Reta Final é uma série de pequenos documentários feita pela Netflix. Em seus seis episódios, a produção aborda os sete dias que antecedem um grande evento – seja o lançamento de uma missão espacial ou o Desfile de Cães de Westminster.
Um desavisado pode passar pela série sem perceber que há um episódio exclusivo para o League of Legends. Mais especificamente, para as finais do Split de Primavera do Campeonato Norte-Americano (NA LCS).
Acompanhando desde as semifinais até a grande final entre Team Liquid e 100 Thieves, o documentário tenta explorar um pouco do crescente universo do eSport, ao mesmo tempo que se aprofunda em algumas das relações pessoais entre executivos e jogadores das organizações.
Em meio às emoções do campeonato, uma notícia abala a comunidade: os pais de Yiliang “Doublelift” Peng, principal peça da Team Liquid e um dos melhores jogadores do LoL norte-americano, foram esfaqueados por seu irmão, e sua mãe não resistiu aos ferimentos.
O baque, e principalmente a capacidade em capturar o momento em que Doublelift recebe a notícia, dão uma profundidade ainda maior ao episódio, criando uma narrativa de superação que termina da melhor maneira possível: Doublelift levantando o troféu da NA LCS.
Apesar de retratar de maneira bastante completa as emoções do jogador, o documentário falha em cumprir uma de suas propostas iniciais, que é introduzir e explicar o mundo dos eSports para um espectador leigo.
Focando apenas no League of Legends, o episódio chega a explicar a mecânica básica do game e menciona alguns números que comprovam sua relevância nos Estados Unidos. Entretanto, a Netflix mal menciona a existência de um torneio mundial; o próprio Mid-Season Invitational, campeonato internacional para qual a campeã da NA LCS se classifica, não é citado.
Em um panorama ainda mais abrangente, fala-se menos ainda sobre outros esportes eletrônicos: Dota 2, Counter-Strike: Global Offensive e outras modalidades praticamente não aparecem no documentário.
Dessa maneira, Reta Final quase funciona como uma introdução aos eSports para o público leigo, mas fracassa em mostrar algumas outras ramificações desse mundo. Para quem já é mais próximo do cenário, principalmente de League of Legends em específico, a produção tem o seu valor em mostrar um pouco da intimidade dos players, mas ainda assim tropeça nesse aspecto.
Naturalmente, Doublelift é o grande protagonista do episódio. Ele é o principal jogador do time campeão e também o centro do acontecimento mais marcante de todo o documentário. Entretanto, o resto da Team Liquid não recebe a mesma atenção: somente Kim “Olleh” Joo-sung possui mais destaque, já que tem uma relação mais próxima com Doublelift.
Com os outros times, esse retrato é ainda mais fraco: na 100 Thieves e naEcho Fox, os executivos Matthew “Nadeshot” Haag e Rick Fox são os maiores destaques. Até existe uma tentativa de mostrar a relação entre eles e seus jogadores, mas ela beira a vergonha alheia.
Nadeshot, influenciado por uma cultura de hip hop e streetwear, tenta impressionar os players com tênis novos e estilosas camisetas para as finais, mas a reação deles é bastante discreta. Fox até consegue arrancar algumas risadas do público ao acompanhar seu time em um jatinho particular, mas mostrar apenas essa cena dá um tom “forçado” à amizade que ele possui com os jogadores.
No fim das contas, o episódio de Reta Final consegue entreter durante seus 40 e poucos minutos, mas a produção parece ter se perdido entre as opções de foco para o documentário: a intimidade dos jogadores e executivos, o background de League of Legends e o cenário amplo de eSports são abordados, mas nenhum deles com uma profundidade satisfatória. Somente a tragédia de Doublelift fica sem pontas soltas ao fim do episódio.
Fonte: The Enemy