na época, acomodou-se num barracão de tábuas, com salas escuras e um salão onde funcionava o Tribunal Pleno, constituído de apenas sete desembargadores. E com o vento típico da região na época da seca, certo dia, numa sessão do Pleno, veio um vendaval que levou o telhado e encheu de poeira os processos que esvoaçaram na ventania”, detalhou o então presidente do TJ.
De acordo com magistrado, a falta de estrutura e logística para acomodar e atender o enorme contingente de pessoas que vieram de todos os lugares do país não desanimou os pioneiros que transpuseram as adversidade com improviso, criatividade e união. “Para atender à população, já que não havia dormitórios e restaurantes, os ali residentes improvisavam colchões nas próprias construções que serviam de repartição, e tomavam refeições no chamado “Bandejão”, um barracão aberto dos lados e coberto de palhas (onde hoje ficam os Correios). Era o único “restaurante” que nos servia a todos: autoridades, funcionários e chegantes de toda parte do País. Mas, mas as posições elevadas não envaideciam os idealistas. Todos nós nos assentávamos às mesas toscas rodeadas de bancos, sem encosto. Era ali que se sentia a fraternal união dos pioneiros, no trabalho e nos ideais”, ressaltou.
O pioneiro encerrou seu relato enaltecendo as belezas da capital, e lembrando a força do trabalho coletivo em prol de um sonho. “Palmas já é a mais bela capital do Brasil amazônico! Seus palácios, seus jardins e sua estrutura arquitetônica, sobre o privilegiado lugar em que se firmam, a todos encantam! Ali tudo respira o vento puro da esperança. O trabalho de todos constrói o progresso que se irradia e avança as demais regiões tocantinenses! Belas recordações de uma cidade que vi nascer e – modéstia à parte – que ajudei a construir”, concluiu.
O publicitário, empresário e advogado Marcelo Silva, natural de Apucarana no Paraná, chegou a Palmas em 1990 movido pela curiosidade e sem qualquer expectativa profissional. “Estava morando em São José dos Campos e tinha acabado de sair do serviço militar obrigatório e a construção de Palmas era manchete nacional. Isso gerou em mim uma enorme curiosidade. Eu já trabalha com jornal e acabei vindo pra cá, mais por curiosidade, sem qualquer expectativa”, explicou.
De acordo com Marcelo, seu plano era apenas testemunhar o surgimento de uma cidade e retornar para um centro urbano como São Paulo ou Brasília. “Não tinha nenhuma expectativa, nem de trabalho. Eu esperava apenas testemunha o surgimento de uma capital. Mas quando cheguei havia muita oferta de trabalho. Eu queria ser jornalista e tinha muito espaço, muita oportunidade. Isso me chamou atenção”, disse.
O publicitário afirmou que para ele, as oportunidades se sobrepunham as dificuldades estruturais no inicio da implantação da capital. “As oportunidades minimizaram as dificuldades que tínhamos com a falta de estrutura. A gente relevava por causa da aventura e do dinamismo da vida de Palmas. As coisas aconteciam com muita rapidez. A carreira da gente evoluía muito rápido, a cidade crescia muito rápido e não dava tempo de fica chorando por a vida se processava numa velocidade intensa aqui”, declarou.
Questionado sobre sua realização profissional e pessoal, Marcelo afirmou que não poderia ter feito melhor escolha “eu me considero mais que realizado. Se eu tivesse escolhido outra cidade como Brasília, Goiânia ou São Paulo eu não seria tão realizado profissionalmente como me realizei aqui.
“Fiz uma carreira bacana no jornalismo, depois mudei para a publicidade e também fiz uma excelente carreira. Também sou advogado hoje, gosto de trabalhar com marketing politico, gosto de fazer cinema documentário e tudo isso tive a oportunidade de fazer aqui, pois a característica da cidade me permitiu nesses 28 anos. Isso foi fascinante, não sei se teria a oportunidade de viver nem a metade disse em outro lugar do Brasil ou do mundo”, finalizou.
“Eu me lembro de vir de ônibus e desci na JK. Estava com uma “borroca” nas costas. Eu e mais dois colegas e fomos procurar emprego. Naquela época o que nos encontramos foi uma terra pra colocar pra dentro de uma construção, e como estávamos sem almoçar conseguimos ganhar o dinheiro do lanche: pão com manteiga e biscoito e guardamos dinheiro para comer no outro dia”, disse à Gazeta o pioneiro que é Promotor de Eventos Pedro Gomes da Silva, que chegou em 1994.
O rio-verdense conta que passou pela construção civil antes de ser empregado pelo antigo Hipermercado Caçulinha e relatou as dificuldades encontradas até se estabelecer financeiramente “nós passamos cerca de 90 dias comendo arroz com pequi feito no fogão à lenha, de lá nos sentíamos o cheiro do churrasco que vinha de uma churrascaria que fica ali na antiga rodoviária” disse. Pedrinho como é conhecido, frisou que as dificuldades ficaram. para traz e que a veio para Palmas por acreditar no potencial da mais nova capital do Brasil “Não me arrependo de nada. Hoje Palmas é uma cidade muito boa, muito bonita uma cidade de oportunidades. Hoje está muito diferente, evoluiu muito, mas nós sempre acreditamos”, encerrou.