
Um marco histórico para a cultura indígena brasileira foi celebrado nesta quarta-feira (29) na Aldeia Koprer, em Itacajá no Tocantins. O povo Krahô celebra a abertura do Cinema Comunitário Krahô, a primeira sala de cinema construída dentro de uma Terra Indígena do Brasil.
O sonho começou a ganhar forma há mais de uma década, quando a jovem Ilda Patpro Krahô participou das primeiras oficinas de audiovisual do coletivo Mentuwajê Guardiões da Cultura. Nos últimos anos, Patpro foi roteirista e atriz do filme A Flor do Buriti, e viajou com a obra por diversos festivais de cinema. Essa experiência despertou nela o desejo de trazer os filmes — e o público — para dentro de sua própria aldeia.
“Hoje temos televisão, celular e internet nas aldeias. Mas as histórias que vemos ainda são as histórias do branco. Quando estive nos festivais de cinema, senti a alegria de ver nossas imagens nas telas. O cinema é diferente — é um lugar de encontro, onde tem espaço para nossas memórias e nosso olhar. Quero que as crianças Krahô possam lembrar sempre dos mais velhos e que, sentadas no nosso Cinema Comunitário, possam imaginar o futuro a partir da aldeia e de nossas imagens.” — Ilda Patpro Krahô.

O Cinema Comunitário Krahô está localizado na aldeia Koprer e terá uma programação regular organizada pela comunidade. Está também em construção um acervo audiovisual, reunindo quase um século de registros sobre os Krahô e outros povos indígenas do Brasil. Esse material ficará disponível em uma rede interna da aldeia, podendo ser projetado a qualquer momento na tela do cinema.
A partir de 2026, a aldeia vai receber encontros regulares de cinema, realizados em parceria com festivais e instituições culturais de todo o país.
“Queremos receber nossos parentes de outros povos, com seus filmes e suas histórias. Tem lugar para todo mundo no nosso Cinema.” — Ilda Patpro Krahô.
O cinema foi construído pela própria comunidade, contando também com a participação de trabalhadores do município de Itacajá.
O Cinema Comunitário Krahô foi feito em parceria com as cineastas Renée Nader Messora, João Salaviza, Julia Alves e Ricardo Alves Jr. O projeto arquitetônico foi desenvolvido em diálogo com o arquiteto Thiago Benucci, e contou também com Simone Giovine, que acompanhou a construção do espaço.
O projeto arquitetônico busca reinventar o que pode ser uma sala de cinema em um contexto de aldeia. Propõe uma arquibancada escavada no próprio solo, coberta por um grande telhado, mantendo as laterais permeáveis à ventilação natural e também à circulação das pessoas e à visão dos arredores. Assim, busca se inserir de maneira respeitosa na paisagem e na comunidade.
“O Cinema Comunitário Krahô, aqui na aldeia Koprer, é mais um instrumento de luta pela autodeterminação, pela preservação da memória coletiva e pela afirmação cultural do povo Krahô.” — Renée Nader Messora e João Salaviza
O Cinema Comunitário Krahô está equipado com um projetor digital de alta definição. A sala comporta aproximadamente 150 pessoas, que podem assistir aos filmes sentadas nos bancos corridos de madeira ou deitadas em redes penduradas ao redor — de onde é possível ver a tela, o pátio da aldeia e o céu estrelado do Cerrado.