Criado pela viajante Rebecca Aletheia o projeto tem o objetivo de incentivar mulheres negras a conhecer não só o mundo, mas também suas próprias cidades, empoderando-as, desta forma, a aumentar sua visibilidade e autoestima. Em dezembro de 2018 na praia da Enseada no Guarujá, litoral sul de São Paulo, foi organizado o primeiro encontro das mulheres do projeto. Quatorze viajantes de diferentes lugares transformou a praia num grande escritório para pautar questões de negritude feminina no espaço turístico.
Bitonga é uma língua bantu de tronco nígero-congolês, mais especificamente da região do Inhambane, no Moçambique. Acentuada e belíssima traz consigo traços fonológicos semelhantes aos sons do português brasileiro.
Uma questão em comum a todas as participantes foi a de que mulheres negras não se sentem representadas pelo turismo, sendo muitas delas por vezes excluídas e desconsideradas por funcionários das redes hoteleiras. “Reunir mulheres negras viajantes da América Latina e Caribe têm significado para outras mulheres. Muitas vezes elas se veem sozinhas no espaço de viagem. Isso acontece porque é difícil encontrar mulheres negras viajando por conta da própria economia. Uma mulher negra recebe menos que uma mulher ou homem branco, elas estão nas periferias, não têm acesso ao centro da cidade, cuidam das casas, dos filhos, da família, da mãe, pagam aluguel, ou seja, são vários os fatores que impedem”, explica Rebecca Aletheia, que já viajou por diversos países.
A condição da mulher negra citada por Rebecca justifica-se em números. Em março de 2018 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que se para as mulheres brancas a queda na ocupação de postos de gerência foi de 1,2 ponto percentual entre 2012 e 2016 — passando de 39,7% para 38,5% dos cargos —, para as negras foi de 4,7 pontos no mesmo período — caindo de 39,2% para 34,5%. As mulheres negras também têm salários menores, tanto em relação a homens e mulheres brancos quanto em relação a homens negros. Segundo estudos, as mulheres que conseguem delegar mais as tarefas domésticas são as de classes sociais mais altas, em sua maioria mulheres brancas. Portanto, uma mulher negra viajar pelo globo terrestre, e sozinha, é uma forma de ascensão social e de diminuir margens.
Mas o projeto lembra que viajar não é somente se deslocar para o exterior, fazer um plano de viagem, hospedar-se num hotel de prestígio. Viajar vai muito além disso. Viajar é sair da própria região e ir para o centro da cidade, viajar é visitar nossa tia na cidade vizinha, ou quando visita-se o bairro em que cresceu. Segundo Rebecca, outros encontros acontecerão e as experiências e vivências dessas mulheres poderão ser conferidas pelas redes sociais. O projeto vai unificar essas vivências e reforçar o conceito de mulher negra circulante que quer ocupar os lugares que lhe foram negligenciados.
Saiba mais sobre o projeto:
Fonte: Mundo Negro