Supermercado – Foto – Leo Martins/Agencia O Globo

A inflação dos alimentos desacelerou em março, mas não o suficiente para compensar o aumento dos preços desse grupo, que acumula alta de 13,87% em 12 meses. Em tempos como esse, os consumidores costumam recorrer à estratégia de fazer uma compra grande, uma vez ao mês, em busca de economizar no supermercado. Mas será que essa ainda é a melhor forma de reduzir as despesas?

Economista e professora do Ibmec-RJ, Ana Beatriz Moraes explica que o hábito de fazer compras de mês surgiu durante o período de hiperinflação, que ocorreu no Brasil nos anos 80 e início dos anos 90, em que o preço dos produtos podia subir consideravelmente no mesmo dia, e a inflação chegou a superar 80% ao mês.

— Nessa época, fazia muita diferença no bolso do consumidor a mesma cesta de produtos de um mês para o outro. Depois que esse momento passou, a compra de mês passou a significar comodidade, por ter os produtos estocados em casa — aponta a professora.

Atualmente, porém, a concorrência entre os supermercados faz com que, mesmo em momentos de inflação mais alta, haja uma disputa pelo consumidor, que acaba sendo favorecido com promoções. Nesse sentido, ir às compras com mais frequência pode significar mais oportunidades de encontrar ofertas e preços mais baixos.

— O Rio de Janeiro, por exemplo, é um dos estados com mais ações promocionais, porque a concorrência é muito grande. Temos uma capilaridade grande de vários tipos de varejo: supermercados, hipermercados, atacarejos, lojas de vizinhança e até as lojas de conveniência, que também disputam — explica o consultor de Varejo Marco Quintarelli, que brinca: — Isso faz com que o consumidor fluminense seja dos mais desleais, porque chega em casa com uma sacola de cada estabelecimento.

Ana Beatriz afirma que, se a renda permitir, vale a pena tentar fazer um estoque não muito grande de itens que são consumidos com frequência. No entanto, é importante ficar atento às ofertas, mesmo que isso signifique ir ao supermercado mais vezes:

— Vale a pena aproveitar dias de promoções, como o dia da carne, dia da feira, e procurar supermercados tradicionalmente mais baratos para os itens diários e não perecíveis. Atacados acabam sendo uma ótima opção para quem vai comprar em maior quantidade, mas pesquisar preços é fundamental.

A melhor estratégia para gastar menos

Do ponto de vista estritamente financeiro, as compras semanais são mais vantajosas pela sazonalidade das promoções e dos produtos em oferta. Mas também é importante ter cuidados e ficar ligado em algumas dicas.

— A compra de mês não faz sentido, muito menos quando é feita nos primeiros quinze dias, em que as coisas estão mais caras. As promoções dos supermercados acontecem mais no fim do mês, mas cada produto de uma vez. Assim, comprando aos poucos se conseguem preços melhores — diz André Braz, da FGV.

Os especialistas alertam, porém, que, para quem não é muito controlado, ir várias vezes ao supermercado pode significar gastar mais do que deveria.

— Tem gente que faz da ida ao supermercado um programa, ainda mais agora em tempos de isolamento social. E, assim, toda semana tem uma vontade diferente, o sentimento de ‘eu mereço’ e pagando aos poucos não percebe o quanto está gastando no total — afirma a planejadora financeira e especialista em finanças comportamentais, Paula Sauer.

A recomendação é fazer uma lista de compras e se ater a ela. E comprar produtos não perecíveis no supermercado em dias de desconto, e os perecíveis semanalmente em lugares mais baratos, como feiras.

Pesquisa de valores é mais fácil on-line

Com o crescimento das compras on-line, há quem ainda fique em dúvida se é mais vantajoso ou não usar a internet. Segundo especialistas, o espaço virtual é mais fácil para pesquisar preços e tende a ter mais promoções.

— Hoje em dia informação é tudo, e o consumidor pode inclusive usar aplicativos que comparam preços. Vale a pena aproveitar as ofertas de diferentes supermercados, se houver essa possibilidade — afirma Quintarelli.

Muitos mercados não cobram taxa de entrega, o que permite ao consumidor comprar em mais de uma empresa o que estiver com o melhor preço. E a comparação de produtos não perecíveis é simples: mesma marca, peso e preço. Já para os perecíveis, é preciso ver se o serviço entrega boa qualidade e atende ao desejado no momento.

— Às vezes o barato sai caro, se as frutas ou legumes já estão muito maduros e você não vai usar de imediato. Aí pode valer mais a pena comprar escolhendo bem o que deseja — afirma a planejadora financeira Paula Sauer.

 

 

Dólar e clima afetaram preços no Brasil

Economista do Ibre/FGV, André Braz afirma que entre os motivos para a alta dos preços dos alimentos está o câmbio, que impacta em produtos que são vendidos internacionalmente — as chamadas commodities —, como a soja e o trigo.

— O óleo de soja quase dobrou de preço em 12 meses pela valorização no mercado internacional. O trigo a mesma coisa, e eleva o preço de massas. O milho, que serve de ração, encarece também o o preço do frango. Outra questão do dólar é que quando o real desvaloriza, os produtos brasileiros ficam muito baratos, atraindo os compradores internacionais — explica o economista.

Com isso, segundo Braz, o mercado doméstico sofreu com o desabastecimento de alguns itens, reduzindo a oferta e, consequentemente, aumentando os preços.

— Teve também problemas na safra de feijão e arroz, que são o carro-chefe da alimentação no Brasil. Houve excesso de chuvas em algumas áreas e falta em outras — acrescenta.

 

 

Fonte – Extra Globo via Globo.com