Para muitos brasileiros, visitar Fernando de Noronha é um sonho distante. Destino caro e longe de grandes capitais, viajar até a ilha é para muitos sinônimo de gastar mais do que com uma viagem para Europa.
Antes um destino mais associado ao ecoturismo, nos últimos anos, Noronha ganhou destaque nas redes sociais graças à famosos como Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso que costumam visitar a ilha.
Mas para “noronhar-se”, como eles dizem, é necessário planejamento. Primeiro, são duas taxas diferentes para visitar a ilha: a de preservação ambiental – paga de acordo com o número de dias de permanência – e a taxa de acesso ao parque nacional marinho – paga uma única vez e válida por dez dias.
Com o acesso garantido, o visitante pode fazer o agendamento das trilhas e das piscinas naturais. Sim, nem todas as atrações são de livre acesso. Por ser uma unidade de conservação, Noronha tem diversas regras para a visitação. O objetivo é um só: preservar a fauna e a flora do lugar.
“O que podemos dizer para o turista que chega na ilha é que ele tem que esperar algumas situações em que ele precisa se adequar a algumas normas necessárias de cuidado ambiental, pois o nosso principal foco, no momento, é a sua preservação”, diz Guilherme Rocha, administrador da ilha.
Agendamento concorrido
As regras de agendamento mudaram no fim de 2018. Atualmente, os turistas precisam fazer o agendamento no centro de visitantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com até seis dias de antecedência e é aí que muita gente se chateia.
Como as vagas são limitadas por dia, muitas pessoas deixam o agendamento para última hora ou tem pouco dias na ilha e nem sempre conseguem fazer o passeio que desejavam.
Outra reclamação comum é que o agendamento precisa ser feito presencialmente. Todos os dias a partir das 15h30 senhas são distribuídas e às 17h as vagas são abertas.
“Acho que é possível encontrar um outro mecanismo para democratizar esse acesso. Fizemos o agendamento no primeiro dia, vamos ficar seis dias e só conseguimos para o último, mas depois vimos que vai coincidir com o horário do voo. Então, eu também posso ter tirado a vaga de outra pessoa. Isso eu achei ruim”, diz a turista Paloma Braga.
O ICMBio é o responsável pelo agendamento e sabe das frustrações dos visitantes, mas tem como prioridade a preservação dos atrativos e a experiência do visitante. E isso muitas vezes significa ver algumas pessoas frustradas.
“Infelizmente nem todo mundo vai visitar os atrativos e isso é uma reclamação recorrente aqui. Mas é porque felizmente existe uma limitação na ilha. Só que o controle migratório que deveria ser feito, tanto do Estado quanto da gente, em relação ao acesso ao parque é uma questão super delicada”, diz Silmara Erthal, gestora responsável substituta do ICMBio.
“As pessoas se programam para vir a Noronha, o custo é muito alto e a ilha não comporta. Como fazer essa conta fechar?”, questiona Silmara Erthal, gestora responsável substituta do ICMBio.
Horário para descer e subir
As praias dentro do parque nacional marinho têm acesso controlado também pelo ICMBio e pela concessionária EcoNoronha. Uma vez que a taxa de acesso ao parque é paga, o visitante recebe um cartão para usar durante a estadia.
Toda vez que ele visita uma dessas praias, passa o cartão na entrada. Cada uma dessas praias protegidas tem suas particularidas. A praia do leão, por exemplo, fecha às 18h30 para que as tartarugas possam desovar em paz nas areias. Durante o dia, os turistas podem acessar à praia normalmente desde que não subam até a área dos ninhos.
Guarda-parques fazem este controle e alertam os visitantes durante a chegada.
Já na Baía do Sancho, que foi eleita a praia mais bonita do mundo, o acesso não é simples. Uma escada estreita passa por dentro da falésia e é a única forma de chegar na areia.
Para evitar as confusões de sobe e desce, o ICMBio estabeleceu uma tabela de horários de subida e descida. A norma causa estranheza em alguns, mas a maioria concorda que as medidas são necessárias.
“Eu acho o controle fundamental. As praias que precisam agendamento, nós não agendamos, optamos por ficar nas outras atividades. Se não tiver este controle, você vê que a coisa vai desandar. Por mais que muitas vezes a gente reclame e não goste, tem que ter”, diz a turista Juliane Quintas durante visita ao Sancho.
Proibido perturbar os animas
Em Noronha, a vida marinha é abundante e com um mergulho simples de snorkel é possível ver tartarugas, peixes, lagostas e até tubarões. Apesar da proximidade, não é permitido nadar intencionalmente com os animais nem tocá-los ou encurralá-los. Os guias costumam fazer este tipo de aviso o tempo todo.
Recentemente, a blogueira Luisa Sobral foi multada em R$ 5 mil após mergulhar para nadar com golfinhos. O que é proibido em Noronha. Os passeios de barcos costumam ter a companhia dos animais, mas não é permitido em momento algum deixar a embarcação para nadar próximo aos golfinhos.
Para Gabriela Campos, bióloga e única mulher guarda-parque na ilha, o trabalho com turistas pode ser desafiador: “É difícil porque o ser humano tende a querer ser prioridade, quer passar por cima dos outros. A maior dificuldade que a gente tem no campo é fazer com que as pessoas sigam as regras porque todo mundo acha que pode ser uma exceção”.
Preços altos
Como Noronha é uma ilha, as mercadorias chegam de avião ou barco e isso, é claro, tem um custo. Um refrigerante de dois litros pode custar R$ 13. A cerveja longneck tem preços que variam de R$ 9 a R$ 17, se for na praia da Conceição.
Por causa da área de proteção, a maioria das praias não têm estrutura de barracas e venda de comida e bebida na areia. As mais badaladas como Cacimba do Padre e Conceição são as poucas que oferecem esta opção e não têm acesso controlado.
Para ninguém passar aperto nas praias controladas, a EcoNoronha oferece em seus postos de controle lojinha de suvenir, aluguel de equipamentos, banheiro e lanchonete.
O aluguel do buggy, principal meio de transporte na ilha, fica em média R$250 por dia. Já o táxi tem o preço tabelado: em média uma corrida de menos de cinco minutos fica em R$24.
A busca pelo conforto
A alternativa é o ônibus que circula pela ilha e vai de uma ponta a outra. A passagem custa R$5 e diversos turistas optam por ele. A principal diferença é que depois de pegar o ônibus é preciso muitas vezes caminhar por alguns minutos para chegar até a praia.
O visual compensa o esforço. Para Silmara Erthal, o que se vê em Noronha hoje em dia é uma busca por um conforto que a ilha não tem como oferecer para todos.
“O visitante quer conforto, quer pegar seu buggy e seu carro e ir para os locais e essa é uma situação que antigamente não tinha. O visitante caminhava e usava transporte público. Hoje em dia, a maior parte das pessoas que tem condições financeiras não quer mais vivenciar, quer trazer a cidade para Noronha”, diz.
E completa: “O que se vê hoje é muito carro e o pessoal não tem esse contato de vir a Noronha, fazer as trilhas, ter esse tempo mais tranquilo, mas quer a comodidade maior. É gastar combustível, é poluição, ruído…”.
Outro problema para muitos é o sinal do celular que não pega em várias áreas e torna difícil a missão de postar as fotos no Instagram. Na Vila dos Remédios, área central da ilha, há wifi gratuito para quem quiser aproveitar a ida a um restaurante para fazer inveja nos amigos.
É quase como se a ilha te obrigasse a ficar offline para aproveitar tudo que ela tem para oferecer.
Serviço:
Consulte as regras para a visitação