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A vida de Tico

Tico vivia intocável, inabalável em seu cercado, rodeado de fêmeas, em verdadeira relação poligâmica. Ninguém o confrontava. Como um autêntico sultão, carregado de poder, ditava as regras e determinava as direções. Sempre que ia ao campo, para passear, observar a natureza ou mesmo para se alimentar, era ele quem conduzia a caravana. Vivia em um amplo terreno e podia fartar-se por longas horas durante o dia. Nada fugia de seu controle. Quem ousasse desviar ou desgarrar, era imediatamente pressionado por ele, sempre vigilante e atento ao que julgava ser seu. Desde os três meses de idade, Tico habituou-se em conviver com o gênero feminino, o que de certa forma forjou sua identidade. E pasmem, mais do que isso, formou também uma identificação. Quer por força ou opressão, acabava por ser correspondido.

Tico e seu bando – Foto – Divulgação

Primeiras impressões

Conheci Tico em uma tarde de outono. Confesso que desde o início tivemos uma relação complicada. Era arredio e não aceitava minhas orientações. Por ter de tomar conta daquele ambiente era necessário impor algumas regras. Era justamente aí que o intransigente Tico dificultava a minha lida. Como um adolescente, desses que se criam soltos, não topava com a minha presença e invariavelmente andávamos às turras.

Como todo ser teimoso, Tico era fechado, nada afeito ao diálogo. Ignorava todos os meus meus argumentos. Então, movido por uma enorme teimosia, talvez também por sentir-se ameaçado,  com medo de perder o controle da situação, passou à confrontar-me. Não chegamos às vias de fato, mas o respeito estava sempre em risco. Ainda que alguma coisa saísse fora do controle, Tico, sentindo-se o verdadeiro e único comandante, tratava logo de proteger as suas donzelas. Olhava-me como um inimigo, como se eu fosse lhe roubar o harém.

Entendendo o Tico

Os dias foram passando, sempre com a impoluta e forte presença de Tico, que pelo gênio difícil, sempre arengava com alguém. A vida não era tranquila diante da sua presença, mas nada que não pudesse ser evitado ou apartado, para o bem comum da comunidade. Seu temperamento ácido não permitia tempos de paz. Eram pequenas tréguas, somente, rapidamente quebradas pela insensatez e arrogância, como se fossem carapaças a esconder sua insegurança. Tico me desafiava o intelecto. Até quando estávamos longe um do outro, roubava meus pensamentos. Cheguei a imaginar que Tico pudesse ter sofrido algum trauma na infância, ou que pudesse existir alguma dúvida quanto às suas escolhas de vida.

O apogeu de Tico

O clima estava agradável e Tico se sentia cada vez mais dono de si. Para sua sorte e deleite, seu harém aumentara de tamanho. Tornou-se soberbo. Sentia-se o todo poderoso. Nada o ameaçava, talvez nem mesmo a minha necessária presença. Aos poucos, até eu me adaptara à excentricidade de seu gênero. Mas quando alguém se atrevia a chegar perto das suas fêmeas, Tico tratava logo de pôr para correr.

Amanhã tem mais

Infelizmente o espaço é curto. Mas na coluna de amanhã, vamos contar o final da história de Tico. Detalhes de sua vida em meio ao sexo oposto, seu caráter, suas escolhas e o desfecho inesperado de sua vida. Não perca o final desta encantadora e verídica história! Até amanhã!

Por Gilberto Correia – Jornalista, poeta, escritor e professor universitário.