Aumentaram os registros de casos novos de hanseníase no Tocantins em 2016. Foram 1.273 notificações, número 47% superior aos 862 casos novos notificados em 2015. O aumento é comemorado pela Secretaria de Estado da Saúde que avalia o resultado como reflexo do empenho dos serviços de saúde na disseminação de informações sobre a doença e do incentivo ao diagnóstico precoce e tratamento gratuito, a exemplo do projeto-piloto desenvolvido pelos municípios de Araguaína e Colinas do Tocantins sob tutela da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e supervisão da Secretaria de Estado da Saúde. O projeto estimula a busca ativa baseada no levantamento de casos que já tiveram diagnóstico em 2015 e 2016 e os diagnosticados em 2017, além da avaliação dos contatos domiciliares, de vizinhança e sociais dos casos diagnosticados. A estratégia é fortalecer a busca ativa feita pelos agentes comunitários de saúde e demais profissionais de saúde para identificação de casos ainda sem tratamento e encaminhamento a um serviço público de saúde.

 

Além disso, todos os serviços estaduais estão sendo orientados a disseminar em suas localidades mais informações sobre a doença e lembrar a população sobre a importância da detecção e tratamento precoce, em alusão ao domingo, 29, lembrado como o Dia Mundial de Luta contra a Hanseníase. Na ocasião, prédios públicos e privados parceiros da Saúde também usarão iluminação externa em tom roxo em alusão à Campanha de Luta contra a Hanseníase.

 

O objetivo da campanha é desmistificar a hanseníase. Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Tocantins, Mariana Alpino, ainda há situações em que o paciente pode sentir certa resistência quando recebe diagnóstico. “Infelizmente a hanseníase é uma doença estigmatizante, muito devido ao seu passado onde não havia um tratamento eficiente e os pacientes eram retirados do convívio da sociedade. Por esse motivo alguns pacientes ainda sentem um pouco de constrangimento em buscar o remédio na unidade de saúde, mas é com informação que se gera esclarecimento”, explica a médica.

 

No consultório

É com a informação que o paciente passa a compreender que somente o tratamento garante a interrupção da transmissão do bacilo que causa a doença impedindo a contaminação dos contactantes. “Existe, sim, um risco de transmissão aos contatos do portador da hanseníase que não fazem tratamento e pode acontecer até mesmo no período de incubação da doença, que pode durar anos com poucos sintomas”, pondera Dra Mariana Alpino.

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Ainda de acordo com a médica, é preciso atenção, pois a hanseníase pode apresentar diferentes sinais. “Desde manchas mais claras que o tom da pele, podendo ou não ter alteração da sensibilidade, ou manchas mais vermelhas e até mais altas do que a pele normal. A orelha pode ficar mais inchada. Pode ocorrer a queda do pelo da cauda da sobrancelha, nódulos nas pernas ou nos braços, diminuição da sensibilidade da região plantar e até dormência de algum membro, o que já é um sinal de alerta”, explica a médica.

 

Sobre o tratamento, a médica explica que é muito importante buscar orientação para avaliar possíveis reações e evitar interrupções. “O risco para quem abandona o tratamento é o de a doença continuar evoluindo e o paciente voltar a ser contaminante. Além disso, o bacilo pode se tornar mais resistente e, em longo prazo, não ser responsivo à medicação”, alerta. Nestes casos, a orientação é sempre conversar com o médico para avaliar reações que possam ocorrer ao longo do tratamento. “É importante lembrar que as reações podem ser passageiras sendo muito importante não abandonar o tratamento, pois ele é a única maneira de evitar que a doença evolua e que o paciente volte a ser contaminante”, completa a dermatologista.

 

Para os casos em que o diagnóstico aconteça tardiamente, a fisioterapeuta Suen Oliveira, assessora Técnica da Hanseníase, explica que a reabilitação pode auxiliar no tratamento, mas frisa a importância da atenção aos primeiros sinais da doença para que sejam evitadas sequelas irreversíveis, especialmente, em crianças e adolescentes. “A criança ainda tem a imunidade em formação e em contato com o portador da hanseníase sem tratamento ela pode adquirir o bacilo e tem ainda probabilidade de desenvolver mais rápido essa doença e desenvolver sequelas, assim como o adulto, mas que quando adquiridas na infância vão interferir em toda a fase produtiva da vida”, pondera a fisioterapeuta. Ainda segundo ela, as sequelas mais comuns são a mão em garra e o pé caído. “A mão em garra é quando a mão fica com os dedos em flexão se não for feito o tratamento precocemente e precisa ser submetida à correção cirúrgica. No caso dos membros inferiores a sequela mais comum é o pé caído, que é o pé que precisa ser arrastado no caminhar”, detalha Suen Oliveira.

 

Para as duas especialistas, a recomendação é ficar atento aos primeiros sinais de manchas ou alteração de sensibilidade na pele e procurar a unidade de saúde mais próxima para garantir o início do tratamento imediatamente e a interrupção do ciclo de transmissão da doença.