Manoel Soares da Silva, de 67 anos, pai de Valbiano Marinho, que é o principal suspeito de matar o policial militar Anamon Rodrigues de Sousa em Miracema, revelou em depoimento antes de sua morte, no sábado, 5, que sofria frequentemente ameças do filho dentro da própria casa. Manoel destacou que temia o filho e afirmou que assumiu ser o dono de uma arma encontrada na casa da família porque acreditava que seria agredido por Valbiano se dissesse que a arma era dele.

“O que ele [Valbiano] dizia pra mim é o seguinte. Que se a polícia chegasse dizer que aquela arma era dele. Cuma ele falou com a polícia lá no momento, eu fiquei até sem jeito de… se eu falasse que essa arma era dele eu ia ver o que ia acontecer comigo. E eu já sou uma pessoa de idade, eu tenho medo de apanhar, de ser machucado. Ainda mais por esse tipo de gente, tá entendendo?”

O depoimento foi feito minutos antes de Manoel e outro filho dele, Edson Marinho, serem executados dentro da delegacia. Um grupo de 15 homens encapuzados invadiu o local, rendeu a equipe da Polícia Civil e matou os dois com “incontáveis” tiros de vários calibres, conforme relatório preliminar do Instituto Médico Legal.

Os vídeos dos depoimentos foram revelados pelo Jornal do Tocantins.

Mais sobre o depoimento

Manoel disse ainda que nunca tinha tido problemas com a polícia e que tentava orientar o filho para que arranjasse um trabalho.

“Se eu lhe disser que eu já fui preso ou processado eu tô mentindo. Nunca na minha vida. E se hoje eu tô aqui é por conta de filho errado, eu nunca ensinei ele fazer nada desse tipo de coisa. Que sempre eu dou conselho pra ele: meu filho vai trabalhar, você larga esse tipo de coisa de mão, que isso aí é complicado e é feio pro seu pai”.

Lei trechos do depoimento:

Delegado José Lucas Melo da Silva: Houve um conflito, primeiramente no qual foram baleados o Edson, filho do senhor, né que foi atingido por um disparo, e um policial militar o sargento Anamom, que terminou vindo a óbito. O senhor recorda mais ou menos que horas foi que começou esse tumulto lá na frente da sua residência?

Manoel Soares da Silva: Doutor, para lhe falar a verdade eu não recordo muito bem porque eu estava lá para dentro de casa para bem dizer, deitando na minha cama, quando escutei só o barulho. Só o barulho para o lado de fora. Para lhe dizer. Se eu disser que eu vi esse problema eu estou mentindo para o senhor. Eu nem sei que horas foi também. Nem prestei atenção no celular.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Certo. E depois desse barulho o senhor chegou a sair para ver o que é que tinha acontecido?

Manoel Soares da Silva: Eu saí para ver e já encontrei o meu menino derramando sangue lá na área, lá em casa. ‘me acode, me acode, me acode’. Somente.

Outro vídeo mostra o que o Edson Marinho disse ao delegado. O homem contou que um grupo armado que estava em uma área de mato atirava na direção da casa do pai.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Você foi atingido com um disparo de arma de fogo hoje?

Edson Marinho: Sim, senhor.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Como é que foi esse tiro? Aconteceu onde isso aí, Edson?

Edson Marinho: Esse acontecimento aconteceu na casa do meu pai.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Dentro ou fora?

Edson Marinho: Foi fora. Eu moro em uma casa abaixo, na mesma rua e eu escutei aquele mundarel de tiro e sabe como é filho. E eu corri para lá para ver o acontecimento e corri para a frente da casa lá e tinha um pessoal dentro do mato. Mu pai tem um plantio de mandioca, tinha um pessoal atirando de dentro para fora. E uma bala dessa pegou logo em mim. E fui direto para o hospital.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Tu foi atingido por quantos disparos?

Edson Marinho: Só um. Na perna. Na coxa esquerda.

Delegado José Lucas Melo da Silva: E esse pessoal que estava atirando você disse que estava no mato?

Edson Marinho: Estava no mato. Esse pessoal estava no mato.

Delegado José Lucas Melo da Silva: Tu chegou a ver quantas pessoas?

Edson Marinho: Eu não vi. Foi comentado pelo pessoal que estava lá. Os vizinhos viram também um carro parado com dois homens dentro.

Segundo o delegado-geral da Polícia Civil, Claudemir Ferreira uma força-tarefa vai “empenhar todos os esforços possíveis para poder desvendar esses episódios ocorridos em Miracema”.

O delegado ainda destacou que não há indícios do envolvimento de Manoel e Edson na morte do PM. “No primeiro momento não foi identificada nenhuma relação de prática criminosa por essas pessoas em períodos anteriores”, disse.